Eleições EUA: Quem é Kamala Harris?

Conheça a candidata à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
Manuela Schenk Scussiato
|
28/10/2024 - 12h

Kamala Devi Harris nasceu em Oakland, Califórnia, em 20 de outubro de 1964, filha de imigrantes que marcaram profundamente sua trajetória pessoal e profissional. Sua mãe, Shyamala Gopalan, era uma pesquisadora de câncer de mama indiana, e seu pai, Donald Harris, é um economista jamaicano, professor emérito de economia da Universidade de Stanford. Harris cresceu ao lado de sua irmã, Maya Harris, que também seguiu uma carreira de destaque como advogada e figura política.

Durante sua infância, Harris se mudou para Montreal, no Canadá, onde sua mãe lecionava na McGill University. Foi lá que concluiu o ensino médio. Após essa temporada no Canadá, retornou aos Estados Unidos para cursar ciências políticas e economia na Howard University, uma universidade historicamente negra em Washington, D.C. Posteriormente, formou-se em direito na University of California, Hastings College of the Law, em San Francisco. Kamala é casada com o advogado Doug Emhoff e não tem filhos.

Carreira jurídica 

Kamala Harris iniciou sua carreira jurídica em 1990, como procuradora-geral adjunta no condado de Alameda, Califórnia, onde atuou até 1998. Em seguida, trabalhou na divisão criminal do Escritório da Procuradoria-Geral de São Francisco, até que, em 2003, foi eleita procuradora-geral de São Francisco, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar essa posição. Ela foi reeleita em 2010 e, logo depois, foi eleita procuradora-geral da Califórnia, função que exerceu com destaque até 2014, quando foi reeleita.

Sua atuação como procuradora-geral da Califórnia a trouxe grande visibilidade, especialmente por seu rigor no combate a fraudes hipotecárias durante a crise imobiliária. Harris liderou um acordo bilionário com cinco grandes bancos dos EUA para compensar os californianos prejudicados pela bolha imobiliária. Além disso, ela lançou iniciativas para combater o tráfico de pessoas e a violência doméstica, ampliando as proteções para as vítimas desses crimes.

Apesar de sua imagem progressista, sua carreira jurídica também foi marcada por controvérsias. Kamala enfrentou críticas pela sua postura rígida em relação ao encarceramento em massa, principalmente de minorias. Sua defesa de sentenças rigorosas para crimes não violentos relacionados às drogas e a hesitação em investigar má conduta policial tornaram-se alvos de protestos de ativistas de direitos civis. 

Outro ponto controverso foi sua decisão de defender, em tribunal, a prática de trabalho prisional forçado, argumentando que a redução da força de trabalho carcerária poderia impactar o orçamento do estado. Esses episódios tornaram sua gestão alvo de críticas de ativistas por justiça social e racial, apesar de seus esforços em outras áreas, como a proteção ao consumidor e os direitos das mulheres.

Carreira política

A ascensão política de Kamala Harris começou em 2016, quando foi eleita senadora pelo estado da Califórnia, sucedendo Barbara Boxer. Como senadora, Harris destacou-se como uma voz firme da oposição ao governo de Donald Trump, especialmente em questões relacionadas à imigração, saúde e justiça social. Sua atuação nos comitês de Justiça, Inteligência e Segurança Interna foi crucial em investigações de grande relevância nacional, consolidando sua imagem como uma defensora dos direitos civis.

Harris ganhou notoriedade durante as audiências do Senado, particularmente nas interações com altos funcionários do governo Trump e indicados à Suprema Corte, como o ex-procurador-geral Jeff Sessions e o juiz Brett Kavanaugh. Seu estilo de questionamento incisivo chamou a atenção tanto de democratas quanto de republicanos, fortalecendo sua posição como uma liderança nacional.

Em 2020, Harris tentou disputar a presidência dos Estados Unidos, mas sua campanha enfrentou dificuldades, levando os democratas a optarem por Joe Biden como candidato e Harris foi escolhida como sua vice na chapa presidencial. 

Kamala Harris como vice-presidente de Joe Biden durante a corrida eleitoral de 2020. Foto: Reprodução/Patrick Semansky
Kamala Harris como vice-presidente de Joe Biden durante a corrida eleitoral de 2020.
Foto: Reprodução/Patrick Semansky

A eleição de 2020 resultou na vitória de Biden e Harris, tornando-a a primeira mulher negra, de ascendência indiana e jamaicana, a ocupar o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos.

Kamala Harris tem uma relação complexa com o Medicare for All, um projeto de saúde defendido pelo senador Bernie Sanders que visa garantir cobertura universal. Inicialmente, Harris apoiou a proposta e foi coautora da legislação enquanto senadora, destacando-se entre os progressistas por seu envolvimento em políticas de reforma da saúde. Em 2019, durante sua campanha para a presidência, ela parecia abraçar a ideia ao afirmar que o Medicare for All eliminaria as seguradoras privadas, o que atraiu tanto apoio quanto críticas.

No entanto, a posição de Harris mudou com o tempo. A campanha de 2020 revelou dificuldades em manter a postura firme sobre o tema, especialmente diante da resistência de certos setores do eleitorado e de líderes trabalhistas preocupados em perder os planos de saúde negociados com empregadores. Harris, então, propôs um plano que manteria as seguradoras privadas em uma transição mais lenta para o Medicare for All, o que foi criticado por Sanders, que argumentou que essa proposta não representava o verdadeiro espírito do programa.

Essa mudança gerou críticas não apenas dos republicanos, mas também de progressistas, que viram isso como uma forma de Harris suavizar sua postura. Em 2024, a campanha de Donald Trump reviveu essa polêmica, usando a alteração da posição de Harris como um ponto de ataque, acusando-a de ser uma "vira-casaca" em relação ao seu apoio inicial ao Medicare for All. Hoje, Harris apoia melhorias no Affordable Care Act (Obamacare), que é a abordagem defendida por Joe Biden, evitando a ideia original de um sistema de pagador único.

Trump e seus aliados têm se esforçado para usar essa inconsistência para retratar Harris como uma liberal radical e, ao mesmo tempo, alguém que foge das suas próprias posições. Isso se tornou uma parte central da estratégia republicana para enfraquecê-la nas eleições de 2024, reacendendo um debate que muitos pensaram estar encerrado com a vitória de Biden.

Posicionamento político

Kamala Harris construiu sua carreira política com base em posições progressistas, sendo uma defensora fervorosa dos direitos das mulheres, da comunidade afro-americana e da comunidade LGBTQIAPN +. Em 2008, quando atuava como procuradora-geral de São Francisco, Harris teve um momento marcante ao oficializar o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo na Califórnia, logo após a queda da Proposição 8, que proibia o casamento homoafetivo no estado.

No Senado, ela foi uma voz ativa na defesa da igualdade de gênero e racial, além de apoiar políticas de controle de armas e reforma da justiça criminal. Harris também se posicionou favoravelmente à reforma imigratória, defendendo a criação de um caminho para a cidadania de imigrantes indocumentados e criticando as rígidas políticas de deportação em massa.

Em sua campanha presidencial de 2024, Harris apresentou propostas econômicas focadas na redução dos preços dos alimentos, na tributação e no acesso à moradia. Entre suas iniciativas estão a construção de 3 milhões de novas unidades habitacionais e a criação de incentivos fiscais para construtoras, além da redução dos custos de medicamentos e do perdão de dívidas médicas. Sua política externa reflete uma continuidade com a administração Biden, em especial no que se refere ao apoio a Israel e à busca por soluções diplomáticas no Oriente Médio.

Harris também expressou a intenção de nomear um republicano para seu gabinete, caso eleita, em um esforço para promover a diversidade de opiniões e retomar a tradição bipartidária de inclusão na tomada de decisões governamentais. Como candidata à presidência em 2024, ela traz uma plataforma focada em justiça social, econômica e racial, com a promessa de continuar sua luta por um sistema mais justo e igualitário para todos.