por Laura Pancini
Presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Wikimedia Commons)
Momentos de instabilidade econômica se refletem diretamente na popularidade do presidente. Em dezembro de 2019, a expectativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, era que o crescimento do PIB dobrasse em 2020, saltando de 1,2% para 2,4%. Agora, em junho, sabemos que isso está longe de se tornar realidade: o Banco Mundial, por exemplo, já estima uma queda de 8% no PIB brasileiro. Tais previsões não são positivas para o presidente Jair Bolsonaro, que até o final de maio acumulava 40 pedidos de impeachment na Câmara por motivos que vão além do aspecto econômico.
De acordo com pesquisa do Datafolha feita também no fim de maio, 43% da população considera o governo do presidente ruim ou péssimo, com um aumento de cinco pontos percentuais em comparação com abril. Essa mudança de opinião é um destaque entre quem ganha mais de dez salários mínimos, que agora é um dos grupos que mais o rejeitam, com 49% qualificando o governo como ruim ou péssimo. Com isso, o Brasil fica cada vez menos dividido em suas opiniões sobre Bolsonaro, que avançam para o polo negativo.
Já no caso de um impeachment, o país se encontra polarizado: 50% dos entrevistados acham que não deveria acontecer, enquanto 46% defendem o afastamento. A opinião sobre uma possível renúncia do presidente também é dividida. Os protestos que ocorreram no dia 31 de maio são um exemplo concreto dessa desarmonia entre a população: o encontro de manifestantes anti e pró-Bolsonaro na Avenida Paulista desencadeou uma briga entre os dois lados, com presença policial e o uso de bombas de gás lacrimogêneo.
Um processo para tirar um presidente da República do poder precisa, em primeiro lugar, determinar se o mandatário cometeu algum crime de responsabilidade. No caso de Bolsonaro, os pedidos de impeachment apresentam motivos variados, incluindo manifestações antidemocráticas, quebra de decoro, tentativa de interferência na Polícia Federal, posicionamento perante o coronavírus, entre outros. Cabe ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliar se houve mesmo algum crime cometido por Bolsonaro, mas o parlamentar tem afirmado que não seria ideal prosseguir com um processo no momento.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), acredita que é impossível uma saída sustentada da crise enquanto Bolsonaro estiver na Presidência. Unindo-se ao PCdoB, PSOL, PCB, PCO, PSTU e UP, além do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Articulação dos Povos Indígenas, o PT entregou no final de maio um pedido que tenta ser o mais amplo de todos os protocolados até então. Além disso, o partido pretende aprovar uma emenda constitucional determinando eleições diretas após o impeachment, para evitar que o vice-presidente, Hamilton Mourão, assuma o cargo. “Bolsonaro não tem capacidade ou condições políticas, administrativas nem humanas de governar o Brasil”, afirmou Hoffmann em entrevista à Agência Pública.
O ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL), que renunciou após ameaças de um possível impeachment no início dos anos 90, afirma que não gostaria que o presidente Bolsonaro passasse pelo mesmo, para evitar uma comoção no país. Apesar de ter votado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, ele afirmou: “Quando falo de impeachment, sou contrário. Esse processo foi vulgarizado, pelo que ocorreu comigo e com a presidente Dilma”.
O futuro político e social do Brasil é inconclusivo, mas economistas já tentam prever o que pode acontecer caso Bolsonaro seja afastado. Muitos acreditam que as chances de um processo seguir são remotas, mas, de acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, tal acontecimento já está no radar do mercado financeiro. “Não dá para descartar uma queda de 7% a 8% do PIB este ano, assim como o dólar a R$ 6, especialmente se houver a saída de outros ministros”, disse Vale, em entrevista a O Estado de S.Paulo, pouco depois da demissão de Sérgio Moro da pasta de Justiça e Segurança Pública.
Em abril, Paulo Guedes admitiu que o PIB brasileiro deve cair 4% caso a crise do coronavírus se estenda após julho. Com mais de 1 milhão de casos confirmados, 50 mil mortes, taxas de isolamento social abaixo da média e a postura antiquarentena do presidente Bolsonaro, a esperança de que o Brasil supere o coronavírus e não enfrente provavelmente sua maior recessão é baixa.
José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, diz que os preços dos ativos financeiros, como as ações e o dólar, por enquanto não demonstram uma aposta no afastamento do presidente. “A eventual abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro não está na conta do mercado”, afirma ele. “O presidente tem se comportado em função do otimismo global, com a abertura das economias a partir do esperado recuo da pandemia. É um comportamento persistente e que preocupa.”
Na visão de Gonçalves, um processo de impeachment eleva drasticamente a incerteza e, portanto, afetaria os preços dos ativos e acirraria a volatilidade. “A bolsa voltaria a andar para os 60 mil pontos e o dólar iria para R$ 6,00”, prevê o economista. “Isso dificultaria que famílias e empresas decidissem por consumir e produzir, o que leva ao prolongamento e aprofundamento da recessão a partir de um nível já muito ruim.”
Já para o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), o impeachment teria um impacto positivo. Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que, com o avanço do impeachment, o mercado consideraria isso no preço dos ativos e, consequentemente, haveria uma melhora na economia e na confiança da população. “A gente já viu esse filme no passado”, afirmou Schwartsman.