“É uma maneira de ver o mundo”, diz cartunista Renato Aroeira sobre o impacto social das suas charges

por
Marcelo Fernando Pereira Moreira
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07/04/2021 - 12h

Renato Aroeira é chargista, caricaturista e músico. Sua história na charge política começa no Jornal de Minas. De lá para cá, já alcançou alguns destaques por seus trabalhos críticos, como a conquista de uma edição especial do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes prêmios da comunicação brasileira. Suas artes são publicadas no site Brasil 247 e em suas redes sociais.

Em entrevista aos alunos do curso de jornalismo da PUC de São Paulo, Aroeira afirmou acreditar na mídia livre e disse que a charge é uma forma de expressar opinião e divertir o público, mas que isso não pode ser feito de qualquer jeito.  

“Na charge, você deve ter a mesma preocupação que um repórter tem com uma matéria, que é de ser preciso com o que você está dizendo. Se for uma coluna de opinião, que fique claro que é de opinião. A charge é de opinião. Então, é claro que aquilo é a minha opinião. Os elementos que consideram essa opinião estão dentro da charge. O humor simplificado tende a ser um humor muito rasteiro e tende a trazer um sorriso muito mais fácil. Prefiro complicar”, disse.

Historicamente, a forma de a charge chegar até o público sofreu grandes transformações. Não seria diferente, já que a evolução dos meios de comunicação mudou a maneira de se comunicar no mundo. Aroeira falou sobre como essa mudança impactou nos feedbacks do trabalho. Hoje, por meio da internet, suas produções são alcançadas por milhares de pessoas.

“Os comentários aparecem instantaneamente. Isso é toda diferença do mundo. No período de 30 anos, você fazia uma charge que falava de uma coisa de três, quatro dias atrás e era comentada com uma semana depois, ou seja, dez dias no processo, para uma coisa instantânea. Então, agora, é em tempo real”, completou.

Por seu estilo um tanto ousado, o cartunista, de 66 anos, já sofreu ameaças e foi até acusado de calúnia. Em 2020, o então ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, solicitou a abertura de inquérito contra Aroeira, devido à publicação de uma charge que usa a suástica nazista para se referir ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mas essas são só algumas das polêmicas envolvendo o artista.

Em meio ao caos da pandemia de coronavírus, Renato Aroeira se destaca por suas charges, que mostram o comportamento do governo brasileiro no cenário da crise sanitária. Os desenhos do chargista revelam o posicionamento negacionista das autoridades nacionais. Embora ele diga que “nem de longe é o chargista quem muda o mundo”, Renato Aroeira compartilha  indignações representadas por meio de caricaturas.

“Eu já faço isso há mais de 40, 50 anos. A charge é uma maneira de ver o mundo, antes de qualquer outra coisa. O que eu espero, quando eu publico uma charge, é que as pessoas se divirtam, mas que olhem para aquilo que eu estou apontando, que gostem de mim, mas que também entendam que a minha charge é para fazer rir, mas ela também tem um gosto amargo, no geral”, finalizou.

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