Em uma manhã de um quinta-feira típica paulistana, com frio, garoa e um trânsito intenso na Marginal Tietê, o prédio do jornal O Estado de S. Paulo, localizado no bairro do Limão, abriu as portas para estudantes de jornalismo conhecerem como a empresa funciona e resiste a um momento de pós-pandemia.
Guiados por uma das editoras executivas e também professora da FAAP, Luciana Garbin, os alunos conheceram brevemente a história do jornal e visitaram a gráfica, a redação e o acervo do Estadão. Puderam também acompanhar os bastidores do jornal que agora trabalha de uma forma híbrida e remota, com menos funcionários.
A visita se iniciou em um pequeno salão, ainda fora do prédio, que tinha máquinas e monumentos históricos sobre o jornal. Segundo Garbin, ainda que o Estadão tenha sido fundado com base nos ideais de um grupo de republicanos, o primeiro exemplar foi produzido por escravizados libertos e que ainda tiveram que consertar a máquina, o que teria adiado a distribuição para 4 de janeiro de 1875 ao invés do primeiro dia do ano.
Após o salão, Wagner Fabrim, coordenador de processos da gráfica, recebeu os futuros jornalistas e explicou como se dava o processo de impressão do jornal. Primeiramente, Fabrim apresentou as grandes máquinas de digitalização, com histórias antigas de quando foram novidades e a dificuldade que foi instalá-las para jornalistas mais velhos e reacionários com a tecnologia.
Em seguida, os estudantes foram apresentados às várias, enormes e barulhentas máquinas de impressão que atendem os jornais da empresa e de parceiros. Estavam todas em uma sala que parecia pequena pela grandiosidade dos equipamentos estrangeiros, algumas desligadas e inutilizadas. Fabrim contou da dificuldade que o Estadão tinha em “desovar todos esses aparelhos, tanto pelo espaço, tanto porque hoje elas custam preço de sucata”. Ao mencionar a questão financeira do jornal, o veterano na área da gráfica contou que o Estadão, assim como seus concorrentes, vivem uma dificuldade e que, antes, contavam com praticamente 9 mil funcionários, hoje uns 800.
A visita seguiu rumo e chegou à redação, que em comparação à quantidade de computadores e mesas, estava vazia. Garbin contou que após a pandemia, o home office foi aderido por grande parte dos redatores - assim como as reuniões, que antigamente aconteciam numa sala de vidro que possui visão ampla ao espaço e murais de cortiça repletos de capas de jornais.
Ao caminhar pelo andar, um sino localizado ao redor dos computadores e televisões despertou atenção dos visitantes. A editora explicou que ele serve para anunciar notícias de extrema importância, como a superação de recordes de audiência. Além disso, Garbin resumiu a rotina da redação, que possui três reuniões virtuais diariamente: a primeira ocorre às oito da manhã e junta todas as editorias para definir as apostas do dia. Ao meio dia acontece um encontro de reajuste para checar se tais “propostas” renderam e a última começa às quatro da tarde para a definição de pautas noturnas e do dia seguinte.
Os alunos foram direcionados para o acervo e apresentados ao mundo analógico, época de constituição do Estadão. O ambiente é composto por estantes cheias de matérias produzidas desde a origem do jornal, por nove mil pastas de contatos fotográficos, incluindo uma rara imagem de Tim Maia e Rita Lee. Além de diversos itens que contribuem para a nostalgia do espaço, como máquinas de escrita e câmeras.
Edmundo Leite, responsável pelo acervo, explicou sobre o funcionamento do espaço, que atualmente está fechado para o público e possui uma pequena equipe de apenas cinco funcionários. Simultaneamente, ele expôs materiais inéditos do jornal, como alguns dos 50 milhões de negativos e reportagens especiais sobre clássicas bandas nacionais, ainda novatas na época, como a Legião Urbana.
Em um espaço repleto de relíquias, a visita pelo Estadão se encerrou. Cenário este que a empresa tenta substituir e transformar pelo digital. Seja para os funcionários ou leitores, que após as dificuldades e mudanças necessárias da pandemia de COVID19, precisaram se adaptar.