“A arte e a cultura fatalmente são deixadas de lado durante uma pandemia, que é uma situação emergencial. A arte não é uma prioridade, a saúde que é”, comenta a bailarina Penélope Miranda.
No momento atual, aglomerações devem ser evitadas, mas o que acontece com o artista que vive de apresentações e está sempre rodeado de pessoas, principalmente, quem tem trabalho amador ou pequeno? Bem, eles tiveram que contornar a situação, desenvolvendo novos métodos e criando uma maneira de conseguir adaptar seu trabalho.
Miranda , 17, que trabalha no circo, também cresceu dançando balé clássico.
“Realizam os espetáculos gratuitamente via live e nelas tem o QR Code, assim as pessoas podem fazer as doações”. A artista conta que o circo está enfrentando uma fase bem difícil e que estão vivendo de doações de comida e roupa.
Aos treze anos, ela começou a trabalhar no circo Stankowich e conta que além de praticar o balé, também faz alguns truques de mágica e danças em grupo. “É muito mágico, são uma família”. No ano de 2018, decidiu iniciar sua carreira no teatro, com um curso profissionalizante na área.
“Vejo muito descaso, por parte das autoridades, no sentido de recursos para os artistas continuarem vivendo”, desabafa Agatha Reinato, co criadora da Cia Corpos Outros.
Reinato, 18, fundou a companhia artística, a partir de uma classe de teatro da qual estudava. São jovens periféricos levando a cultura para a periferia. Antes da quarentena, estavam apresentando a peça autoral, “Periferia Esperança”.
“Esse ano, foi adiado um pouco, por causa da pandemia, mas ainda pretendemos lançar um livro, que foi uma grande conquista. No próximo mês, vai soltar um podcast, que também, fala sobre a peça”.
Ela conta que se apresenta, paralelamente, em saraus, cantando e recitando poemas originais.
O cantor Vee Sky fala que o isolamento barrou muitos de seus projetos. “Agora é um momento de estudo, aprendizado e planejamento. Consegui produzir nesse tempo e tenho conteúdo guardado para o final da pandemia, mas os projetos estão barrados, por motivo de dinheiro ou interrompidos, por causa da quarentena”.
Ele explica o conceito por trás do seu nome artístico. “Queria um nome que não tivesse gênero. Porque o meu corpo já representa um gênero, quando você olha para ele. Enquanto arte, precisava de um nome que as pessoas duvidassem e pensassem: ué esse nome é de menino ou de menina?” Vee Sky, um cantor gay do gênero queer, quer trazer a representatividade da comunidade LGBTQ+, para a música pop nacional.
A produtora “Dark Triangle”, de Mariana Pereira Guaita, também sofreu impactos com o isolamento. Como não é possível se reunirem, a produção de novos curtas foi bloqueada, de toda forma, os trabalhos não pararam. “Os artistas estão se apoiando, entre eles mesmos, um indicando o trabalho do outro”. Guaita conta que uma amiga queria realizar um ensaio fotográfico via facetime, “como eu conheço um amigo que faz isso, passei o contato e as fotos ficaram muito boas, por sinal”.
Contornar a situação para eles não foi tão difícil, bastou usar a criatividade que já possuem e adaptá-la para a situação atual. O maior problema é o financeiro, como são trabalhadores iniciantes e é uma carreira que custa tempo e dinheiro, em circunstâncias como a de uma pandemia, quem vive de arte acaba sofrendo mais.
“A Netflix disponibilizou um fundo para quem trabalha com produção audiovisual, quem consegue esse acesso, usa esse apoio” ressalta Guaita. De acordo com site do Senado, a Câmara aprovou um fundo liberando R$ 3 bilhões para ajudar os artistas e estabelecimentos culturais, que depende da sanção do presidente.