Por Daniel Santana Delfino, Rodrigo Silva Marques
Todo profissional que deseja trabalhar com jornalismo esportivo, especificamente como repórter, tem o sonho de entrevistar um jogador famoso ou técnico de prestígio, dependendo do campeonato, até mesmo algum coordenador de futebol. Nessa reportagem fomos ao Clube Atlético Juventus, no bairro da Mooca, em São Paulo, bater um papo com os integrantes do quase centenário time paulista.
No final de um treino pré-jogo, o técnico do Clube Atlético Juventus, Jorge Luís da Silva, conhecido popularmente como Jorginho, falou sobre como é a expectativa às vésperas de um jogo importante. Recém-chegado ao clube, ele contou como foi recebido pelo seu torcedor e de que maneira equilibra no time os veteranos com os mais jovens. O técnico também deu sua opinião se de fato existe essa história de jogador derrubar treinador. "Para se manter você precisa vencer o máximo de jogos possíveis, pois não vai ganhar todos", diz Jorginho. No futebol, você deve estar preparado para vencer, não para empatar”. Jorginho afirma que a concentração total está no próximo jogo, contra o Novorizontino, sendo lucro o que vier depois. Em sua chegada ao time, ele diz ter sido muito bem recebido e com muito carinho por parte dos torcedores, mesmo historicamente sendo adversário do Juventus em suas passagens anteriores pela Portuguesa de Desportos. Na sua visão, um time verdadeiramente competitivo é aquele que balanceia a experiência de jogadores veteranos com a capacidade dos jovens que vem da base, ao mesmo tempo em que mantém o bom relacionamento com o elenco como um todo.
Sobre a polêmica de que o mal desempenho dos jogadores é proposital para derrubar um técnico, Jorginho diz que “isso sempre existiu e sempre existirá, é uma questão de caráter e não acontece apenas no futebol”. Ele enfatiza que se sente feliz no clube onde está e na hora em que perceber que não está entregando a qualidade que deveria, ele mesmo saberá o momento de sair. Na sua carreira como técnico, Jorginho além da passagem pela Portuguesa, teve um período como interino no Palmeiras, em 2009, e treinou a Chapecoense que, sob seu comando, goleou o Internacional de Porto Alegre por 5 a 1, no Brasileirão de 2014.
Na conversa com Marcel Barbosa, coordenador técnico do clube, que já morou e trabalhou no Canadá, também exerceu o cargo como treinador pelo sub 20 do próprio Juventus, foi questionado a dificuldade de exercer a profissão no meio futebolístico, Para ele, o desafio é conciliar várias atividades. “Sou formado e licenciado pela CBF e hoje aqui no clube estou como coordenador. Hoje, a minha função aqui é fazer toda a gestão do departamento de futebol, cuidar do departamento médico. Estruturar, olhar a gestão de cada departamento, de futebol, médico, de atletas até a rouparia, cuidar de todos os registros e dar o suporte técnico no campo, ver como estão atuando os atletas, se o treinador precisa de algum suporte e discutir toda a relação dos treinamentos e jogos com o clube’’ enfatizou.
Em relação à dificuldade de um coordenador em colocar o atleta sempre em alto nível, de modo a obter o máximo rendimento, Barbosa diz que “às vezes o atleta pode não estar num dia bom, mas você quer dar aquela cobrada, assim não vamos tentar jogar. O importante é nós entendermos esse lado do jogador, ele é um ser humano, né? O importante é a gente entender essa relação social”. Ele ainda observa que a cobrança dentro de campo já é grande, então é preciso saber dosar “É muito difícil você extrair do ser humano o seu máximo. Se ele não estiver bem estruturado você não consegue tirar o melhor de ninguém. Como coordenador, é preciso entender o processo”, pondera. O coordenador acredita que a parte mais importante do seu trabalho é agregar junto com a comissão técnica, identificando quem tem potencial que pode ser mais bem utilizado em cada momento. “É uma relação do ser humano, no sentido de uma comunidade. A comunidade é bem dividida e a gente entende quando as pessoas estão em situações menos privilegiadas e tenta estabelecer a igualdade. Essa é a ideia do coordenador e a nossa gestão é fazer isso”.
Questionado sobre o ambiente dentro do vestiário, a exemplo do que ocorreu em 2022 com o Corinthians e Vitor Pereira, onde os jogadores falam mal do ex-treinador e exalta o novo técnico Fernando Lazaro, Marcel Barbosa diz que é difícil trabalhar com gestão de pessoas. Para ele, tudo faz parte de um processo e que acredita no ser humano. Na sua visão, é sempre bom um ambiente leve e produtivo, o que também depende de o próprio atleta estar num rendimento bom. O ambiente fora do vestiário conta muito. “Eu faço a relação disso com os atletas nas minhas conversas com eles, na hora de mostrar a eles o erro e o acerto. Em casa, você é um pai de família, como é que se relaciona com seus filhos? Porque a decisão do treinador para eles é sempre errada? Procuro fazer eles enxergarem um horizonte perfeito e se questionarem. Estou treinando bem? Estou dando o meu máximo? Como eu cobraria o meu filho? Que exemplo eu daria a ele? Resumindo, ambiente sempre é importante pra que a gente possa sempre entregar o melhor”, acredita Barbosa.
Para entender como funciona a mente de um jogador, nada melhor do que ouvir eles mesmos: o ex-atacante Bruno Moraes da Juventus e o goleiro André Dias.
Ao ultrapassar a marca de duzentos jogos com a camisa do Juventus, o goleiro Dias diz que já teve oportunidade de sair do clube, mas se sente feliz onde está e na sua decisão, pesou a possibilidade de ficar perto da família. De acordo com ele, mudar de clube implica em mudanças de cidade e distanciamento dos familiares. “Criei raízes aqui no clube, o que foi muito importante para a minha carreira e a minha perspectiva é crescer junto e trazer o Juventus de volta à elite", destaca.
Dias entende que o preparo pré-jogo é importante, já que o foco é alto rendimento em qualquer partida, mas não esconde que as disputas eliminatórias e clássicas exigem mais preparo psicológico. Ele discorda que os atletas façam em campo algum tipo de pressão para a troca de treinador. “Fazer corpo mole não existe, isso prejudica o próprio jogador. Os jogos são televisionados, sempre vai ter alguém olhando. Se existiu no passado, hoje isso não funciona mais”, acredita. Como veterano, ele entende que a conduta dentro e fora de campo é o melhor exemplo para a nova geração.
Em relação ao papel no time, Dias reflete que o goleiro está numa linha tênue entre o milagre e o erro. “O nível de atenção e de cobrança do goleiro nos treinamentos e em campo é sempre maior. A cada jogo é entrar em campo com a faca nos dentes, não dá para errar”. Mesmo assim, ele entende que a cobrança é sempre positiva, mas é preciso saber filtrar o que vê de positivo e negativo. “nem tudo é verdade, nem nada é mentira. O importante é na hora do jogo, dar zero atenção ao entorno”.
Se por um lado a preparação física é necessária, o preparo psicológico é fundamental na opinião do goleiro, quando o atleta está em alta, seu desempenho naturalmente é melhor. Mas quando ele se abate, “o melhor é focar nas jogadas profissionais dos treinos, elevar a concentração e saber trabalhar as oscilações que acontecem em todos os jogos”. Como um dos mais experientes do time, ele se mesmo se encaixa no papel de mais cobrador, “no bom sentido, para dar o incentivo e o bom exemplo para a molecada”, finaliza.
Bruno Moraes também entende o peso de sua responsabilidade, ao comentar o resultado de marcar três dos quatro gols na partida contra o Lemense. Ele diz que centroavante vive de gols e lamenta que a decisão da classificação tenha ficado para o último jogo antes do mata-mata. Quando a questão é desempenho profissional, o centroavante entende que seja qual for a posição em campo, quando o desempenho não está dentro do esperado, o atleta se sente incomodado e vai buscar ajuda para voltar a dar bom resultado. “Como em qualquer profissão, a gente também tem um dia ruim”, reflete. Ele compartilha da opinião de Jorginho, quando o assunto é derrubar técnico. “Quando existe caráter, ninguém pensa em tirar o emprego de uma pessoa que tem família para cuidar”.
Independentemente de como esteja o quadro de pontuação para o Juventus, Moraes acredita que cada jogo é a responsabilidade do jogador cumprir com o seu papel. “Não adianta ficar olhando o resultado dos outros, Vamos focar no nosso objetivo e depois ver o que vai acontecer”. Vindo da Inter de Limeira, Moraes destaca que o Juventus é um clube de uma torcida familiar e tradicional e isso representou um tom de acolhimento muito positivo para ele, embora não esteja nos seus planos se aposentar no clube. “Tenho muita lenha para queimar ainda”, finaliza.
Próximo de completar os 100 anos de existência, o tradicional clube da Mooca jogou contra o forte Novorizontino fora de casa, precisando vencer para garantir a classificação para tentar conseguir o acesso novamente à elite do futebol paulista. Infelizmente, o time acabou perdendo por 1 a 0, e terá que amargar mais um ano na série A2 do campeonato paulista.