Dia da Amazônia: poucos motivos para comemorações

A data celebra a maior floresta do mundo e nos lembra que ainda há muito trabalho pela frente
por
Nathalia de Moura
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03/10/2023 - 12h

Em setembro, foi comemorado o Dia da Amazônia, que foi criado com o intuito de lembrarmos sobre a proteção dos biomas. Nossa floresta, que é importante para o Brasil e para o mundo, enfrenta frequentemente crimes ambientais causados pelo homem e esse é um problema que infelizmente não está perto de acabar.

O desmatamento e as queimadas são dois dos diversos crimes ambientais que assolam nossa floresta. Um é consequência do outro, pois ao derrubar as árvores, os garimpeiros, grileiros e invasores precisam limpar a área para poderem seguir no processo de urbanização, do crescimento do agronegócio e de outras práticas ilegais. Com isso, a fauna e flora são afetadas, os povos originários daquela região sofrem e as consequências refletem também nas questões climáticas.

O desmatamento

A destruição que a Amazônia sofre vem daqueles que imaginam que ali só há uma área desabitada e sem serventia, que deve dar lugar a grandes produções, construções de rodovias etc. Mas quando a floresta vai ao chão, perdemos muito da nossa biodiversidade.

O professor de jornalismo na Faculdade Casper Líbero e autor da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, Eduardo Nunomura, nos fala que “tudo isso é reflexo de ações públicas”. Ele completa citando que no antigo governo Bolsonaro, víamos poucas movimentações para manter a fiscalização e a proteção da floresta e “com a mudança de governo, o discurso ambiental voltou novamente”.

Grande área com árvores cortadas
Área de zona desmatada na Floresta Amazônica no estado do Acre, em julho de 2022 - Foto: Rafael Viela para The Washington Post via Getty Images

 

A professora Alessandra Vaz, da Escola Vera Cruz, esteve recentemente com a Associação Vagalume na cidade de Portel, no Pará. Essa associação atua nas comunidades que pertencem a Amazônia Legal construindo bibliotecas comunitárias e incentivando a leitura. Ela conta que os povos daquela região se sentem impactados com as consequências dos crimes ambientais que ocorrem na Amazônia. “Eles fazem plantio de mandioca, de abóbora, verduras, mais próximo da casa deles. Com o passar do tempo, tiveram que fazer esse roçado cada vez mais longe, pois depois que colhem, o solo precisa de um tempo de regeneração. Mas a mata em torno da comunidade ainda está muito baixa, porque leva tempo para que essas árvores cresçam de novo, alcancem uma altura do que a gente entende que seja um processo de reflorestamento”, disse Alessandra.

As queimadas

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 45.585 Km² foram queimados na Amazônia em 2021 (área equivalente ao Estado do Rio de Janeiro). Os números de focos de calor permanecem em alta, fazendo com que a fumaça percorra toda a região, chegando inclusive em outras áreas do país. Nunomura cita que a fiscalização perante as queimadas também é falha e que sempre haverá alguém que irá queimar e logo depois, plantar.

Área com árvores sendo queimadas
Fumaça de queimadas se espalha pela Floresta Amazônica - Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

 

Mudanças climáticas e os indígenas

É possível sentir as extremas mudanças de clima pelo mundo. Muitas chuvas, calor excessivo e muito se passa pela Amazônia. Vaz conta que o regime de chuvas sofre: “Ou chove muito ao ponto de alagar o roçado e os povos perderem quase tudo que foi plantado ou de ter um tempo de estiagem muito prolongado.”. Nunomura também fala que com o desmatamento, os rios voadores, que são camadas de água que vão, por exemplo, para o sudeste são afetados. “A Amazônia faz parte do equilíbrio ecológico global”, completa.

Ao falar dos indígenas e dos povos originários da região, ele cita que é retirado por eles somente o necessário da floresta e diz que os indígenas são uma espécie de salvação, pois sabem que a terra precisa ser respeitada. “Eles estão ameaçados o tempo todo. Há um aliciamento pelos invasores, e para o indígena que não tem nada, aquilo que recebem de quem invade chega a ser muito”.

Para finalizar, Nunomura diz: “Temos duas opções: preservar ou destruir. Temos que nos conscientizar. O barulho de todos pode fazer a diferença”.