O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) aconteceria em novembro desse ano. Mas aí veio a pandemia e tudo mudou. A nova data do vestibular será entre dezembro e janeiro de 2021. No entanto, surge o questionamento se é justo que a prova ocorra. Para Lucas Felipe Guimaraes, estudante na Fundação Bradesco em Osasco, isso é “injusto”. Ele irá prestar o vestibular tentando uma vaga para Arquitetura, focando nas faculdades públicas.
O estudante não se conformou com a manutenção do concurso considerando as diferenças entre o ensino a distância de escolas privadas, para as públicas e defende o cancelamento . “Na minha escola, que é pública, houve a flexibilização do horário, só daí perdemos muita matéria”. Além disso, ele diz que não está conseguindo absorver o conhecimento necessário: “É muito difícil se concentrar mais de uma hora olhando para o celular ou computador e não entrar em alguma rede social, distraindo-se; fora que não tem como aprender física olhando para uma tela”.
Sendo assim, Guimaraes conclui que o melhor seria se houvesse duas provas. “Acredito que ter uma prova para escolas públicas, e outra para as privadas, seria a maneira mais justa diante dessa situação, ou até separar o número de vagas dividindo cinquenta por cento para cada”.
Já Felipe Siufi, estudante do Colégio Pentágono em Alphaville, discorda da opinião do colega. Ele pretende estudar Engenharia de Produção e irá fazer a prova do Enem para tenta entrar na UNICAMP. Dessa forma, Siufi acredita que o adiamento do Enem não conseguirá mudar nada de maneira relevante, “não acho que em um mês os alunos das escolas públicas conseguiriam pegar todo o ensino de cem dias de aula online; então, o adiamento só causaria o esquecimento dos outros de todo o conteúdo”.
Porém, assim como o estudante de Osasco, o futuro engenheiro também acha a qualidade da EAD precária: “É impossível prestar atenção porque você assiste deitado, um ou outro levanta e vê a aula de forma séria”. Junto ao tema, ele falou que nesse tipo de ensino há mais distrações do que se comparar com a aula presencial. “Parar de prestar atenção é muito mais fácil porque se estiver na aula e conversar vão me chamar a atenção, diferentemente do EAD que posso simplesmente desligar, ou entrar na aula e fazer outras coisas”.
Ademais, o estudante do Pentágono diz que pelo estudo ser online as provas que antes eram individuais agora tornaram-se coletivas: “Nos últimos finais de semanas eu tive 3 simulados, toda a sala estava colando, e quem fazia mesmo, pelo menos dava uma verificada para ver se está correto” afirma dando uma risadinha. Portanto, Siufi fala também sobre o seu aproveitamento, “acho que estou em vantagem por estar em escola privada, mas não estou aproveitando, tem gente em escolas públicas que não tem a oportunidade e aproveitariam muito mais que eu”.
Beatris Ponce que está fazendo cursinho no Etapa de Ana Rosa, fala que não achou justo o adiamento da data do Enem, mas que não há outra saída. “Não tem como cancelar e perder um ano, o mínimo era adiar mesmo; e não só por minha causa, mas principalmente por quem estuda em escolas públicas ou não tem acesso à internet”.
Ela deseja entrar na USP para cursar Direito, no entanto, vê grandes desafios devido à improdutividade do estudo a distância: “É muito difícil de se concentrar em casa, além de que eu absorvo menos coisa, pessoalmente você pode tirar dúvida, online é mais superficial”. Outro ponto destacado dela foi que, diferentemente dos estudantes anteriores, Ponce não tem aula ao vivo, “por um lado é bom que posso pausar, mas por outro eu enrolo muito e acúmulo mais coisa”.
Por fim, no caso dela, existe a possibilidade de largar o cursinho, distante da realidade dos alunos que ainda estão na escola e querem também ter o ensino médio completo. Contudo, ela não pensa em largar, “vou continuar no cursinho mesmo se o segundo semestre for EAD porque apesar de ser muito diferente a qualidade da aula, cheguei à conclusão de que muitas pessoas estão desistindo, então ainda tenho chances, vale a pena persistir".