"Já percebo um movimento de mudança no audiovisual brasileiro, mas é preciso também que mais diretores negros e negras estejam no comando de produções", disse em uma entrevista via email, Danilo Castro, 32, ator e jornalista, sobre como é necessária a inclusão no ambiente cultural.
A segregação racial ocorre, de forma constante, nas áreas acadêmicas e profissionais, seguindo o racismo estrutural da sociedade brasileira. Segundo Castro, essa conjuntura "é uma questão de mercado, uma imposição estrutural e racista que reverbera em menos oportunidade para atores e atrizes negros".
Sobre a importância de filmes ganhadores com representatividade negra nas grandes premiações, como o Oscar, em que predomina uma celebração majoritariamente branca, ele afirma: "A academia é historicamente racista, assim como todos em nossas práticas ao longo dos séculos. Ampliar o olhar para as potências do cinema negro fará com que tenhamos uma sociedade em que os recursos econômicos e culturais estejam melhor distribuídos socialmente, para que cheguemos a obras de cada vez mais impacto". Ele também acredita que "o poder público e as universidades, por meio de editais culturais, podem ajudar nessa ampliação de vozes".
Além disso, para Castro, cineastas como Raoni Seixas, Renata Kalman, Sabrina Fidalgo e Luciano Vidigal são pessoas que agem tendo em vista a visibilidade negra no audiovisual brasileiro e são essenciais. Ainda segundo o ator, "a pauta negra é uma luta perene, constantemente ameaçada por líderes políticos; porém, mesmo diante da situação, as produções negras atuam como uma possibilidade real de nos enxergarmos cada vez mais nesses locais antes inatingíveis".
Já Guilherme Soares Dias, jornalista, empresário e pesquisador que aborda a cultura negra junto com o turismo, conta que "as pessoas negras precisam inverter a relação de não serem priorizadas; é preciso incentivar mais os incríveis projetos que já existem, e que ajudam milhares de pessoas".
Em um contexto de utilização da visibilidade das plataformas digitais para falar de iniciativas de pessoas que trabalham com o afroturismo, uma vertente do turismo tradicional, mas com destaque à cultura negra, Dias comenta: "O afroturismo ainda não é conhecido por toda a população. A internet tem uma ajuda de extrema importância para popularizar e divulgar o conceito desse estilo de viagem, que tem como objetivo dar prioridades à cultura negra do local visitado."
A respeito do "rótulo" imposto àqueles que trabalham coma cultura negra, ele fala: "As pessoas precisam dos rótulos para entender de onde vem aquela fala, então, eles ajudam a demarcar. Mas também, aprisiona porque somos muitas coisas".