A empresa de quadrinhos de super-heróis fundada por Stan Lee, que conta com heróis e grupos como Homem-Aranha, Hulk e os X-Men passou por uma grave crise financeira nos anos 90, e por isso se viu vendendo os direitos de seus principais heróis para outras empresas, como o Quarteto Fantástico e os X-Men para a Fox e o Homem-Aranha para a Sony. Com a crise se estendendo até os anos 2000, a Casa das Ideias decide se arriscar e iniciar projetos cinematográficos com personagens menos famosos do que aqueles que tinham perdido seus direitos, fazendo acordos bancários para a realização dos filmes, com a contraparte sendo os próprios personagens – resumindo, caso "Homem de Ferro" não desse retorno, os direitos dele seriam dos bancos.
Robert Downey Junior no filme “Homem de Ferro”, de 2008. (Foto: Reprodução Marvel)
E é desta forma incerta que se inicia seu Universo Compartilhado, em 2008, com o filme “Homem de Ferro” introduzindo tudo que conhecemos, como as cenas pós-créditos e a famosa formula Marvel . O filme foi muito bem recebido pelo público, arrecadando US$ 585 milhões e gerando lucro. Depois disso, sua sequência, “Homem de Ferro 2”, também teve bons números, chegando a superar o antecessor. Seguindo com os filmes situados no mesmo universo e se conectando, o estúdio chegou ao seu primeiro grande sucesso, “Os Vingadores”, que passou da casa do bilhão, US$ 1,5 bilhão em bilheteria. com o filme inovando com os personagens da famosa equipe sendo introduzidos em produções anteriores como Capitão América, Thor e Hulk.
E o sucesso foi se consolidando cada vez mais ao longo dos anos, com franquias menos conhecidas nos quadrinhos se tornando filmes lucrativos, como “Guardiões da Galáxia”, e a retomada de direitos que haviam sido vendidos. Esta recuperação se deu com a compra da Fox pela Disney (detentora dos direitos da Marvel) e um acordo com a Sony para o uso da imagem do Homem-Aranha nos cinemas. Além disso, após 21 produções, todas interconectadas, a Marvel conseguiu, com sua conclusão de saga no filme “Vingadores:Ultimato”, alcançar a marca de segundo filme com maior bilheteria da história, arrecadando US$ 2,8 bilhões, atrás apenas de Avatar. Com isso, a Marvel se tornou a franquia mais lucrativa da história dos cinemas.
Mesmo sendo um inegável sucesso, o Universo Cinematográfico Marvel (UCM) tem seus problemas e, nos últimos tempos, vem apresentando resultados negativos. A “formula Marvel” já mostrava sinais de que estava saturada para o público desde a sequência “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, “Thor: Amor e Trovão” e “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”, todos lançados em 2022, que não atingiram a casa do bilhão em arrecadação. internacional.
Imagem de Homem Formiga e a Vespa: Quantumania. Foto: Divulgação Marvel Studios
“Grande parte do porquê da queda recente vem devido às falhas de design e pós-produção, somados ao mau uso dos efeitos especiais. Além disso, os enredos estão previsíveis e entediantes, com um claro desgaste da tradicional ‘formula Marvel’”, diz o colecionador e aficionado por quadrinhos Guilherme Sansone, que assistiu a todas as produções do UCM. Em sua análise, vistos individualmente, os filmes da Marvel perdem importância, “parecendo apenas mais uma engrenagem para a grande máquina”.
A questão da repetição da fórmula e da serialização já foi duramente criticada por renomados diretores, como Martin Scorsese (vencedor do Oscar por “Os Infiltrados”). "Isso não é cinema. Honestamente, o mais próximo que posso pensar deles, por mais bem feitos que sejam, com atores fazendo o melhor que podem dentro das circunstâncias, é em parque de diversões”, escreveu Scorcese, em artigo para o New York Times. Outro famoso cineasta, Francis Ford Coppola (diretor da trilogia “O Poderoso Chefão”), concordou publicamente com a opinião de Scorsese, em entrevista ao canal de televisão France 24. “Não conheço alguém que tire algo ao ver o mesmo filme repetidas vezes. Martin foi gentil quando disse que não é cinema. Ele não chegou a dizer [que os filmes da Marvel] são desprezíveis, o que eu acabei de dizer que são”, afirmou Coppola.
Martin Scorsese. Foto: Featureflash Photo Agency / Shutterstock.com
A estudante de cinema Isabela Kuhar é menos rígida do que os dois cineastas. “Não existem regras do que deve ou não ser um filme, só existem diversos gêneros diferentes, mas acredito que a experiência seja a mesma da que temos quando vemos um filme bom ou ruim de qualquer outro filme nessa categoria. Não acho que os filmes estejam saturados, só acho que se tornaram uma verdadeira indústria e deixou de se importar com a qualidade, deixando as produções menos individualizadas e mais como um produto a ser consumido”, afirma.
Para o público em geral, o excesso de produções também pode acabar afastando muitos telespectadores casuais. “É desanimador tentar se aventurar em um universo tão extenso e já estabelecido”, diz Rodrigo Oliveira, de 19 anos, acrescentando que, ao assistir “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, sentiu que lhe faltavam informações para acompanhar a trama. “Dificilmente tirei experiências singulares dos filmes da Marvel”, afirma Oliveira.