As desigualdades sociais do tênis

Uma face pouco conhecida do esporte é a falta de oportunidades para jovens pobres
por
Fernando Bocardo, João Kerr e Pedro Duarte
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18/06/2021 - 12h

O tênis é o quinto esporte mais popular do mundo, segundo o portal Escola Educação. Foi um dos primeiros a se tornar esporte olímpico, em 1896. No Brasil, se tornou muito popular entre praticantes e torcedores, especialmente após Gustavo Kuerten, popularmente conhecido como Guga, se tornar um dos maiores tenistas da história conquistando 30 títulos como profissional. Uma face pouco conhecida do esporte, no entanto, é a falta de oportunidades para jovens pobres. Tenistas do mundo inteiro sofrem com o alto custo de manutenção de uma carreira no esporte, mas no Brasil, país com desigualdade social extrema, essa questão é ainda mais grave. Uma raquete simples sai entre R$ 200,00 e  R$ 300,00, enquanto algumas mais elaboradas chegam a R$ 2000,00. As bolinhas, por sua vez, costumam custar aproximadamente R$ 50,00, na embalagem com 3. Um praticante regular do esporte precisa comprar bolinhas muitas vezes ao ano, e trocar sua raquete com frequência, uma vez que é comum a raquete quebrar após muitos usos, principalmente os modelos mais baratos.

Nem todo atleta consegue ser sócio de um clube que tenha quadra de tênis. Dessa forma, muitos recorrem ao aluguel de quadras. O preço médio do aluguel de uma quadra de tênis é de aproximadamente R$ 60,00 a hora, segundo o portal Casa do Tenista. Praticando o esporte 3 vezes por semana, com esse preço, o atleta gastaria R$ 720,00 mensais, sendo que o valor pode ser ainda maior dependendo da região do país. 

Crédito: Pardini Sport

Para o atleta que busca se tornar profissional, disputar torneios de nível nacional e internacional é essencial. Para isso, é necessário se deslocar entre estados e principalmente entre países. Isso traz um custo altíssimo, que faz com que muitos jovens desistam da carreira no esporte. Gustavo Heide, jogador de tênis desde os 4 anos e participante do torneio juvenil de  Roland-Garros 2019, conta à AGEMT sobre a dificuldade de manter uma carreira profissional no Brasil:

“É um esporte muito caro. É muito difícil arrumar um patrocínio. Só quem joga sabe o quanto é gasto com viagens, porque não tem como você jogar tênis apenas no Brasil, ou mesmo na América Latina. Você tem sempre que estar viajando, principalmente para a Europa, que é onde ‘vive’ o tênis, onde você sempre tem que estar presente, onde estão os grandes atletas”, diz Heide. 


Gustavo Heide, ao lado de Novak Djokovic (crédito: acervo próprio).

"A falta de investimento prejudica muitos, gente que tem muito futuro, mas acaba não podendo jogar por não ter condições de fazer essas viagens. Tenho certeza que quando o Brasil tiver uma ajuda direcionada para esses atletas, vão sair muito mais tenistas do que saem hoje”, diz Heide. 

O ex-número 21 no ranking da ATP,  e referência do tênis brasileiro, Fernando Meligeni, não enxerga um futuro otimista do esporte nos próximos anos. “É preciso que haja um despertar nas entidades, ou vocês querem que a gente jogue, cobre o escanteio e cabeceie? O atleta tem que jogar e, assim, trazer público e patrocinadores para a quadra. Não dá para pedir para eles fazerem os projetos e executá-los, como muitas vezes se faz. É hora de as entidades serem fortes e deixarem de chorar para abraçarem a causa e tomar a responsabilidade.”, cobrou em seu blog na ESPN. Atualmente o Brasil conta apenas com o cearense Thiago Monteiro entre os 100 melhores no ranking masculino e no feminino o cenário é ainda pior, apenas com a paulista Beatriz Haddad Maia ocupando a 218ª colocação da WTA.

Com Monteiro ocupando a 80ª colocação no ranking da ATP espera-se que o Brasil não tenha representantes na chave de simples masculina das Olimpíadas de Tokyo, fato que não ocorria desde a retomada do esporte como modalidade olímpica em 1988.