O que define a grandeza de um artista? Talvez a forma como ele interage com o passado e o presente social criando uma produção que rompa criticamente a forma como vivemos globalmente, ou pela criatividade e renovação que sua arte impõe sobre a indústria, mas também é possível medir esta grandeza pela aceitação desse artista perante o público, como seu trabalho é recebido pelas pessoas e de que forma ele pode ser medido em números.
Kendrick Lamar é o tipo de artista que carrega estes três tipos de grandeza com a sua música que detêm fãs assíduos no mundo todo, música que teve grande repercussão durante o movimento Black Lives Matter um dos acontecimentos mais impactantes dos anos 2010. To Pimp A Butterfly, por exemplo, foi um grande precursor destes acontecimentos, por trazer temáticas que abordam a comunidade e a justiça.
O Álbum que vamos destrinchar hoje é o quarto álbum de estúdio do artista e um dos mais aclamados, conquistando diversos prêmios em academias musicais e sendo considerado por muitos “o álbum do ano”. Lançado no feriado cristão sexta feira Santa do ano 2017, DAMN foi tirado da palavra Damnation, que traduzido significa “maldição” ou, no sentido cristão, um estado de oposição ao amor de Deus, a condição humana que somente com o divino pode ser mediada. Kendrick aparece como este messias que subjuga suas próprias ações e sentimentos.
GP Week - (05/11/23)
POLÍTICA.
Entre os lançamentos de To Pimp A Butterfly e DAMN. (2015 e 2017), o mundo político dos EUA sofreu drásticas mudanças. Nesse período, Barack Obama deixou o cargo de presidente após as eleições de 2016, quando Donald Trump assumiu o posto. Essas alterações na sociedade americana acabaram afetando diretamente a população negra do país, afinal, o novo presidente demonstrou comportamentos, falas e atitudes preconceituosas e racistas, tanto é que em uma pesquisa do Washington Post em junho de 2016, 94% de adultos negros que votaram, se mostraram contrários ao então candidato.
Em seu álbum To Pimp A Butterfly, Kendrick aborda com veemência temas políticos e centrais da sociedade americana. Já em DAMN, o rapper procura trazer à tona temáticas pessoais, no entanto, sem deixar de introduzir pautas políticas do momento que vivia. Um exemplo claro é a 9ª faixa do álbum LUST:
“Nós acordamos, tentando sintonizar as notícias do dia
Procurando confirmação, esperando que as eleições fossem mentira
Todos preocupados, todos enterrados, com sentimentos profundos
Nenhum de nós curtiu suas propostas, fazem nos sentirmos inferiores
Tristes, perturbados e loucos, falo com vizinhos sobre isso
Acho que eles concordam, desfilando pelas ruas com sua voz orgulhosa.”
Em sua entrevista com Zane Lowe, pela Apple Music, Kendrick Lamar é questionado pela falta de mensagens políticas em seu novo projeto, afinal era algo que seus fãs esperavam bastante. O artista rebateu, dizendo que trouxe, “a mensagem mais nítida no período mais curto de tempo."
Ele continua dizendo que seu álbum traz uma reflexão essencial para compreendermos e lidarmos com a situação atual do país: "Eu queria uma autoavaliação mais profunda. Porque, com o que está acontecendo agora, nós não estamos focados nele (Trump), estamos focados em nós mesmos, diferentes nacionalidades e culturas estão se unindo e realmente se posicionando por si mesmas, e acho que isso é um reflexo puro deste álbum, antes mesmo de ser lançado. O que podemos fazer agora é nos unir e encontrar nossos próprios problemas e soluções, entende? Eu acredito, eu sei, é isso que este álbum reflete."
LINK PARA O SPOTIFY
https://open.spotify.com/intl-pt/album/4eLPsYPBmXABThSJ821sqY