“Percebi a distância, quase intransponível, entre um homem branco de classe média de São Paulo e um indígena de uma aldeia no Cerrado”, conta Lucas Allabi sobre a experiência que viveu em 2019, em visita à reserva natural da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
O Cerrado acolhe cerca de 216 povos indígenas e mais de 83 diferentes etnias nos principais estados, como Tocantins, Goiás, Maranhão e Mato Grosso. Em um encontro multiétnico aberto ao público, ocorrido anualmente entre as comunidades da região, Allabi imergiu na cultura local para apreciar as peculiaridades e preservação de um rico legado de saberes ancestrais.
Entretanto, a visita significou mais do que um passo de turismo. “A relação é completamente desigual. Minha vida é muito mais fácil que a deles, pelas questões históricas que envolvem o Brasil", conta o estudante.
Entre as interações com pinturas corporais, danças e rituais típicos promovidas pelos Xavante, Yanomamis, Krahôs e Guaranis – também responsáveis pelo aumento da biodiversidade do Bioma - o encontro revelou um povo perseguido por fazendeiros e milícias, em uma ofensiva disputa de interesses por territórios demarcados.
Em luta constante contra os cercamentos, os povos originários resistem pelo direito de permanecer nas terras, de onde tiram subsídios para sobrevivência por meio da confecção de artesanatos e práticas agrícolas de baixo impacto. Mas, ainda assim, enfrentam dificuldades. “Eles basicamente mostram a cultura deles aos homens brancos para pedir mantimentos em troca, pois vivem em uma relação de desfavorecimento”, completa Allabi, confirmando o abandono em que as comunidades se encontram.
O estudante considera a experiência indispensável para a compreensão da importância dos nativos no Brasil, muitas vezes criminalizados, e a função que exercem na ampliação da fauna e flora do país, além de denunciar as injustiças e violências esquecidas e mascaradas as quais são expostos desde a colonização.