Um dos pacientes que mais estão sofrendo com o novo coronavírus é a economia mundial. Neste começo de ano, quando o isolamento social se impôs como a principal medida de combate à pandemia, vários recordes negativos foram quebrados.
Nos Estados Unidos, maior economia do planeta, o principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones, teve o pior desempenho para um primeiro trimestre desde 1896. O desemprego voltou a aumentar depois de dez anos, atingindo 4,4% em março. E a tendência é só piorar.
Especialistas do banco Goldman Sanchs, por exemplo, acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) vai diminuir em 24% no segundo trimestre, terminando o ano com recuo de 3,8%. O desemprego, por sua vez, pode superar 30%, conforme relatório do Federal Reserve (o banco central americano).
As previsões sombrias se estendem para o mundo todo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deve cair 3% neste ano. No Brasil, a retração esperada é de 5,3%, a maior da história. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 195 milhões de empregos vão desaparecer no mundo com a Covid-19.
Em artigo publicado no fim de março, o economista estadunidense Nouriel Roubini observou que os impactos econômicos do novo coronavírus têm sido não apenas mais rápidos, mas também mais graves do que os da crise financeira de 2008 e da Grande Depressão de 1930. O que demorou três anos para acontecer nas crises anteriores, levou menos de um mês na conjuntura atual.
Outra tragédia que a crise econômica de 2020 pode causar é a morte de centenas de milhares de crianças, de acordo com a ONU. Segundo um relatório do secretário-geral, António Guterres, quase 369 milhões de crianças de 143 países dependem das refeições que recebem na escola. Com as medidas de isolamento social, essas crianças correm o risco de não satisfazer suas necessidades nutricionais.
Outra previsão da ONU é que o número de pessoas vivendo na extrema pobreza (R$145 por mês) vai aumentar drasticamente, já que, por causa da recessão, os trabalhadores informais, autônomos e sem contrato assinado ficarão à beira do penhasco financeiro.
Pessoas perdendo o emprego, falta de alimentos para crianças e vários setores econômicos caminhando para a falência. A crise de 2020 é uma avalanche em que a bola de neve não para de crescer. De acordo com o contador Felipe Motta, os setores da economia que mais irão sofrer são o de aviação, importações e varejo.
“Empresas de aviação cancelando voos a todo instante, o medo da população em ir para um lugar novo agora e o dólar custando mais de R$ 5 é o cenário perfeito para uma catástrofe”, diz Motta, referindo-se ao setor aéreo.
Afetadas pelo câmbio, as empresas de importação também começaram a sofrer os danos da crise, já que trazer as peças para as indústrias, por exemplo, ficou extremamente caro e, com a economia parada, as perspectivas de lucro minguaram. Isso porque as pessoas não estão indo às lojas comprar os produtos, e, se o comércio não vende, ele também não vai atrás das peças nas indústrias, gerando portanto um círculo vicioso que causa um prejuízo alto para esse ramo.
“Tudo está conectado. A indústria vai mal se o varejo vai mal e vice-versa. Com as pessoas dentro de casa, como que elas vão a shoppings e lojas? Vai ser outro setor da economia fortemente atingido”, explica o contador.
Nesse cenário caótico, líderes de grandes nações buscam meios de frear um pouco esse caminhão desgovernado que assola o planeta. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou no fim de março um pacote de US$ 2 trilhões para estimular a economia – o maior pacote do gênero já registrado na história do país. Entre as medidas anunciadas, está o envio de cheques de US$ 1.200 para os cidadãos mais necessitados.
Na Europa, o governo do Reino Unido vai garantir US$ 400 bilhões em empréstimos para empresas afetadas pela pandemia. Na França, será feita a entrega imediata de recursos a trabalhadores e empresas. Na Itália, o pagamento de hipotecas será suspenso e o governo dará auxílio financeiro às empresas afetadas e para a população necessitada.
No Brasil, o auxílio emergencial de R$ 600 pode ser solicitado por pessoas de baixa renda. Além disso, o Congresso aprovou o estado de calamidade pública no país, o que permite maiores gastos, e o Ministério da Economia anunciou a injeção de R$147,3 bilhões para se contrapor aos impactos da crise.
“Os governos estão fazendo o necessário para que essa crise não se torne a maior da história. É um processo extremamente trabalhoso e cauteloso”, diz o economista Luis Souza, sublinhando o caráter inédito da situação atual, em que uma crise de saúde se alastra junto com uma crise econômica.
“A paralisação de quase todas as atividades também nunca havia acontecido na história. Nem mesmo nas crises de guerras, quando apenas lojas e restaurantes fechavam. Atualmente fechamos tudo”, acrescenta Souza. Ele acredita que a recuperação será demorada. “Sofreremos os efeitos até, no mínimo, 2023.”