Na quarta-feira, 13 de março, o Tucarena reuniu convidados renomados como Ailton Krenak, Ana Toni, Juliana Dal Piva e Letícia Cesarino no evento que comemorou o aniversário de 13 anos da Agência Pública, em parceria com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP. Com o tema "o jornalismo na linha de frente da democracia", as duas mesas no período da manhã debateram sobre desinformação e populismo digital. A noite, o tema do debate foi "o Colapso climático e o antropoceno". Mediados pela jornalista Giovana Girardi, os convidados Carlos Nobre, Ailton Krenak e Daniela Chiaretti abordaram os impactos da ação humana nos ciclos da natureza.
Ailton Krenak, Carlos Nobre e Daniela Chiaretti durante o evento de celebração de 13 anos da Agência
Pública. Imagem: José Cícero/ Agência Pública
Na conferência, transmitida pela TV PUC, Ailton defendeu a tese do racismo climático. “O planeta hoje, tem estimativa de cerca de 600 milhões de pessoas desabrigadas. Se afogando nos oceanos, tomando tiro no México, no Haiti, na Palestina. A experiência humana radicalizou a violência”, diz Krenak, que evidenciou que os mais pobres são os mais vulneráveis às mudanças climáticas e arremata o raciocínio com uma citação do escritor Eduardo Galeano que diz: “A serpente prefere picar o pé descalço, ela não pica o pé de quem usa bota. O ambientalista questiona qual o lugar da democracia numa sociedade em que existe uma camada popular que não tem condições de alcançar o patamar mínimo de ser humano, que vive esmagada pela polícia e abusada pelos governos.
O ativista expõe seu descontentamento, contra as grandes organizações como a ONU, UNESCO, OMS, entre outras. Expõe que estas não têm interesse algum pela democracia. “São superestruturas autoritárias que suportam a marcha capitalista do planeta, comendo o corpo da terra”. Ele relata que participou junto à UNESCO em um projeto em função da criação de uma reserva da biosfera na Serra do Espinhaço. Foi no meio do processo, enquanto tentavam achar alternativas para auxiliar a preservação do meio ambiente, que descobriu que a organização, na verdade, estava agendando outra conferência, que decidiria como seriam feitas as minerações em reservas de biosfera ao redor do planeta. “Então como vamos falar de democracia se os agentes estruturadores de uma ordem global não querem a democracia viva?”, destaca o filósofo.
Krenak evidencia a situação de total emergência do planeta. Compartilha que, por muitos mil anos, a Terra foi algo sagrada para os humanos, a natureza era um símbolo divino. Na sua visão, tudo muda quando o homem evolui e descobre como manusear a agricultura, colocando em sua função os metais e artefatos. O líder indígena lamenta, “passaram a acreditar que a terra é um organismo plástico, que podemos esticar, dobrar, enrolar, derrubar montanhas, comer os oceanos e acabar com as florestas[...] Não foi uma ação geológica que fez isso, fomos nós humanos.” A transmissão completa das mesas está disponível clicando aqui.
Quem é Ailton Krenak?
Ailton Alves Lacerda Krenak, nascido em 1953, é um líder indígena, filósofo, professor, escritor e ativista do meio ambiente. Desde sempre desejou impulsionar a cultura indígena e fazer a diferença para sua comunidade. Ailton foi alfabetizado e se formou em computação gráfica e jornalismo no Paraná. Em 1980, Ailton focou em movimentos indígenas e cinco anos depois fundou um instituto não governamental que prometia impulsionar a cultura indígena. Oito anos depois se conciliou com a União dos Povos Indígenas, a fim de proporcionar maior reconhecimento nacional à minoria. Também se alinhou com uma organização que era a favor da preservação de reservas naturais. Os anos como ativista tornaram Ailton um grande nome na luta ambiental. Em 2003, Krenak foi nomeado assessor especial de Minas Gerais com o intuito de visar os povos originários.
Recebeu título de Professor Doutor pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2016 e cinco anos depois pela Universidade de Brasília. Krenak foi chamado pela Netflix, para protagonizar a série Guerras do Brasil, onde ele cita momentos históricos de conflito armado. Durante sua vida, Ailton já lançou oito livros e desde o início de 2024, tem seu nome na Academia Brasileira de Letras.