Coronavírus traz nova recessão ao Brasil

por
Giordana Velluto
|
17/05/2020 - 12h

Ainda lutando para superar a recessão de 2015 e 2016, o Brasil deve experimentar neste ano uma crise econômica sem precedentes devido aos impactos do novo coronavírus. As expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB), que antes giravam em torno de 2,5% para cima, pioram a cada semana e agora apontam uma queda de até 9%. Até junho, o número de desempregados deve aumentar em pelo menos 2,2 milhões.

Por conta da estratégia de isolamento social, grande parte do comércio cujas atividades não são consideradas essenciais fechou e muitas pessoas perderam o emprego.

A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma que os impactos dessa pandemia já são maiores do que o choques de 2001 e 2008, e que a recuperação será ainda mais difícil para os países em desenvolvimento, onde a retomada começaria, muito lenta, a partir de junho.

A taxa de desemprego, da mesma forma, deve experimentar um forte avanço. Dos 11,6% verificados no trimestre encerrado em fevereiro, o índice deve saltar para 13,5% em junho, segundo estimativas feitas pelo economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria, em entrevista ao Valor Econômico. Em números absolutos, isso significaria um acréscimo de 2,2 milhões no número de desempregados, que passaria de 12,3 milhões para 14,5 milhões. Para o fim do ano, porém, Jensen acredita em um pequeno alívio, com o desemprego chegando a 12,9% e o total de desempregados a 13,8 milhões.

Um dos mais afetados pela crise, o setor de bares e restaurantes prevê que até o mês de maio 3 milhões de trabalhadores dos setores não essenciais sejam demitidos. A estudante de administração Isabella Carvalho, de 21 anos, foi uma das pessoas pegas de surpresa quando recebeu a notícia da demissão. Trabalhava há 3 anos em um restaurante perto de sua casa. “Pensei que essa crise fosse demorar para afetar o Brasil, isso se afetasse. Mas agora vi que a situação está bem mais grave do que imaginava”, comenta.

Isabella ajuda a mãe a pagar as contas da casa, onde mora com mais dois irmãos e o sobrinho, em Vargem Grande Paulista, no interior de São Paulo. “Agora não sei o que fazer, me sinto perdida. Não sei por onde recomeçar. Dá até um desespero”, afirma.

A indústria é a próxima a sofrer os reflexos dessa pandemia. As consequências demoram um pouco mais para aparecer, já que as fábricas têm conseguido conter demissões em massa, colocando os trabalhadores em férias coletivas ou diminuindo a jornada de trabalho. Entretanto, o setor tem uma participação cada vez menor no PIB, levando o país a uma desindustrialização precoce e à concentração cada vez maior de commodities em sua pauta de exportações.

O economista e professor da FMU Marcos Henrique do Espirito Santos faz um panorama da situação: ”O coronavírus tende a dar uma virada de jogo em qualquer possibilidade de ‘recuperação’ da economia. A taxa de desemprego vai voltar a subir, tendo um impacto muito forte, especialmente, sobre os trabalhadores informais e até sobre os formais que estão na base da pirâmide, que ganham menos e que têm uma rede de proteção menor”.

Segundo Espírito Santo, a economia do Brasil, estruturalmente falando, sempre foi informal, afinal, tratava-se de uma economia colonial baseada na escravidão. No entanto, nos governos Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2016), algumas políticas de inclusão foram implementadas, como a geração do trabalho formal. No atual governo, no entanto, a informalidade voltou a bater recorde.

Diante desse cenário, o governo anunciou uma série de ações na tentativa de minimizar a deterioração do mercado de trabalho, como o home office, antecipação de férias, férias coletivas e uso do banco de horas. Já para os trabalhadores informais, o Congresso aprovou um auxílio emergencial de R$ 600 por até três meses.

Também foi aprovado um programa de liberação de crédito por intermédio do Banco Central na intenção de corrigir as disfunções do mercado. Inclusive para disponibilizar recursos aos próprios bancos, viabilizando mais empréstimos a pessoas físicas e jurídicas e evitando que passem por uma crise de liquidez que leve à quebra do sistema como um todo.

“Esse momento que estamos prestes a viver, de recuo muito forte do PIB e de toda a atividade econômica, irá ajudar a repensar a forma de existência e organização do sistema capitalista, que já vem encontrando limites há algum tempo e desde a crise de 2008 vem dando possíveis indícios de rompimento”, afirma Espírito Santo.

Além disso, com a ciência e a pesquisas sob os holofotes do mundo, uma importante discussão, principalmente no Brasil, foi levantada. As áreas historicamente rejeitadas no país, que vêm sendo prejudicadas pelo subfinanciamento e têm perdido cada vez mais prestígio, hoje mostram, mais do que nunca, sua relevância.