Copa do Mundo feminina bate recorde de patrocinadores

Mundial sediado na Austrália e Nova Zelândia promete atingir patamares   históricos na modalidade 
por
Júlia Takahashi, Laura Mariano e Luiza Fernandes  
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05/07/2023 - 12h

O futebol feminino está, a passos largos, rompendo com a bolha de quem já assistia à modalidade e chegando a cada vez mais pessoas, se tornando um mercado que se consolida como muito lucrativo, mesmo que ainda seja pouco explorado. O ano de 2023 é extremamente importante nesse caminho. A Copa do Mundo feminina começa no dia 20 de julho e é a maior aposta da Fifa para que aconteça uma consolidação mundial da competição.   

O crescimento do esporte tem acontecido em todo o mundo, principalmente sob a ótica dos patrocínios. Cada vez mais as marcas têm buscado a modalidade, acreditando ser uma boa oportunidade de propaganda e divulgação. Segundo relatório da Fifa, só em 2022, o número de ligas femininas com patrocinadores principais aumentou de 11 para 77%.   

Além do importante aumento nos patrocínios, o interesse também cresceu. O número de competições que garantem receita de transmissão passou de nove para dez. E, nos estádios, o ano de 2022 registrou recordes de público em todo o mundo.   

A história do futebol é baseada em ser uma prática destinada aos homens, nascida na Inglaterra e popularizada rapidamente. Quando chegou ao Brasil, o esporte se concentrou na elite burguesa carioca, sendo um símbolo de estilo de vida. A estética fazia parte do estereótipo masculino da época, enquanto as mulheres não eram bem vistas praticando o esporte.   

Durante o governo do ex-presidente Getúlio Vargas, criou-se o decreto,  artigo 54 da Lei 3199/41, que confirmava essa proibição, pois a prática de desportos [era] incompatível com as condições de sua natureza”.  

O futebol feminino só foi legalizado no Brasil em 1983, quando foi regulamentado por lei. Em menos de dez anos, a FIFA organiza a primeira Copa do Mundo feminina, da qual o país fez parte, tendo a participação da atleta Formiga, a única jogadora que participou de todas as Copas.  

Ao longo dos últimos anos, o futebol feminino tem experimentado um crescimento em termos de reconhecimento e popularização. Em entrevista para a Agemt,a historiadora e pesquisadora Aira Bonfim destaca a importância das discussões de gênero para esse crescimento, “Toda a evolução que a gente tem observado na modalidade do futebol feminino, da construção de um futebol profissional, ela se trata na verdade de uma evolução que diz respeito a toda a sociedade, que envolve movimentos sociais de diferentes lugares e que refletiram diretamente na forma como acontece hoje a modalidade”, argumenta.   

No Brasil, a prática passou a ganhar espaço na grande mídia esportiva e a bater recorde de público em diversos jogos, consequentemente, as premiações e o reconhecimento aumentaram.   

Parte fundamental para a rentabilidade de qualquer esporte no Brasil e no mundo é que haja engajamento por parte de empresas privadas, que decidam patrocinar atletas, times e eventos. A professora de publicidade e propaganda da PUC São Paulo, Andréia Perroni explica por que o patrocínio é benéfico também para as empresas.   

“Para as empresas se diferenciarem no marketing hoje, elas têm adotado causas sociais que são do interesse da sociedade, se torna uma forma de ganhar a simpatia do público. Quando as empresas levantam uma bandeira, elas estão trazendo uma diferenciação, que não vem do produto para o qual ela vende, mas das imagens e dos vínculos que ela faz ao seu público. O patrocínio ao futebol feminino é uma forma de humanizar a empresa.”

Ainda segundo a professora, a Copa do Mundo de 2023 promete ser um evento fundamental para os patrocinadores. “Há todo um contexto favorável para que essa edição da Copa do Mundo traga ainda mais notoriedade e patrocínio ao esporte. Eu diria que as agências de publicidade entendem esse contexto e estão, de forma acertada, recomendando aos seus clientes o futebol feminino, e especialmente a Copa, como uma inserção de marca positiva”, afirma.   

É isso que também deseja a Fifa, que está investindo em uma premiação recorde no evento, R$ 733 milhões para times e jogadoras, transmissão na TV aberta para mais de 150 países, e também no streaming. Além do formato de disputa com 32 seleções. A audiência global é estimada em 2 bilhões de telespectadores, o dobro da edição passada.   

Um dos últimos patrocinadores a integrar a lista foi a marca de vinhos australiana, Jacob's Creek.  Além dela, Jacob 's, a lista de parceiros comerciais da Copa do Mundo conta com outras empresas de escala global. Os três maiores investidores – sem contar com a Fifa – são, Adidas, Coca-Cola e Wanda.   

Em seguida, aparecem Visa e Xero, as duas primeiras marcas que entraram na vertical comercial e específica para o futebol feminino lançada pela Fifa em 2021. A Globant e a Inter Rapidísimo também fazem parte do time de apoiadores do evento. A Visa patrocinará 33 jogadoras de 27 seleções. A relação de atletas foi lançada em março e contou com o nome da atacante brasileira, Debinha.  

A Copa do Mundo feminina já ultrapassou o recorde de público ao atingir a marca de 1.032.884 ingressos vendidos até a manhã do dia 16 de junho e se consolida como o maior evento da história do futebol feminino, demonstrando na prática o enorme potencial financeiro da modalidade.