Coordenação de mulher negra revoluciona a sala de aula

Cargo busca trazer a educação antirracista de forma não convencional.
por
Sophia Aquino Bonilla
Rafael Pereira Jorge
|
20/06/2025 - 12h

Laíza Verçosa, coordenadora de diversidade e criticidade racial na escola Sá Pereira do Rio de Janeiro organiza rodas de conversa com alunos, revista com entrevistas de funcionários e forma professores a partir do letramento racial. Há três anos nessa função a profissional luta diariamente contra injustiças no ambiente escolar.

O cargo é recente e se diferencia das coordenações tradicionais. A ideia desse posto é ser um lugar de escuta e entendimento do que é diversidade e o que é uma educação antirracista, além de ouvir vítimas de agressão e discriminação na escola.  “A importância desse cargo tem a ver com garantir que as pessoas sejam escutadas por um ouvido sensível” afirma Verçosa.

Além disso, ela forma professores a partir do letramento racial e mapeamento da diversidade na escola. Em uma gestão tradicional, os professores não têm uma função direcionada a essas questões, já essa coordenação busca colocá-lo como uma figura de referência. “O professor passa bastante tempo em uma formação integral do aluno. É uma figura que não só representa uma referência de conhecimento, mas também uma referência humanista de tratamento” explica Verçosa.

Ao ser perguntada sobre a possibilidade de coordenadores pedagógicos tradicionais exercerem essa função respondeu que isso é possível, mas ainda é complexo. Para ela, o ideal seria que esse cargo já fizesse parte do currículo escolar. “Essa pergunta desperta algumas questões, porque elas poderiam fazer esse papel, mas acredito que todas as coordenações e professores podem estar letrados racialmente para desenvolver criticidade” afirma a professora.

Durante a entrevista, ela apresentou alguns de seus projetos: como um mapeamento dos conhecimentos mais importantes para a escola como um todo, o grau de letramento e identificação racial da escola a partir de formulários e conversas com alunos e funcionários.  

Roda de conversa com os alunos. Foto: Arquivo pessoal

Seu projeto de maior destaque foi quando organizou e editou a revista ‘’diversidade”, lançada no segundo semestre de 2024. A edição contou com entrevistas com pessoas negras que trabalhavam na recepção, algumas delas faziam parte de grupos de samba e eram profissionais trancistas. A partir disso, a publicação mostrou como essas pessoas valorizavam a arte e além de funcionários eram educadores dentro daquele espaço. “É o projeto do qual tenho mais orgulho” ela completou.

O Brasil é um país que não se conhece dentro do campo das relações étnico raciais. Mesmo com a sua diversidade e complexidade, o debate racial é recente dentro do âmbito escolar, apesar de ser um problema geracional.  “Ter um cargo como esse auxiliando o professor revoluciona a sala de aula.  Faz ela ser mais inclusiva, mais respeitosa e que forme mais integralmente as pessoas para uma convivência que seja boa para todo mundo”

Segundo uma pesquisa feita em 2023 pelo (IPEC), inteligência em pesquisa e consultoria estratégica, e pelo instituto de referência negra Peregum, 38% das 2000 pessoas entrevistadas sofreram racismo na escola e faculdade.

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