As torcidas LGBTQIAP + aumentaram a presença nos estádios, com o apoio ou não dos clubes que representam. Ultrapassando a LGBTfobia, esses coletivos lutam por mais visibilidade, além do suporte dos outros torcedores. Nos anos 70, foram criadas as primeiras torcidas LGBTs, a Coligay (Grêmio) e a FlaGay (Flamengo), que não estão mais em atividade. Depois disso, só em 2013 outro coletivo foi criado, a Galo Queer (Atlético-MG), e inspirados por eles, muitos outros surgiram após esse ano. Eles surgem em contexto de afastamento dos LGBTs do esporte, por não se sentirem seguros em torcer para os seus times
A diretora da torcida LGBTricolor, Tainá Sena defende a importância da existência de coletivos e espaços diversificados. Criada em 2019, a torcida LGBT do EC Bahia surgiu como “um movimento para tentar trazer e inserir mais o público LGBTQIAP + para dentro dos estádios de forma mais segura, fazendo-os se sentir abraçados”. Além da inclusão, Tainá explica que é relevante ter um espaço que aborde e dê voz ao público não normativo no esporte: “As pautas que muitas vezes não são pensadas pelo clube e outras torcidas, nós trazemos.” Ela acrescenta que o Bahia apoia a LGBTricolor e que “em algumas pautas, o time chega junto”, além de ter o acolhimento de outras torcidas, como a Triloucas, a Bamor e o Movimento Tricolor.
Por mais que hoje seja natural, a diretora da torcida conta como era “muito difícil ver pessoas LGBTQIAP + se movimentando nos estádios, ainda mais juntas ou em grupos para frequentar os jogos”. Porque infelizmente “é uma coisa universal, a gente sabe que o ambiente esportivo ainda é muito hostil com o público LGBT. É uma luta constante contra alguns comportamentos que foram impregnados dentro dos estádios e que nossa torcida sempre tenta conscientizar de que é errado”. Tainá ainda conta que as pessoas estão entendendo que cânticos e piadas homofóbicas não têm mais espaço dentro dos estádios, e não só porque a torcida está presente, “mas também por entenderem que é um espaço de todos.”
O Vasco da Gama é um exemplo desse apoio. O time lançou um uniforme em homenagem ao movimento LGBTQIAP + e pediu por mais respeito e diversidade no esporte brasileiro em carta contra a homofobia e transfobia. “Depois disso passamos a ver mais torcedores cobrando posicionamento dos seus times e vimos a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ser pressionada por mudanças e mais ações de combatividade nesse sentido”, disse Beatriz França, uma das fundadoras da Vasco LGBTQIAP +. Para o coletivo, Beatriz afirma que a importância vai além do lançamento, já que foram questionados e consultados durante todo o processo de criação e campanha de divulgação da camisa. “Ficamos orgulhosos de saber que a nossa luta se tornou a luta do Vasco”, completou a administradora.
Em contrapartida, ainda existem times que não contribuem com a luta. “Temos apoio de várias torcidas do Ceará e de outros times, mas não temos apoio oficial do clube”, disse Ana Beatriz Monteiro, administradora das redes sociais e cofundadora da Vozão Pride, torcida do Ceará Sporting Clube. “Recebemos vários comentários negativos da torcida e faltou apoio do clube”, complementa Ana.
O PorcoÍris, torcida LGBTQIAP + do Palmeiras, também sofre com a falta de apoio do clube. Carlos, que não quis ter seu sobrenome divulgado, membro responsável pelas redes sociais da torcida, disse: “temos um apoio relativamente grande de torcedores e de outros coletivos, mas com a diretoria nós não temos nenhum vínculo, por serem conservadores e reacionários, ainda mais após as eleições de 2018”, em razão dos posicionamentos do atual presidente, Jair Bolsonaro, torcedor do Palmeiras, que possui um discurso homofóbico.