São Paulo, no Estádio do Pacaembu, berço de grandes momentos do futebol nacional, o Museu do Futebol transformou suas galerias em palco para uma das exposições mais potentes e militantes dos últimos anos na área esportiva: “CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol’’. Inaugurada em 2019, a mostra deu um verdadeiro passe de ruptura ao recontar, com precisão história e sensibilidade, a trajetória das mulheres que ousaram desafiar um sistema que as proibiu de jogar bola por quase quatro décadas.
Cartaz de divulgação. Reprodução: Museu do Futebol.
“Durante muito tempo, disseram que o futebol não era lugar de mulher. Essa exposição prova que sempre estivemos em campo, só faltava nos enxergarem”, afirma Aline Pellegrino em entrevista ao site oficial do Museu do Futebol , ex-capitã da Seleção Brasileira e uma das curadoras da exibição.
O time de especialistas reuniu a historiadora Aira Bonfim, a pesquisadora Silvana Goellner, a jornalista e ex-atleta Lu Castro e a própria Pellegrino. Juntas, elas conseguiram construir uma narrativa que vai desde o decreto-lei 3.199 de 1941, que proibiu o futebol para mulheres, pois era “incompatível com a natureza feminina”, até o tempo presente, de luta por igualdade de visibilidade e investimento.
Foram narradas histórias de resistência, como a das primeiras equipes secretas dos anos 1950, e apresentado o talento de Elzinha, Sissi, Pretinha e outras pioneiras, além da geração que quebrou o silêncio institucional para jogadoras como Formiga e Marta.
Sissi comemorando um gol. Reprodução: Museu do Futebol.
“É como se tivéssemos colocado a história no VAR. A diferença é que agora a imagem é clara: o apagamento foi proposital”, disse Aira Bonfim em entrevista ao site oficial do Museu do Futebol. Mais de 170 mil visitas foram realizadas à exposição durante os meses em cartaz em São Paulo, segundo dados do próprio museu. O sucesso foi tanto que versões itinerantes foram criadas. Uma delas, em 2023, no Museu Pelé, em Santos, SP, recebeu módulos dedicados à história local do futebol feminino, e a curadoria propôs uma intervenção com projeções sobre frases históricas de preconceito, como “lugar de mulher é na cozinha”, recortadas e projetadas, tornam-se palavras-chave da arte e resistência.
Para Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do Museu do Futebol, em entrevista ao site oficial, pontua: “Foi um ponto de virada. A sociedade passou a olhar com mais respeito para a trajetória das jogadoras brasileiras. É um contra-ataque histórico ao machismo no esporte”. O projeto fez parte do programa institucional Visibilidade para o Futebol Feminino, lançado em 2015, e ainda hoje serve como referência para escolas, federações e clubes.
Mais do que contar uma história, “CONTRA-ATAQUE!” escancarou as ausências. Reescreveu narrativas, recolocou as mulheres no lugar de onde nunca deveriam ter sido retiradas: o gramado, o museu, a memória.