Consumo de produtos sem glúten deve crescer 40% até 2022

por
Carolina Faita Baptista
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31/10/2019 - 12h

Nos últimos anos tornou-se cada vez mais comum ouvir falar de intolerância ou alergia a alguns alimentos, principalmente ao glúten. E quem possui essa restrição alimentar sabe como a busca por produtos pode ser desgastante. Além da preocupação com alimentos industrializados, as opções oferecidas ainda são escassas e geralmente caras. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 1% da população mundial sofre com a intolerância permanente ao glúten, a chamada doença celíaca.

 Essa doença é uma reação autoimune às proteínas encontradas no trigo, cevada e centeio, ou seja, o sistema imunológico identifica o alimento, que para a maioria das outras pessoas seria inofensivo, como uma ameaça. Indivíduos diagnosticados com ela sofrem danos intestinais e, se não for identificada e gerenciada corretamente, a doença pode levar ao câncer. O único tratamento é uma alimentação sem glúten por toda a vida.

Aninha Rodrigues, nutricionista e dona do perfil @meusegredinho, criado em 2013 para contar sobre sua vida sem glúten, hoje conta com mais de 50 mil seguidores no Instagram. Descobriu ser celíaca em 2012, aos 33 anos. Ela conta sobre a dificuldade que tinha há sete anos de encontrar produtos para celíacos. Hoje já temos gôndolas especiais na maioria dos mercados, e há uma oferta bem maior de produtos, inclusive com melhor qualidade. Acredito que aconteceu por uma evolução do mercado, tanto pelo crescimento da demanda pela popularização da dieta sem glúten, da onda saudável e fitness, ascensão do lowcarb, quanto pela maior disseminação de informações sobre as desordens relacionadas ao glúten.

Manter uma dieta especial como essa não é barato. Um estudo de 2018 no Reino Unido mostrou que alguns itens sem glúten custam, em média, 159% a mais do que os convencionais. Os produtos sem glúten substitutos variam. Encontramos pães pelo dobro do preço dos tradicionais ou até mesmo por quatro vezes mais. Mas é uma produção menor, que demanda mais ingredientes, mais cuidados, laudos e certificações que têm custo elevado, além de muitas vezes os produtos mais caros serem importados e por isso têm toda a carga de impostos e tramitação incluídos no valor final, diz Aninha.

Porém, esse mercado vem crescendo cada vez pela moda dos regimes sem glúten. Dados da consultoria internacional Euromonitor mostram que este setor deve ter uma expansão de 35% a 40% nos próximos três anos. Os produtos glúten-free existem para atender ao público celíaco, mas ganharam e conquistaram consumidores que não possuem a doença, mas que buscam uma alimentação natural e mais saudável. Há o entendimento de que a ausência de glúten ou lactose torna um produto light ou fit.

A arquiteta Luciana de Oliveira tem uma filha celíaca há mais de cinco anos e aprendeu a fazer produtos sem glúten, por meio de cursos e workshops. Ela conta que, nesse período, as opções de alimentos seguros para sua filha aumentaram significativamente. Vêm crescendo cada vez mais, pela procura por uma alimentação mais ‘saudável’ e dietas isentas de glúten, açúcar e lactose, diz. Luciana acredita que essa demanda torna o mercado mais atraente aos investidores, beneficiando quem tem a restrição a esses alimentos.

Referindo-se à experiência de sua filha, Luciana também fala sobre os desafios de quem sofre esse tipo de alergia alimentar, que abrangem a mudança de hábitos, de cardápio e a aceitação pela sociedade. A maior dificuldade que vejo é quando ela sai de casa, pois há sempre a dúvida de comer na rua algo que seja em primeiro lugar seguro, pois os lugares na maioria das vezes não estão preparados para atender pessoas com restrições alimentícias. Mas, também, é a visão das pessoas sobre a situação dela que é difícil, pois acham que é frescura, e não veem que realmente é uma questão de vida ou morte.”

Investir nesse nicho é uma boa opção para os empreendedores e também facilitará a vida de celíacos em todo o país. Mesmo sendo um grupo restrito, é fundamental para essas pessoas encontrar alimentos para elas comerem bem e de forma saudável, sem a necessidade de uma mudança tão radical de uma hora para outra, realidade que os celíacos enfrentam hoje no Brasil.