A década de 60 foi, certamente, o período em que o tropicalismo esteve mais em alta. O movimento buscava, entre outras coisas, redescobrir e valorizar a cultura nacional. Mesmo depois de tanto tempo, a valorização da cultura brasileira permanece sendo tema recorrente na indústria cultural.
Não à toa, um levantamento feito pelo Flow Creative Core sobre o consumo de música entre os jovens brasileiros de 11 estados mostrou que a MPB foi o gênero mais escutado durante a pandemia, em especial álbuns e artistas já consolidados no mercado.
Entretanto, o motivo dessa preferência vai muito além de um sentimento patriota. É, na verdade, uma busca por conforto. A pesquisa explica que essa escolha se deu pela busca de “memórias positivas para enfrentar um momento difícil e incerto”. O aumento de streamings da MPB se reflete também no crescimento de festivais voltados para esse gênero.
O estudante de administração Enzo Nascimento, 21, frequenta festivais com a presença só de brasileiros e também aqueles com brasileiros e gringos. Ele afirma ter uma preferência por aqueles com a primeira categoria. “Gosto como me sinto em casa nesses festivais[...] Acho que antes da pandemia não tínhamos essa diversidade de festivais nacionais, não só de MPB, como de funk, trap e outras vertentes”, diz Nascimento.
Sobre a ascensão de festivais que priorizam artistas brasileiros, Sofia Barbará, coordenadora de festivais da Time For Fun, companhia responsável pela gestão de marca e de projeto, acredita que “o público tenha o mesmo desejo em ver seus artistas favoritos, tanto nacionais quanto internacionais. Acho que a diferença é o número de oportunidades que um fã tem de poder ver o artista, que acaba sendo maior quando eles são nacionais por tocarem em mais eventos”, declara.
Essa menor chance de assistir a um artista internacional, repercute na forma como o público se comporta na hora dos shows. Nascimento afirma que, em casos de apresentações de cantores internacionais, “o pessoal fica muito louco”, provocando uma confusão, que, segundo ele, contrasta com performances nacionais. “Nos [shows] nacionais, acho mais tranquilo, consigo curtir o show melhor”, diz o estudante.
O crescimento de festivais e públicos é resultado também de uma nova forma de os gêneros e artistas se relacionarem. Barbará comenta que “nos últimos anos muitas parcerias misturando diferentes gerações de artistas da música brasileira, aproximou a geração Z [nascidos entre 1990 e 2010] e millennial [nascidos entre 1981 e 1996] da produção nacional. Esses fatores fazem com que existam tantos festivais focados na cultura brasileira hoje”, afirma.
Apesar desses eventos se proporem a enaltecer a música brasileira, eles não alcançam todo o Brasil, por dois motivos principais: localidade e preço. A maioria dos festivais se concentra no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, cidades da região Sudeste, a mais rica do país.
Os valores variam muito porque dependem da quantidade de dias e da modalidade de ingresso. Mesmo assim, os ingressos dos festivais com line up só de artistas brasileiros são mais baratos do que aqueles com atrações estrangeiras. Barbará explica que a discrepância se deve aos cachês mais altos dos artistas internacionais. “Até por ser em outra moeda, influencia nos valores dos ingressos, algo necessário para que seja possível fazer o evento acontecer”.
Apesar disso, a profissional avalia que, embora seja um fator importante na tomada de decisão do cliente, “a principal motivação sempre vai ser o interesse pela música, artista ou banda que estará presente”.