O auxiliar administrativo Guilherme Moura conta que foi desligado da empresa onde trabalhava no dia 26 de março, dois dias depois da quarentena obrigatória ser decretada no estado de São Paulo. Ele mora na cidade de Barueri (SP), tem dois filhos e sua mulher é representante de vendas. A mulher continua trabalhando de casa, mas o número de clientes diminuiu, afetando seus ganhos. “Já vou atrás de outro emprego, mas por enquanto vou ter que me virar com o dinheiro da rescisão”, afirma Guilherme.
Infelizmente, ele não é o único brasileiro demitido por causa da crise gerada pelo COVID-19. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre) calcula que a taxa de desemprego, que antes da pandemia era de 11,6%, chegará a 16,1% no segundo trimestre deste ano. Caso a previsão se confirme, o número de desempregados saltará de 12,3 milhões para 17 milhões. Ou seja, 5 milhões de pessoas vão perder seus postos de trabalho.
Quem também está entre essas pessoas é Yasmin Colombo, que estagiava em um cartório da cidade de Campinas (SP). Antes de a quarentena começar, havia recebido a notícia de que seria efetivada. Mas, no dia 24 de março, soube que seria desligada. Ela tem a esperança de voltar a trabalhar no local depois que a quarentena acabar.
Yasmin mora com sua mãe, Adriana Colombo, supervisora de atendimento. Adriana poderia estar trabalhando de casa, mas não tem computador. “Ela está sofrendo uma pressão terrível da empresa, que não fornece para ela ferramentas para trabalhar”, diz Yasmin.
A faculdade de Yasmin é paga pelo pai, que é empresário. A garota teme os impactos da crise sobre seus estudos, pois as atividades da empresa do pai diminuíram e, diante disso, ela talvez tenha que trancar o curso.
Assim como Guilherme, Yasmin afirma que já vai começar a mandar currículos para outros lugares. A coach e mentora de carreiras especialista em recolocação Angélica Kuntz avalia que, para quem perdeu o emprego, o melhor a fazer é atualizar o currículo e adaptá-lo aos novos objetivos de trabalho.
Angélica indica o Linkedin como uma boa ferramenta para se reinserir no mercado de trabalho. Segundo ela, a plataforma é o mecanismo de busca mais utilizado por profissionais de recursos humanos. Seguir as dicas de especialistas em recolocação também pode ser interessante para ter um perfil mais competitivo na busca por emprego.
Angélica reconhece, no entanto, que o momento não é o melhor para abordar RH’s. “Há vagas dispostas no mercado, porém grande parte delas é para fazer banco de currículo, que só será usado quando a empresa voltar a contratar”, afirma .
De acordo com a especialista, esse momento de quarentena é ideal para fazer cursos online e, com isso, melhorar suas competências. É importante pensar que cursos se encaixam nas atribuições exigidas em possíveis vagas a que o desempregado pretenda se candidatar no futuro. Várias plataformas oferecem cursos gratuitos ou de baixo custo.
Para quem está empregado e teme ser demitido, Angélica afirma que uma boa ideia é conversar com o RH e procurar saber se existem, de fato, perspectiva de desligamento. Neste caso, o profissional pode tentar um acordo com a empresa que evite a demissão.
A MP 936 permite que os empregadores reduzam a carga horária e os salários dos funcionários. Também pode haver suspensão temporária do contrato de trabalho. Nos dois casos, o governo vai compensar parte da perda de remuneração do trabalhador. O valor da compensação tomará como base o valor mensal do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito. E vai depender de como foram feitas as alterações no contrato.
Mesmo com essas medidas, o número de desempregados vai crescer e a situação deve demorar para melhorar. Na recessão de 2015 e 2016, por exemplo, a taxa de desemprego subiu de 7% para 13%, mas só caiu 2,5 pontos percentuais nos últimos três anos.
Para ajudar quem busca emprego
Além das dicas já dadas, a mentora de carreiras especialista em recolocação Angélica faz mais alguns lembretes:
- No Linkedin não diga que está busca de recolocação. As empresas procuram um profissional de determinada área e não alguém em busca de recolocação;
- Sempre deixe seus contatos (e-mail e telefone) em fácil acesso;
- Ative suas notificações, acesse e responda seus e-mails;
- Nunca pague por nenhuma entrevista. Empresas sérias não cobram por recrutamento;
- Mantenha-se ativo no Linkedin e tenha uma rede de pessoas que podem indicá-lo;
- Tenha uma estratégia, faça uma lista de empresas que você tem como alvo. Não empresas dos sonhos, mas lugares que podem absorver seu perfil.
Angélica também deixou modelos de currículo, que podem ser baixados aqui.