Foto: Reprodução Facebook / @PabloMarcall
Na cobertura eleitoral da disputa à prefeitura de São Paulo, a AGEMT fará reportagens com o perfil dos principais candidatos. Como critério, foram considerados os candidatos que pontuaram acima de 5% nas pesquisas de intenção de votos registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesta reportagem, será apresentado o perfil do candidato Pablo Marçal, do PRTB.
No dia 4 de agosto, o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) oficializou o nome de Pablo Marçal na disputa à Prefeitura da cidade de São Paulo. De acordo com o candidato, o partido foi o único que aceitou colocá-lo na corrida eleitoral.
O evento de lançamento da campanha aconteceu na Max Arena, localizada no bairro da Mooca, na zona leste da capital. O local escolhido para sediar a convenção se propõe moderno, tecnológico e possui uma decoração futurista, que reflete as propostas do novo candidato. “Vamos levar São Paulo para 2050”, afirmou em seu discurso de abertura, sugerindo que o local é o que ele pretende colocar em prática no seu governo, se eleito.
Marçal anunciou Antônia de Jesus (PRTB) como candidata à vice-prefeita. O empresário afirmou que sempre buscou uma mulher para compor a chapa e que a vice escolhida compartilha de suas causas e que, assim como ele, “acredita no povo”.
Jesus é policial militar, natural da Bahia, mas reside no bairro de Pirituba, na zona norte de São Paulo, há 22 anos. A militar, única candidata negra na disputa, teve suas características destacadas por seu parceiro de chapa que a apresentou como “policial, católica, negra e nordestina”.
Quem é Pablo Marçal?
Nascido em Goiás (GO), em 18 de abril de 1987, Pablo Henrique Marçal tem 37 anos e é filho de uma empregada doméstica com um funcionário público. Sua carreira profissional teve início aos 18 anos, com o cargo de atendente de call center na antiga Brasil Telecom, onde atuou por sete anos até deixar a empresa como líder de Recursos Humanos (RH).
Com mais de 12 milhões de seguidores no Instagram, o empresário é conhecido por ministrar palestras motivacionais e cursos sobre como ganhar dinheiro. O influenciador se diz cristão, é casado com Ana Carolina Marçal, pai de quatro filhos, e expõe sua rotina de “homem bem-sucedido e conservador” nas redes sociais.
Foto: Reprodução/Instagram
O ex-coach é o candidato mais rico na disputa pela chefia executiva de São Paulo. Segundo a plataforma de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais (Divulgacand), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seu patrimônio é avaliado em cerca de R$169,5 milhões, divididos em aplicações, investimentos e participações societárias, além da posse de um terreno e imóveis em Goiás e São Paulo.
Controvérsias de Marçal
Em 2022, com discursos pautados no ultraconservadorismo neoliberal, Marçal se candidatou à presidência pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS). O candidato encontrou resistência dentro do próprio partido, dividido entre o apoio à oficialização de seu nome na disputa, e o apoio ao candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As divisões internas e a falta de apoio inviabilizaram a disputa da corrida presidencial, que mais tarde foi indeferida pelo TSE. O partido integrou a Coligação Brasil da Esperança, em apoio ao atual presidente, Lula da Silva (PT), e Marçal declarou apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
O empresário chegou a doar R$100 mil para campanha do ex-presidente e participou de reuniões com sua equipe para ajudar com estratégias da campanha digital.
Foto: Reprodução/Instagram
Ainda filiado ao PROS, Marçal se candidatou a deputado federal pela capital paulista. Em setembro, dois meses antes das eleições, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) rejeitou o registro de sua candidatura devido à falta de documentos.
O empresário, no entanto, concorreu sub judice e foi um dos 20 candidatos mais votados em todo o Brasil, com 243.037 votos. Marçal foi eleito, mas Ricardo Lewandowski, então ministro do TSE, indeferiu sua candidatura, o que o impediu de assumir sua cadeira no Congresso Nacional.
Os processos de Marçal
Durante a campanha, Marçal tem sido alvo dos adversários por causa de supostas ligações entre integrantes do PRTB e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). No início de agosto, a “Folha de S. Paulo” revelou áudios em que Leonardo Avalanche, presidente do partido, afirma ter ligação com o PCC.
Na gravação, Avalanche afirma ter sido responsável pela soltura de André do Rap, um dos chefes da organização, preso por gerenciar o envio de grandes remessas de cocaína à Europa. O traficante foi solto em 2020, depois de ter um habeas corpus concedido pelo ministro do supremo tribunal ( STF) Marco Aurélio Mello. Pablo Marçal, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, negou as suspeitas de ligação de seu partido à facção.
O influenciador também já foi condenado por participar de uma quadrilha de golpes. Segundo registros do processo na 11ª Vara Federal de Goiânia, Marçal foi temporariamente detido em 2005, com 18 anos, por participar de uma quadrilha que realizava fraudes bancárias.
Em 2010, ele recebeu uma sentença de quatro anos e cinco meses de prisão por furto qualificado (conforme o artigo 155 do Código Penal) da Justiça Federal. Somente em 2018, um recurso foi avaliado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Devido à demora do tribunal em analisar o caso, ocorreu a prescrição da pena, o que significa que Marçal, mesmo considerado culpado, não precisou cumprir a sentença.
Em junho de 2023, um seguidor de 26 anos morreu após uma maratona de 42km organizada por um grupo empresarial de Pablo Marçal, em Alphaville, São Paulo. Em uma publicação nas redes sociais, o ex-coach alegou que não participou da promoção da corrida e reforçou o diagnóstico de uma doença pré-existente. O caso foi levado para o 2° DP de Barueri que registrou o caso como “morte suspeita".
Marçal tornou-se conhecido por um ”evento de superação e desafios extremos”, realizado em 2022. Na ocasião, o ex-coach levou um grupo de 60 seguidores, sem preparo físico, ao pico da Montanha dos Marins, em São Paulo, em condições climáticas adversas, com neblina e chuva intensa.
Apesar dos riscos, o influenciador insistiu em continuar a subida, e alguns membros do grupo relataram momentos de pânico. “Eu não mandei ninguém subir! E fui na frente, subi e resolvi”, disse Marçal, em entrevista ao Domingo Espetacular, na Record.
O grupo não conseguiu finalizar a expedição e precisou ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros. Paulo Roberto, chefe da operação de resgate, afirmou ao G1 que “essa foi a pior ação já feita no Pico dos Marins”. A subida da montanha é recomendada apenas nos períodos de estiagem, com guia e equipamentos de segurança.
Cortes do Marçal
Desde as eleições de 2022, Marçal oferece pagamentos a seus seguidores pela replicação de vídeos nas redes sociais, com cortes de suas falas em debates e entrevistas, com o objetivo de impulsionar sua campanha na web.
A estratégia do influenciador, conhecida como “Cortes do Marçal”, foi questionada pela Justiça Eleitoral por suposto financiamento de postagens com recursos não contabilizados. Este ano, as redes sociais do candidato foram temporariamente derrubadas pelo uso indevido destes vídeos, utilizados em ataques a adversários.
“Eu pago 200 pau toda semana e vai aumentando, pelas visualizações. Não sou eu quem impulsiona, eu ensino os caras a cortar. Taí nos stories, quem estiver assistindo pode ir lá no Pablo Marçal e fazer 10 mil por mês, 20. Tem moleque fazendo 400 mil por mês com os meus cortes", disse o candidato em postagens do TikTok.
No site oficial do TSE, o extrato de prestação de contas eleitorais de Pablo Marçal aponta que o investimento em pesquisas ou testes eleitorais é de R$40 mil, enquanto as despesas para o impulsionamento de conteúdos online são de R$82 milhões.
O alcance e engajamento do candidato do PRTB nas redes sociais é superior aos números atingidos pelos demais concorrentes, podendo compensar a falta de estrutura política em sua campanha.
Após uma ação movida pelo PSB, em agosto de 2024, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), suspendeu temporariamente as redes do candidato.
Na decisão do magistrado Antônio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral do TRE-SP, a determinação suspendia apenas as redes sociais que “buscaram a monetização dos ‘cortes’ por meio de terceiros interessados”. A sentença proibiu que Marçal remunere pessoas que compartilhem seus vídeos editados. O descumprimento da decisão resultaria em multa diária de R$10 mil.
Pablo Marçal (PRTB) em caminhada na rua 25 de março no primeiro dia de campanha em São Paulo - Foto: Bruno Santos/Folhapress
Principais propostas
Em seu programa de governo, o candidato do PRTB propõe o aumento do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM), com maior investimento em inteligência e tecnologia, além de criar programas de segurança local, como a "guarda no bairro".
Uma das propostas da chapa para a mobilidade é a criação de uma rede de teleféricos para melhorar o transporte público e a construção de "bolsões de estacionamento" para facilitar o fluxo de veículos na cidade.
"A ideia é criar esse cinturão de teleféricos, que não é a solução para o trânsito na cidade, mas para honrar o povo da comunidade”, afirmou ao UOL. O trajeto proposto por Marçal ligaria a Brasilândia, na zona noroeste, a Vila União, zona leste, e o Capão Redondo, na zona sul.
Segundo seu plano de governo, Medellín, na Colômbia, e La Paz, na Bolívia, que possuem uma rede de bondes aéreos, inspiraram o projeto. No entanto, diferente da configuração de São Paulo, as duas cidades possuem terreno acidentado e estão a mais de mil metros do nível do mar, com morros que o metrô subterrâneo não alcançaria.
Além disso, o candidato pretende construir o maior prédio do mundo, com 1 km de altura, como símbolo de inovação e progresso, buscando posicionar São Paulo como um centro global de negócios e cultura.
A última versão da Lei de Zoneamento, no entanto, aprovada em dezembro do ano passado, determinou que a altura máxima dos prédios em zonas centrais é de 48 metros, enquanto nas demais regiões, o limite é de 42 metros. A proposta de Marçal exigiria a alteração do Plano Diretor da cidade.
Durante a sabatina UOL/Folha, jornalistas questionaram Pablo Marçal sobre a viabilidade de suas propostas e o candidato assumiu não poder cumpri-las em quatro anos.
“Não dá pra fazer em quatro anos. O problema é que todo mundo quer fazer em quatro anos, vai embora e o outro larga. A gente só tem política eleitoreira. Não dá para resolver nenhum plano de governo dentro de quatro anos”, afirmou Marçal.