Comunidade se prepara para defender representatividade

Faltando menos de dois meses para as eleições, eleitores LGBTQIA + reafirmam a importância de votar a favor de suas causas
por
Guilherme Timpanaro Gastaldi
Caio Flückiger
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01/09/2022 - 12h

Na medida em que chegam as eleições, começam a surgir as propagandas e os debates televisivos, além é claro, da incessante busca pelo candidato ideal por parte do eleitor, que tem em suas mãos a responsabilidade de exercer seu papel como cidadão e fazer a escolha certa. Maike Alves, 28, é tatuador e membro da comunidade LGBTQIA + e acredita que a possibilidade de escolher um representante político é um direito de grande importância. Em suas próprias palavras, “garante não só a possibilidade de participar da vida em sociedade como também é uma oportunidade de eleger alguém que garanta melhorias para mim e para as comunidades que pertenço”.

Dentre as propostas avaliadas pelos eleitores, a agenda atual da sociedade exige demandas, explicações, projetos e atenção extrema para pautas de inclusão de minorias e uma cada vez mais emergente preocupação com a questão da diversidade, de um modo geral. Alves acredita que na hora de selecionar o candidato, além de levar em consideração propostas relacionadas à saúde e educação, ter projetos que priorizem causas sociais e defender direito de minorias é essencial. Porém, quando se trata de pautas relacionadas à comunidade LGBTQIA +, Alves observa que políticos que representam uma porcentagem maior da sociedade não costumam falar sobre os direitos do movimento e dentre aqueles que de fato abordam tal temática, "a grande maioria das propostas são vazias, não se concretizam em ações”, disse. 

A pauta LGBTQIA + vem sendo cada vez mais abordada e discutida entre a população e a busca por mudanças é notória, refletindo no aumento de candidatos LGBTQIA + em relação a 2018. De acordo com levantamento realizado pela organização VoteLGBT, para as eleições de 2022, 214 candidaturas LGBTQIA+, de 20 partidos diferentes, foram registradas na Justiça Eleitoral, para disputar a eleição deste ano. O número é maior que em 2018, quando foram registradas 157 candidaturas, mas ainda é pouco, sendo apenas 0,76% do total de candidaturas destas eleições. Para Alves, por mais que dentre os 99% vários sejam simpáticos à causa, por não viverem sua realidade, eles não entendem perfeitamente o que a comunidade passa, dificultando a realização de mudanças reais. Essas que na visão do tatuador, só virão com o aumento no número de candidatos que se identificam como LGBTQIA +.

Pedro Mazziero, 23, é ator e modelo, homem cisgênero e bissexual. Ele não “bota fé” nos planos de governo, mesmo dos candidatos aos grandes cargos, como Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, candidatos à presidência da República. Frisa sua desilusão e desesperança com a política em geral, apesar de reforçar seu desejo de extirpar a direita “louca e fascista”.

Ele destaca sua motivação por causa das poucas medidas públicas sistemáticas tomadas de 2018 para cá, além de dizer que “pelo nosso histórico, pode ser muito provável que os candidatos estejam mentindo. Estou bem neutro em relação ao que os políticos estão propondo”.

Pedro ressalta ainda que não enxerga possibilidade de haver medidas focadas na comunidade LGBTQIA +, justamente pelo fato de a representatividade da comunidade nas candidaturas ser baixíssima - menos de 1%. Para haver qualquer mudança significativa, seria necessária maior representatividade. “A classe política é, pelo menos abertamente, maioria esmagadora hétero. Não acho que o sistema vá mudar. Todo mundo fala e fala. Minha amiga, que é modelo trans, apanhou em um 99”, desabafa.