Compositor do hino de Jacareí ouvia notas até no barulho da louça

Amante da música, Messias Santos foi professor e chegou a tocar com grupo que acompanhou Carmem Miranda
por
Maria Sofia Aguiar
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20/11/2020 - 12h

“Ele foi feito para a música e a música foi feita para ele”, afirma Américo de Oliveira, meu pai e neto de Messias Santos. O músico nasceu em Paraibuna, em 1909, e muito novo se mudou para Jacareí – pequena cidade do interior de São Paulo. Lá, iniciou sua trajetória com a música, deixando um legado não só para nossa família como para a cidade.

Autodidata, Messias aprendeu música sozinho. Tinha o “ouvido absoluto”, termo usado àqueles que conseguem identificar as notas musicais em qualquer barulho. “Quando minha vó lavava louça e uma colher batia em um prato, ou quando uma campainha tocava, a gente ouvia uma voz de fundo gritando ‘Si Bemol!’. Era ele. Sempre brincalhão e sempre colocando a música em todas as partes do seu cotidiano”, relembrou Oliveira.

Apelidado de Marajó pelos amigos, reunia todos em sua casa para tocarem chorinho. “Ele no violão e no bandolim, outro na flauta transversal, um no clarinete, no pandeiro, outro na voz. Era muito divertido. Saudade”.

Marajó participou de programas musicais da antiga Rádio Clube de Jacareí. Na década de 1930 e 1940 tocou com o conjunto vocal e musical Banho de Lua, os pioneiros no Brasil a harmonizar as vozes e que tocavam com Carmen Miranda. Messias era seresteiro.

Ele também era professor de violão clássico e ministrava aula todos os dias. Era o mais dedicado possível. “Lembro dele pedir aos alunos que levassem um caderno de desenhos sem as pautas musicais, porque gostava de fazer aquelas linhas todas e notas à mão, para saírem perfeitas.”

Em 1969, junto ao poeta e amigo Benedito José Mendes Silva, decidiram criar o hino de Jacareí. E foi um sucesso. Pelos serviços prestados à cidade, não só pelo hino, mas por ser muito querido e conhecido, foi homenageado na Câmara Municipal e recebeu, em sessão solene, a “chave da cidade” e o título de “cidadão jacareiense”.

Marajó faleceu em 1984. “Era incansavelmente prestativo. Era meu segundo pai”, concluiu Oliveira. Sempre lembrado com muito carinho e orgulho pela família, seu dom e amor pela música foi transmitido aos filhos, netos e bisnetos. Mas sua memória não está guardada apenas com os familiares, e sim, com toda a “cidade-paz Jacareí”. Messias Santos honrou e sempre honrará jacareienses.

Messias Santos
Messias Santos

 

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