O livro ‘’Como Sair das Bolhas?’’ de Pollyana Ferrari começa sendo apresentado por Martha Gabriel, formada em Engenharia Civil pela Unicamp, pós-graduada em Comunicação de Marketing pela ESPM-SP e professora de pós-graduação na PUC-SP do TIDD (Tecnologias da Inteligência e Design Digital). Ela inicia falando sobre o ser humano e sua relação com a tecnologia, e, lista os desafios que implicam a velocidade com que se propaga as informações. Além, de introduzir os conceitos de fake news e pós-verdade. O prefácio é feito por Lúcia Santaella, formada em Letras Português/Inglês, professora titular no programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, que aborda sobre como somos invadidos diariamente por notícias e informações falsas através das redes sociais, como por exemplo, o Facebook. Para embasar a sua análise, cita alguns teóricos, sendo um deles Sigmund Freud quando fala sobre a bondade inata do homem e que isso parece até uma miragem nos dias de hoje. Atribui a notabilidade da expressão pós-verdade após a vitória de Donald Trump na eleição americana de 2016 e do plebiscito do Brexit, no Reino Unido, no mesmo ano.
Além disso, menciona os três fatores que fomentam a indústria de fake news - que são, respectivamente: o ambiente de alta polarização política, a descentralização da informação pelos meios de comunicação independentes e o ceticismo generalizado entre as pessoas em relação às instituições democráticas, com os principais alvos sendo os governos, partidos e veículos de mídia tradicional. Santaella classifica esta obra de Ferrari como ‘’um verdadeiro manifesto contra a leviandade ingênua ou deliberada das crenças e dos compartilhamentos às cegas.’’
O manuscrito possui doze capítulos, no total, e a cada seção, a autora escolheu colocar uma frase ou um excerto dito por um escritor, com exceção do primeiro. Pollyana abre o livro contando um pouco sobre sua vida pessoal e compartilha sua visão espiritual com os leitores, cita o poder da meditação e destaca a importância de se viver o presente. No mundo agitado em que vivemos, muitas vezes nos encontramos escravizados pela correria diária e pela dependência dos nossos dispositivos móveis. Isso nos leva a realizar múltiplas tarefas simultaneamente, resultando na perda da conexão conosco mesmos e no esquecimento de apreciar o momento presente e a profundidade do silêncio.
Ela explica, também, que vivemos em uma bolha, e isso significa que, às vezes, não percebemos que estamos dentro dela, portanto, não buscamos formas de sair. É algo que já se tornou intrínseco e automatizado em nós, mas basta repararmos se só frequentamos os mesmos estabelecimentos, se só ouvimos o mesmo gênero musical, entre outros comportamentos limitadores, que devemos evitar ceder à zona de conforto imposta por essas ‘'bolhas’’. A escritora relata que este livro foi feito a partir dos oito passos do Shastra Abhidharma Mahavibhasha em mente, e enfatiza a influência dos ensinamentos de Buda e da filosofia védica para a construção desta obra.
Aponta as ferramentas necessárias para identificarmos se a notícia é falsa ou verdadeira, apresenta algumas agências de fact-checking (checagem de fatos) como a Lupa, a primeira no Brasil, uma empresa privada patrocinada pelo Instituto Moreira Salles. Aos Fatos, que teve seu surgimento por meio de investimento próprio dos fundadores, sendo suas três fontes de financiamento: as parcerias editoriais, as contribuições da iniciativa privada e de organizações da sociedade civil e apoio de leitores e de financiamento coletivo (crowdfunding). Preto no Branco, primeiro blog de checagem de fatos do Brasil, criado com o objetivo de testar o grau de veracidade dos políticos durante as campanhas eleitorais, possui classificação própria para dar suas notícias e usa termos como: falso, ainda é cedo para dizer, insustentável, verdadeiro, mas…; contraditório e exagerado. Chequeado, site pioneiro da América Latina dedicado à verificação do discurso, está entre as dez primeiras organizações do mundo, é comandado por uma jornalista, advogada e professora chamada Laura Zommer, especializada em direito à informação pública, e mantém-se com um plano de negócios diversificado, obtém sua fonte de renda por meio de indicações de particulares, colaborações com empresas na realização de eventos e parcerias internacionais.
A autora cita o Instituto Poynter, líder mundial em jornalismo, e o código elaborado por eles a ser compartilhado por meio da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN), que vem sendo adotado por diversos veículos e contém cinco itens, que são: 1) Compromisso de apartidarismo e equidade, 2) Compromisso pela transparência das fontes, 3) Compromisso pela transparência de financiamento e organização, 4) Compromisso com transparência de métodos, 5) Compromisso com correções francas e amplas. Este código é usado desde 2017 pelo Facebook para filtrar informações. Ademais, a rede social incluiu o item fake news no menu para denúncias.
Ao longo de sua reflexão, Ferrari explora algumas concepções para abordar a questão da credibilidade das informações publicadas. Ela sugere que, com a volta dos jornais por meio de assinaturas, os leitores passarão a valorizar mais a veracidade das notícias e procurarão fontes que ofereçam serviços de checagem. Ela observa, também, que as notícias falsas se espalham de forma rápida devido à intervenção dos algoritmos e dos bots (robôs). Além do mais, Ferrari aponta que os jornalistas também têm uma parcela de responsabilidade na disseminação das notícias falsas, já que na busca pela primazia na divulgação das informações, a devida apuração dos fatos muitas vezes é negligenciada, resultando em possíveis notícias que não são verdadeiras por completo.
Declara, que a tecnologia não é a vilã da história, basta sabermos como utilizá-la da melhor forma possível, usufruindo de todas as ferramentas que ela nos oferece, para assim, domá-la ao nosso favor. Visto que, até mesmo os empresários e CEOs das grandes empresas de big techs da Califórnia não matriculam seus filhos em escolas que têm acesso livre a internet, muito pelo contrário, suas escolhas são pautadas nas que proíbem o porte e o acesso a dispositivos eletrônicos.
Por fim, nos propõe refletir quanto a dependência que a sociedade adquiriu em ser aceita a todo custo, um exemplo disso, é a foto lotada de filtros e efeitos que são capazes de nos transformar em outra pessoa - o famoso efeito degradante do ‘’Photoshop’’.
Para fundamentar a sua análise, referencia o filósofo polonês Zygmunt Bauman, quando aborda a questão de que vivemos em uma sociedade onde tudo é efêmero, o que sobrecarrega nosso cérebro diante da avalanche de conteúdo a que somos expostos a cada minuto por meio de nossos dispositivos. Contudo, não podemos embasar a nossa felicidade em coisas que não fazem parte da nossa realidade e em padrões inalcançáveis.
A partir do avanço da informação e do estímulo que desenvolvemos para recebermos novidades a cada segundo, nos tornamos ‘’reféns’’ dessa sociedade capitalista de consumo, e sempre quando compramos algo novo, imediatamente já estamos desejando o próximo item. O fato é que nos tornamos seres insaciáveis.