Os chamados preços administrados se referem a bens e serviços que têm os valores estabelecidos por meio de contratos ou pelo governo, sendo desta forma menos sensíveis às condições de oferta e demanda. Seus ajustes são periodicamente realizados, provocando assim um impacto na inflação do momento.
Entre os itens classificados como preços administrados, encontram-se os impostos e taxas presentes em todas as esferas do governo, como o IPVA e o IPTU; os serviços públicos, como energia e saneamento básico; e derivados de petróleo, como a gasolina; as tarifas de pedágio e diversos outros. A lista de preços administrados contém 23 itens, que têm participação de aproximadamente 24,10% no índice oficial de inflação (IPCA).
Como cada item tem um contrato específico e é tratado de forma distinta dos outros, seus reajustes são feitos de acordo com regras próprias para cada serviço. O petróleo, por exemplo, tem seus valores estabelecidos pela Petrobras no mercado interno e pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) no mercado externo. Por conta dessas regulagens impostas por organizações ou Estados, os preços administrados são, com frequência, mais altos do que os livres, que seguem a lógica de mercado.
Muitos dos contratos que estabelecem reajustes de preços utilizam o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) como um dos indexadores de preços de custos, como é o caso dos serviços de energia. Outros, como os serviços de telefonia, se baseiam nos próprios preços de custo.
Em sua maioria, os índices de preços são muito sensíveis a variações na taxa de câmbio, mas isso não é uma regra, já que existem serviços que são mais afetados por outros fatores, como é o caso dos planos de saúde, que são mais impactados pela inflação dos serviços médicos.
Até o ano de 2006, a variação de preços administrados foi superior à dos preços livres e isso ocorreu por conta das depreciações cambiais de 1999 e 2002, além da privatização de vários serviços públicos nos anos 90. Desde 2007, os preços administrados são menos inflacionados do que os preços livres. O Banco Central (BC) tem sua própria maneira de estimar os preços administrados que difere da forma que calcula os preços livres. Os valores dos preços administrados são vistos como choque de ofertas, e a política monetária é usada para combater seus efeitos secundários, como impacto em outros preços.
No dia 19 de outubro, o Boletim Focus, divulgado pelo BC, apontou para a alteração na projeção dos preços administrados em 2020. A mediana das previsões do mercado financeiro para o indicador este ano foi de 0,92% para 0,96%. Para o ano de 2021, passou de 3,91% para 3,90%. Um mês antes, o mercado projetava variações de 0,90% e de 3,84% em 2020 e 2021, respectivamente.
As alterações se devem ao momento incomum vivido pela economia nacional, por conta da pandemia de Covid-19. Porém, em mercados como o petroleiro e o de comunicações, os impactos da pandemia não foram determinantes para a variação de valor. A mediana dos preços administrados caiu apenas 0,05% entre os dias 12 e 19 de outubro deste ano.
Para o administrador de empresas, economista e contador Marcelo Arantes de Oliveira, o comportamento dos preços administrados pode ser observado no dia a dia. “O que acontece com os preços administrados é que existe um IPCA para os administrados e outro para os preços livres, como é o caso da cesta básica. Isso é feito para poder fazer um comparativo. Um exemplo muito simples para compreender o impacto prático dos valores controlados é o caso da Petrobras.”
Oliveira complementa: “Como o governo tem o controle sobre a produção de petróleo e, através de diversos contratos varia o preço por questões mercadológicas, é perceptível, ainda mais em um país majoritariamente rodoviário como o nosso, o aumento dos preços de produtos em geral. Para se trazer uma carne, por exemplo, vinda de outras regiões do país, existe um valor, mas com a alta do combustível isso encarece”.
Foto da capa: Marcelo Casal Jr. | Agência Brasil