A comida que você come na rua tem uma história para contar

Informalidade na venda de alimentação é a saída possível para fazer frente à inflação
por
Gustavo Zarza
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15/06/2022 - 12h

 

Por Gustavo Zarza

Depois de acordar cedo e trabalhar o dia inteiro, você ainda tem que ir à faculdade, o que te faz pensar duas vezes se vai ou não, mas acaba indo. Chegando no prédio você vê tantas pessoas vendendo comida que te dá fome e você decide comprar algo. Observa uma senhora muito simpática, que chama cada um dos seus clientes de amor, vê que ela vende maravilhosos brownies e compra um. Quando você prova é maravilhoso. Aquele pequeno bolinho, molhadinho por dentro e sequinho por fora faz o teu dia e mata sua fome. 

Provavelmente muitas pessoas já tiveram experiências como essas, talvez não só com brownies, mas com um pastel, um churrasquinho ou uma pamonha. Há sempre aquele vendedor que sabe fazer do melhor jeito e do jeito que você gosta. O que não se sabe, às vezes, é que esses vendedores têm uma história por trás, tem uma vida e um preparo para que você possa ter um pequeno momento de alegria. 

Vera, de 70 anos, é viúva e vende brownies na frente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ela é muito conhecida pelos estudantes que estão ali, chama todos de amor e sempre os agradece, mesmo aos que se recusam a comprar seus brownies. "É para completar a renda" disse Vera, ao ser questionada sobre porque vende os bolinhos. Disse ter passado por muitos apertos, nunca lhe faltou nada, mas teve que economizar muita coisa. Ela, que ainda tem a ajuda da pensão do marido, acorda todos os dias às sete horas da manhã, vai à universidade às nove, para vender sua produção, volta para casa a uma, prepara mais alguns, retorna para a universidade e fica lá até às nove horas da noite, fazendo isso todos os dias, com a intenção de ajudar na renda dela e de sua filha. Ela trabalhou por muito tempo no ramo de alimentação. Já teve um buffet e morou seis anos na Inglaterra preparando e vendendo almoço. Agora, por questões financeiras voltou a trabalhar neste ramo. 

Essa é uma das histórias de vidas de várias pessoas que se encontram vendendo algo ou prestando algum serviço. Muitos precisam fazer algo a mais para completar a sua renda, muito por conta do problema econômico que ocorre no Brasil. Segundo um levantamento da consultoria IDados feita no segundo trimestre de 2021, havia 48,7% da população ocupada  na  informalidade. Isso significa que o Brasil hoje tem mais de 42,7 milhões de trabalhadores informais. Mesmo sem a crise, o trabalho de ambulante é uma opção de muitos, já que não há um patrão e o vendedor controla o seu próprio negócio. Por isso é uma boa saída para quem busca um empreendimento lucrativo e seguro. E para isso é preciso investir.

Célio vende mini pizzas na frente da PUC-SP faz 20 anos e vive somente disso. Quando era motoboy fez uma entrega próximo da universidade. Ao ver o tanto de gente por ali, percebeu que havia uma grande oportunidade. Ele comprou uma máquina de fazer pizzas e começou o seu próprio negócio. Ao passar dos anos seu negócio foi crescendo, os alunos gostando e ele ficou, sempre melhorando e se reinventando. A pandemia também chegou a afetar o seu empreendimento. "Muitos dos alunos que eram meus clientes se formaram e não estão mais aqui, outros são novos, tenho que reconquistar os clientes", disse Célio. 

Esses vendedores são muito bons em ganhar os seus clientes, seja pela qualidade do seu produto ou por sua simpatia. Aqueles que de vez em quando querem comer algo sempre pensam em comprar com aquela pessoa que faz muito bem e vende muito bem, até mesmo porque, há uma história de vida que acompanha o produto em cada venda.

 

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