Comércio da Liberdade busca alternativas para vendas

por
Maria Clara Milano Pizzo
|
04/05/2020 - 12h

O bairro da Liberdade, em São Paulo, é atualmente o maior reduto da comunidade asiática na América Latina, com restaurantes, lojas e festivais que representam a cultura oriental. O local se tornou um ponto turístico da cidade e conta com diversos estabelecimentos comerciais que estão sofrendo devido à Covid-19, que levou ao fechamento de lojas e ao isolamento social.

De restaurantes a lojas de cosméticos, tudo na Liberdade é conhecido pelo toque oriental, apesar de não ter sido sempre assim. Os primeiros japoneses chegaram em 1912, atraídos pelos aluguéis mais baratos. Pouco tempo depois, já existiam os estabelecimentos familiares que tornaram o bairro o que ele é hoje. Muitas famílias orientais não moram mais no local, porém mantêm seus comércios e fontes de renda.

O fechamento de lojas e serviços não essenciais foi decretado pelo governador de São Paulo, João Doria, e começou a valer a partir de 24 de março. Porém, antes disso, muitos comerciantes já haviam fechado seus estabelecimentos por medo da doença respiratória.

É o caso de Aríana Spataro, proprietária da loja de incensos e artigos esotéricos Ita Brazil, que funciona há 21 anos na galeria SoGo Plaza. Aríana e a sócia, Elaine, têm apenas uma funcionária, de 51 anos. A lojista afirma que prefere dar emprego a pessoas dessa faixa etária, que costumam ter dificuldade para encontrar trabalho.

As três estão em isolamento social desde o dia 19 de março, tendo saído somente para ir ao supermercado e à farmácia. A mãe de Elaine é idosa e, portanto, do grupo de risco, o que causa preocupação às sócias, que estão se ajudando nas tarefas cotidianas.

Aríana conta que a situação financeira está muito difícil, já que a loja é a única fonte de renda delas. Na real, não sabemos até quando nós iremos aguentar, porque está muito difícil, principalmente para nós que vivemos desse comércio, diz.

Devido às características de seus produtos e do público consumidor, a Ita Brazil não consegue realizar vendas online. Com foco principal em incensos, a loja também vende mandalas, estátuas, incensários e cristais, artigos que a maioria das pessoas prefere adquirir presencialmente, seja por conta dos aromas ou até mesmo pela carga espiritual que vinculam às peças. A lojista relata que já tentou vender pela internet, mas que realmente não funciona. “Por isso que é dessa forma que a gente trabalha, com a porta aberta.”

Além da dificuldade em vender os artigos online, a maioria das mercadorias é importada da Indonésia, chegando na loja por meio de distribuidoras, que também estão enfrentando problemas por conta do coronavírus. Assim, a loja não está vendendo e nem recebendo os produtos, deixando a proprietária aflita sobre quando a situação vai se normalizar.

Apesar da situação complicada e do aperto financeiro, Aríana diz ter fé e esperança de que tudo isso vai passar.

Em contrapartida, a Omohna Store, uma loja de acessórios voltados ao pop coreano, conhecido como Kpop, está se preparando para migrar para as vendas online. A proprietária, Natália Pak, de 33 anos, disse que ela e seus dois funcionários ainda estão catalogando os produtos para disponibilizá-los no site.

Omohna Store (foto retirada do instagram da loja)
Omohna Store (foto retirada do Instagram da loja)

Ela também relata que teve bastante procura pelos produtos após o começo das medidas de isolamento social, principalmente pelas máscaras de proteção coreanas, que já eram vendidas pela loja há alguns anos.

A Omohna Store funciona há cinco anos, e atualmente, assim como outros estabelecimentos, está remanejando gastos para economizar por conta da crise.

Não está sendo diferente para nós, estamos economizando ao máximo nas compras de mantimentos e juntamos tudo o que tínhamos para pagar as contas, que não param. O máximo que conseguimos fazer é negociar os aluguéis, como o da loja e o da residência. Assim não precisamos reduzir os salários dos funcionários e nem deixar de pagar as contas da loja, diz Natália.

Assim como Aríane e Elaine, da Ita Brazil, Natália  tem enfrentado dificuldades em relação aos fornecedores. Todas as mercadorias da Omohna Store são importadas da Coreia e atualmente, por conta da pandemia, nada está saindo do país. Natália afirma que os fornecedores coreanos também estão passando por uma crise.

Já o mercado de produtos nacionais e importados Empório Azuki está atendendo por WhatsApp. Inaugurada em 2012, a loja tem 30 funcionários e começou recentemente a realizar vendas online, disponibilizando o catálogo nas redes sociais e via WhatsApp. Apesar de ter se adaptado rapidamente ao comércio virtual, a loja relata que a queda nas vendas físicas foi assustadora, impossibilitando, por isso, um reajuste de preços apesar da disparada do dólar. O estabelecimento ressalta que, como a Liberdade é um lugar turístico, muitos clientes são de fora do bairro. Por último, diz que está mantendo um bom relacionamento com os fornecedores e que considera a parceria fundamental.

Lojas:

Ita Brazil - Incensos indianos e artigos esotéricos. Rua Galvão Bueno, 40, 44, Liberdade, São Paulo/SP. Contato: (11) 95380-3501.

Ohmona Store - Loja de K-Pop e produtos coreanos originais. Rua Galvão Bueno, 200, lojas 23 a 28. São Paulo/SP. Instagram e Facebook: @ohmonastore.

Empório Azuki - Mercado de produtos nacionais e importados. Rua Galvão Bueno, 16, Liberdade - São Paulo/SP. Instagram e Facebook: @emporioazuki 

  

 

 

 

Empório Azuki com movimento antes do isolamento social (foto retirada do Facebook da loja)
Empório Azuki com movimento antes do isolamento social (foto retirada do Facebook da loja)