A pandemia pegou toda a população mundial de surpresa e logo mostrou à que veio. Se não apenas para mostrar como somos tão frágeis diante de um organismo ínfimo – Mas com um poder destrutivo voraz – deixou escancarado as diferenças de classe e a fragilidade dos sistemas econômicos. Em meados de março, com o primeiro caso de COVID-19 em São Paulo, iniciou-se uma corrida por suprimentos, o que causou o desabastecimento de algumas redes de supermercado. Ao longo das semanas seguintes, foi visto que a histeria foi exagerada.
Mas será mesmo?
Na periferia de São Paulo (Sapopemba), comerciantes sentiram o impacto ocasionado pela pandemia de maneira singular. Por serem de pequeno porte, sem estrutura para manterem estoques de emergência e sem poder para realizar a reposição perante as grandes redes de supermercado. “Em março e abril as vendas foram surpreendente, nunca, nos 26 anos que mantenho meu mercado, houve uma busca tão grande por alimentos não perecíveis (Arroz, feijão, farinhas), diferentemente do que era mostrado na TV, não tivemos tanta busca por produtos de higiene pessoal” - Carlos Alberto (65), proprietário de um mercado no Jd. Elba.
Outro grande problema relatado, foi que nos meses seguintes, houve um aumento no valor, justamente nos itens da cesta básica (Arroz, feijão, óleo), e dessa forma, um malabarismo para minimizar o valor do repasse desse aumento ao consumidor foi realizado. “Aqui na região, as pessoas são mais simples, muitos idosos e crianças, mães solteiras, muitos desempregados que vivem de bico ou de favor. Vejo a dificuldade que tem para vir comprar o básico. Me corta o coração, mas também não posso deixar de pagar meus funcionários, as contas de meu comercio. Por isso, nos últimos meses, tenho trabalhado no limite do limite do repasse do reajuste dos valores. Tenho tentado ser o mais patriota o possível, como pediu o presidente, mas com todos os encargos e impostos, é impossível” – Carlos Alberto.
Outra situação muito comum nessa região foram as maneiras de driblar possíveis fiscalizações de descumprimento de manter comércios não essenciais fechados. Foi muito comum encontrar salões de cabelereiro, restaurantes, bares, bazares e todos os tipos de comércios com as portas abertas ou semiabertas. Alair Jorge (25) mantem um salão de cabelereiro, de onde vem seu sustento, da esposa Jussara (23), dona de casa e seus quatro filhos. “Já tenho uma clientela fiel, que marcam horário pelo Zap (WhatsApp) e não poderia deixá-los na mão, além do mais, é daqui que tiro meu sustento. O auxílio emergencial do governo veio em uma hora boa, mas se eu deixasse de atender quem me chamasse no zap, com certeza esse iria buscar por outro cabelereiro.”
Ao ser questionado sobre uma possível fiscalização, Alair diz: “Mano, aqui é favela, os caras da prefeitura só aparecem por aqui de quatro em quatro anos, para pedir voto.”
Diferente de regiões centrais, comerciantes periféricos tiveram suas dificuldades durante a pandemia, mas também tiveram que se adequar para manter seus comércios em funcionamento.