Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e das autoridades Margareth Menezes, ministra da Cultura; Camilo Santana, ministro da Educação; e Jader Filho, ministro das Cidades, foi dada a largada para a 27ª edição da Bienal Internacional do Livro, na quinta-feira (5).
O evento começa oficialmente na sexta-feira (6), e vai até 15 de setembro. Localizada no Distrito Anhembi, a Bienal contará com a presença de mais de 700 autores, nacionais e internacionais, em 75 mil metros quadrados. A promessa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) para 2024 é atrair cerca de 660 mil visitantes ao longo de sua duração. Além das homenagens e debates literários, a Bienal oferece diversas atividades para o público.
A abertura ressaltou a importância da literatura e o impacto cultural da Bienal.
“É uma maneira de reverenciarmos nossa riqueza criativa”, declara Margareth. “O Brasil real, não o da ficção, nem tampouco o da facção. O Brasil da esperança, do amor, do futuro melhor para o nosso brasileiro. É esse Brasil que estamos construindo.”, completa para a AGEMT, presente na feira.
Sevani Matos, presidente da CBL, ressaltou como os livros podem servir como um farol de inspiração, um instrumento de reflexão e uma ferramenta de liberdade. Ela enfatizou a importância de defender os livros e lançou um chamado aos governantes sobre a necessidade de implementar políticas públicas que promovam o incentivo à leitura, afirmando que investir na literatura é investir no futuro do Brasil.
Outro destaque da edição é o número de livros físicos disponíveis, que totalizam 3,5 milhões. Além disso, a Bienal vai oferecer uma opção de cashback, permitindo que os visitantes utilizem parte do valor dos ingressos para a compra de livros.
A Bienal Internacional do Livro, considerada o maior evento literário da América Latina, homenageia neste ano a Colômbia, com um estande próprio e cerca de 17 autores colombianos. Além disso, a cerimônia contou com a presença de Juan David Correa, ministro da Cultura da Colômbia, e Guillermo Rivera, embaixador colombiano no Brasil.
“Menos armas e mais livros”
Ainda na abertura, o presidente Lula e Margareth Menezes assinaram o decreto de nº 12.021/2024, que estabelece a nova Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE).
Ele prevê a criação de um novo Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL), que será desenvolvido em parceria com a sociedade civil e busca fortalecer a colaboração entre os Ministérios da Cultura e da Educação para ampliar o acesso à leitura em todo o Brasil.
O presidente também anunciou que todas as 6 mil bibliotecas públicas do país receberão um acervo adicional de 600 livros cada. Além disso, os conjuntos habitacionais do programa “Minha Casa Minha Vida” serão equipados com bibliotecas com 500 livros cada. “Nada é mais importante do que ler”, afirmou Lula durante o evento, ressaltando a importância da leitura na formação e desenvolvimento pessoal.
O ministro da Educação, Camilo Santana, autorizou um novo edital para o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) Equidade, além da suplementação de R$ 50 milhões para a compra de acervos literários destinados ao PNLD Educação Infantil.
“Estamos retomando e ampliando o investimento financeiro e o apoio técnico para que, em todo o país, a educação e a cultura ajudem a transformar a vida das crianças, adolescentes, jovens e suas famílias”, declarou.
Como nota final, Lula enfatizou uma mensagem poderosa: “Menos armas e mais livros”, sublinhando o compromisso com a promoção da educação e da cultura como pilares para um futuro melhor.
Por fim, a ministra da Cultura elogiou a parceria entre os Ministérios: “A leitura e a literatura são ferramentas poderosas para promover a transformação, aprimorar o pensamento e emancipar o ser humano na sociedade.”
Lágrimas do Mar
A cerimônia também ganhou uma apresentação musical do espetáculo “Lágrimas do Mar”, protagonizado por Arnaldo Antunes e Vitor Araujo. O show, que foi realizado em um cenário visualmente impressionante, apresentou uma performance envolvente com a combinação da voz expressiva de Antunes e a habilidade ao piano de Araujo. A música capturou a atenção do público com sua profundidade e emoção.
Primeiro final de semana
Já no primeiro fim de semana, os ingressos para a Bienal se esgotaram rapidamente. A superlotação no Distrito Anhembi resultou em longas filas para acessar estandes de editoras, banheiros, bebedouros e áreas de alimentação, juntamente com o calor intenso que dificultava a espera. A AGEMT esteve presente na feira.
No sábado, o evento enfrentou sérios problemas de trânsito devido ao desfile do dia 7 de setembro, que ocorreu em uma área próxima. Embora a Bienal oferecesse um serviço de transporte gratuito da estação Portuguesa-Tietê até o local do evento, a fila para esse transporte era longa e demandava considerável paciência. Aqueles que optavam por utilizar serviços de transporte por aplicativo, como o Uber, também encontravam dificuldades devido ao congestionamento intenso.
Influenciadores literários estimulando a leitura
Uma das mesas em destaque no primeiro sábado foi a “Agentes da Literatura: A Importância dos Influenciadores Literários na Promoção da Leitura", mediada pela escritora Dayane Borges. A discussão contou com a participação de Karine Leôncio, Pedro Pacífico e Paola Aleksandra. A influenciadora Liv Resenhas também estava prevista, mas, devido ao trânsito caótico, não conseguiu chegar a tempo.
O diálogo girou em torno da responsabilidade que os criadores de conteúdo têm como formadores de opinião sobre uma parcela do público leitor. “Existe a possibilidade de tirar a literatura dessa aura intelectual, que vai dizer o que é alta literatura e o que não é, que romances de entretenimento não são legais de ler e, por isso, você não é um bom leitor.” diz Pacífico, que atua como advogado e também é conhecido por Bookster com um projeto de incentivo à leitura.
Ele explicou que esse fenômeno não só afeta a forma como os livros são percebidos, mas também influencia a maneira como os leitores se veem.
Julia Leal, estudante de Direito do Paraná, comenta que a rede social TikTok e as outras redes sociais têm desempenhado um papel crucial em despertar o interesse pela leitura, "Eu me sinto acolhida e é muito bom encontrar pessoas que se identificam com o que eu amo," diz.
A estudante ressalta também como essas plataformas têm ajudado a cultivar o hábito da leitura, criando um ambiente onde as pessoas podem se conectar e compartilhar suas paixões.
Karine, que foi indicada em 2022 pela revista “Toda Teen” como Influenciadora Literária do Ano, conta que, antes, não havia um espaço adequado para essa troca de ideias como existe na internet atualmente. Com a adolescência solitária, procurou refúgio na internet. “Não entendi o impacto que eu poderia ter", relata , sobre o compartilhamento de suas experiências. No entanto, ao se envolver mais ativamente, encontrou amigos leitores na internet e descobriu uma comunidade com interesses semelhantes.
Outro tópico importante abordado foi a questão sobre o número de livros lidos por influenciadores, o que às vezes gera comparações entre seus seguidores. “As redes sociais colocam uma pressão sobre as pessoas, fazendo com que se sintam mal para atingir metas", afirma Pacífico. Uma dica que os comunicadores digitais presentes utilizam para evitar confusões entre seu público é publicar o que acontece em seus bastidores, mostrando suas rotinas e problemas. “Assim, em vez de as pessoas enxergarem apenas um número, elas veem uma rotina", finaliza Paola, produtora de conteúdo e escritora.