Colômbia: Petro vence e é eleito presidente em disputa acirrada

Candidato da esquerda é eleito com margem mínima e emplaca o primeiro governo de esquerda do país. Francia Márquez será a primeira vice-presidente negra do país.
por
Luan Leão
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20/06/2022 - 12h

No domingo (19), em uma eleição com cerca de 22 milhões de votos, a Colômbia escolheu o novo chefe do executivo. O economista e senador Gustavo Petro, de 62 anos, candidato da coalizão Pacto Histórico, foi o vencedor do pleito obtendo 50,50%; contra 47,16% do empresário Rodolfo Hernández, de 77 anos, candidato de ultradireita, da Liga de Governantes Anticorrupção. A diferença entre os dois candidatos foi de 717 mil votos.

O resultado apertado já era o que apontavam as pesquisas, as projeções, porém, mostravam leve favoritismo de Hernández, que saiu derrotado. Petro obteve 11.281.013 milhões de votos ante 10.580.412 de seu adversário. 

Na sua terceira vez concorrendo ao cargo, Petro liderou as pesquisas de intenção de voto durante boa parte da campanha, e foi o candidato mais votado do 1° turno, tendo 40,32% dos votos. Já Hernández, por sua vez, foi a surpresa desta eleição, desbancando a direita tradicional, grupo político do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2000-2010), que governou o país até este ano, tendo Iván Duque como representante.

A vitória de Gustavo Francisco Petro Urrego é um fato histórico para o bloco de esquerda no país, que pela primeira vez integrará o comando executivo nacional. O ex-prefeito da capital Bogotá e ex-integrante do grupo de guerrilheiros Movimento 19 de abril (M-19) governará o país de 2023 a 2026. Através das redes sociais o agora presidente eleito agradeceu os eleitores e disse que era o dia "das ruas e das praças". 

 

"Hoje é dia de festa para o povo. Que se festeje a primeira vitória popular. Que tantos sofrimentos se amorteçam na alegria que hoje inunda o coração da pátria. Essa vitória para Deus e para o povo e sua história. Hoje é o dia das ruas e das praças" - Gustavo Petro.

 

Outro ponto inédito que a disputa deste domingo (19) proporcionou foi a eleição de Francia Elena  Márquez Mina, de 40 anos, advogada e primeira mulher negra a ocupar o cargo de vice-presidente no país. Márquez Mina é figura conhecida pelo seu ativismo ambiental, tendo conquistado o Prêmio Ambiental Goldman, considerado o “Nobel do Meio Ambiente'', em 2018. 

Francia Márquez, nova vice-presidente da Colômbia
Francia Márquez é a primeira vice-presidente negra da Colômbia. Foto: Reprodução / Twitter

Em suas redes sociais, Márquez agradeceu aos eleitores que foram às urnas. "Obrigada às colombianas e aos colombianos que saíram massivamente a votar hoje com dignidade, vencendo o medo e com esperança", disse após a divulgação do resultado. 

Atual presidente, Iván Duque também se pronunciou após a divulgação do resultado falando em transição "harmoniosa, institucional e transparente".  "Liguei para @PetroGustavo para parabenizá-lo como presidente eleito dos colombianos. Concordamos em nos reunir nos próximos dias para iniciar uma transição harmoniosa, institucional e transparente", escreveu o presidente. 

Menos de uma hora após o resultado ser anunciado, Hernández reconheceu a vitória de Petro por meio de um vídeo publicado nas redes sociais. "Colombianos, hoje a maioria dos cidadãos escolheu o outro candidato. Como eu disse durante a campanha, eu aceito os resultados dessa eleição", afirmou o candidato derrotado. 

Conhecido como “Trump Colombiano”, Hernández também mandou um recado para Petro. “Peço ao doutor Gustavo Petro que seja fiel ao seu discurso contra a corrupção e que não decepcione os que confiaram nele”, disse. 

 

“A mudança consiste em deixar o ódio para trás”

Em seu discurso da vitória ao lado de sua esposa, Veronica Alcocer, Petro falou em “política do amor”. “A política do amor não é uma mudança para nos vingarmos, não é uma mudança para construir mais ódio ou aprofundar o sectarismo na sociedade colombiana. Nossos pais e avós nos indicaram o que significa o sectarismo. A mudança consiste em deixar o ódio para trás”, disse o presidente eleito. 

Gustavo Petro, presidente eleito da Colômbia
Gustavo Petro presidente eleito da Colômbia. Foto: Reprodução / Twitter

Na fala, Petro também mencionou um acordo nacional para assegurar a paz e o direito das pessoas, em um aceno aos grupos de guerrilheiros que ainda não baixaram as armas. O presidente eleito também falou sobre seu próprio passado, dizendo que lutou “contra a injustiça, contra um mundo que não deveria ser, contra a discriminação, contra a desigualdade”. 

 

“Quanta gente morreu, quanta gente está presa hoje, quantos jovens tratados como bandoleiros só porque tinham esperança, só porque tinham amor” - Gustavo Petro 

Reforçando temas abordados na campanha, Petro falou sobre uma maior integração na América Latina, destacou a importância do país na luta contra as mudanças climáticas, dizendo que é preciso salvar a Amazônia para salvar a humanidade, e tornou a falar de um maior diálogo nas Américas, incluindo até conversas com os Estados Unidos. O discurso também tratou sobre o fortalecimento da economia popular. 

 

Irregularidades 

De acordo com a Missão de Observação Eleitoral (MOE), até o encerramento da votação foram registradas 310 denúncias de crimes eleitorais. A entidade informou que ao menos 83 denúncias eram sobre a liberdade do voto. A MOE disse também que recebeu denúncias de coação por parte de empregadores que obrigaram ou ameaçaram seus trabalhadores a votarem em determinado candidato de sua preferência. 

Segundo o relatório, os locais com mais supostos relatos de irregularidades foram: Antioquia, Valle Del Cauca, Atlântico, Risaralda e Bogotá. 

 

Panorama nas Américas 

A vitória de Gustavo Petro faz a Colômbia se unir a outros países da América Latina com governos de esquerda. A virada à esquerda começou em 2018, com a eleição de Manuel López Obrador, no México. Em seguida,  Alberto Fernández foi eleito na Argentina, em 2019, e Luis Arce, em 2020, na Bolívia. Em 2021 foi a vez do Peru, com Pedro Castillo; o Chile, com Gabriel Boric; e Honduras, com Xiomara Castro. 

Segundo documento divulgado pelo Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea), em 2020, a última década foi marcada por polarização na região, e em 2010, com a crise das commodities (matéria-prima), o continente teve uma virada à direita. Agora, com o impacto da pandemia da COVID-19, o movimento é inverso.