Os colombianos foram às urnas no domingo (29) para votar nas eleições presidenciais. O candidato de esquerda, senador Gustavo Petro (Pacto Histórico), obteve 40,32% dos votos, confirmando o que mostrava as pesquisas, e vai enfrentar a surpresa, o empresário Rodolfo Hernández (extrema-direita) que conquistou 28,15% dos votos, no segundo turno marcado para o dia 19 de junho.
Federico Gutiérrez (Equipe Colômbia), conhecido como Fico Gutiérrez, representante da direita nacional do país, que contava com o apoio do atual presidente Iván Duque e do grupo político do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), não avançou para o segundo turno, em um resultado histórico nos últimos anos. Esta é a primeira vez, desde 2002, que o grupo político de Uribe não consegue emplacar um candidato no segundo turno.
Os candidatos
Gustavo Petro, de 62 anos, do Pacto Histórico, é senador, foi deputado por duas vezes e também já foi prefeito da capital Bogotá. Essa é sua terceira candidatura à presidência, ele saiu derrotado em 2010 e 2018. Nascido em Ciénaga de Oro, em Córdoba, já aos 21 anos ingressou na vida pública,e nesta época se aproximou do grupo de guerrilha Movimento 19 de Abril (M19), o qual integrou até sua desmobilização em 1990.
O passado como guerrilheiro é motivo de crítica de seus opositores. Desde o começo da campanha, a chapa formada por Petro e sua vice-presidente Francia Márquez lidera as pesquisas de intenção de voto. Caso vença, esse será o primeiro governo de esquerda da história da Colômbia. Para vencer o pleito, Petro precisará de mais da metade dos votos.
As propostas de Petro visam um discurso contrário ao executado pelo presidente Iván Duque, além de prometer um envolvimento maior do Estado na economia, com uma estrutura “baseada na produção e não na extração”. O candidato promete também preservar o meio ambiente, combater as desigualdades sociais e fortalecer a democracia.
Rodolfo Hernández, de 77 anos, é engenheiro e uma figura controversa e chamado de “Trump colombiano”. Em 1992 foi eleito vereador mas não assumiu o cargo. De 2016 a 2019 foi prefeito da cidade de Bucaramanga, no norte da Colômbia, mas renunciou alegando perseguição política, após um promotor abrir uma investigação contra ele por suposta participação indevida na política.
Se descreve como “El Rey del TikTok”, e fez a campanha pelas redes sociais, tendo uma ascensão meteórica. Já se declarou admirador de Adolf Hitler e foi processado por dizer que o Corpo de Bombeiros de Bucaramanga era formado por “gordos e preguiçosos”. Teve o pai sequestrado pelas Farc e a filha assassinada pela ELN em 2004.
Recebeu o apoio da ex-candidata Ingrid Bentacourt, que deixou a corrida eleitoral após o desempenho não empolgar. Bentacourt foi mantida refém das Farc durante seis anos.
Ainda assim, o candidato é a favor da implementação de um acordo de paz com as Farc e a retomada das negociações com o ELN. Outra bandeira do candidato é o combate a corrupção.
Risco de violência
Um fator de preocupação durante as eleições é a violência. De acordo com a Defensoria Colombiana informou um aumento das ações do Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN) e do cartel Clã do Golfo. A defensoria alertou para 290 cidades com risco alto ou extremo de violação dos direitos da população no processo eleitoral.
“O Estado deve implementar mais mecanismos de investigação e apuração de denúncias relacionadas a crimes eleitorais e ameaças contra candidatos ou suas campanhas” - Carlos Camargo, chefe da Defensoria do Povo na Colômbia
Em 19 de maio, o candidato Petro afirmou que seus opositores conspiram para sabotar as eleições. No início do mês, o candidato cancelou uma viagem a regiões centrais da Colômbia alegando ter recebido ameaças de um atentado. O candidato pediu calma diante de um eventual “golpe”.
A ONG Indepaz disse que apesar do cessar-fogo do ELN para as eleições, “sua presença armada é um fator de alerta em muitas aldeias do país”. O Indepaz registrou também a presença de grupos armados que não declararam cessar-fogo para as eleições. O Clã do Golfo, em 237 municípios, e ex-dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em 123 cidades.
“Nas capitais e cidades intermediárias existem redes que articulam pontualmente mais de 2.000 quadrilhas armadas” - ONG Indepaz
A ONG alertou ainda para “discursos radicais” que instigam a população a ignorar o resultado do pleito, caso Gustavo Petro seja o vencedor. Uma carta divulgada em 23 de maio, assinada por 90 políticos de 23 países, entre eles os deputados federais Ivan Valente (PSOL-SP) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP), o senador Humberto Costa (PT-PE), e Guilherme Boulos (PSOL), pedia mais transparência e segurança nas eleições. Os líderes afirmaram ainda que pelo menos 50 líderes sociais já morreram durante o ano eleitoral.