Apesar de ser legítima a organização de grupos e coletivos no espaço universitário, o Coletivo Rebelia enfrenta desafios, especialmente por ser feminista. Entre as dificuldades enfrentadas pelo grupo formado por alunas de psicologia da PUC-SP está não serem levadas a sério, principalmente pelos alunos: "Sendo composto de mulheres, somos consideradas muitas vezes fúteis”, dizem as líderes do Rebelia, que pediram para não serem identificadas individualmente. As participantes sentem que outros estudantes não entendem a relevância de manter o movimento feminista na Universidade.
Além disso, elas comentam a hipocrisia masculina em tentar participar do Rebelia: “Se eles já podem adquirir esse conhecimento por tantas outras formas, por que permiti-los integrar um espaço destinado a mulheres?” Elas se questionam o quanto caberia a participação masculina, de um homem cis, nesse lugar, justamente por serem tratados casos de assédio, "se ele entenderia a demanda trazida e a seriedade dos assuntos" e, sobretudo, o quão seria confortável para a vítima trazer o assédio sofrido num espaço ocupado também por um homem.
O Coletivo, a princípio chamado “Libertas”, foi criado por três alunas de psicologia depois de diversas ocorrências de violência contra mulheres dentro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2012. O intuito era criar um coletivo feminista que tratasse especialmente das questões das alunas dentro e fora do campus.
A mudança de nome ocorreu recentemente, há três anos. A causa foi a não-identificação com o nome “Libertas”, que remete ao feminismo liberal, vertente rechaçada pelo Coletivo. O processo de escolha do novo nome se deu, como de costume dentro do coletivo, por via do debate. As participantes escolheram várias mulheres, de quem as histórias eram trazidas pelas alunas: foram escolhidas as que mais representavam o coletivo e seu reestabelecimento como tal dentro do espaço universitário.
Assim, foram escolhidas Cida Bento, Patrícia Rehder (Pagu) e Lélia Gonzalez como as representantes da nova fase. Cida Bento é uma psicóloga e ativista, com ação e estudos focados na desigualdade racial e de gênero nos ambientes de trabalho; Pagu foi uma escritora, jornalista e militante comunista, além de ser um exemplo do Modernismo brasileiro; por fim, Lélia Gonzalez é considerada uma das mais importantes autoras do feminismo negro no Brasil, é antropóloga e filósofa. O nome é um anagrama feito com sílabas dos nomes dessas mulheres.
O Rebelia tem conexões com diferentes coletivos feministas, sendo um deles o Mulheres da Noroeste e ajudam também no Consultório Solidário, que presta atendimento psicológico para pessoas em situação de vulnerabilidade. Em relação à paralisação recente da PUC-SP, as participantes dizem que “foi importante para entendermos como nos colocamos na universidade". Elas promoveram falas nas assembleias e diferentes eventos, sendo um deles em conjunto com a Coletiva Saravá sobre vivências trans e a importância das cotas.
Elas organizam reuniões abertas, nas quais escolhem um texto para ser lido e discutido. Costumam ser espaços onde são refletidas as questões das participantes como mulheres, incluindo situações de assédio e abuso. As reuniões, destacam elas, não são espaços de hegemonia acadêmica, mas sobretudo de compartilhamento e discussão de vivências.
Há também as formações, nas quais escolhem uma série de textos para estudarem um tema: "uma coisa é espalharmos achismos, outra é pegarmos artigos de autores que estudam esses temas". São, dizem, experiências interessantíssimas e agregadoras.
Atualmente são 22 membros no Coletivo, e não há liderança estabelecida: as participantes destacam a igualdade dentro do movimento, característica que mantém propício e livre o debate.