Cobrança de assinatura por conteúdos limita informação

"Esses modelos são muito radicais, não acredito que seja necessário" diz professora e jornalista Marlivan de Alencar
por
Anna da Matta, Beatriz Loss, Vanessa Orcioli
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06/04/2021 - 12h

 

 

Gráfico

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Paywall: modelo de cobrança de assinaturas por conteúdo. (Foto: Reprodução/Dooder do Freepik)

 

“Exclusivo para assinantes” ou “Você já ultrapassou o limite de notícias gratuitas do nosso jornal” são expressões cada vez mais comuns quando se clica em um link de sites noticiosos. O paywall, traduzido do inglês, muro de pagamento, surgiu com o intuito de auxiliar os veículos de comunicação a monetizar suas atividades na internet devido ao declínio de leitores - e consequentemente, de renda - que houve nos últimos anos com o crescimento da web. Esse sistema de cobrança de assinatura por conteúdos digitais foi implementado de forma lenta, mas nos dias atuais, domina uma boa parcela da imprensa - tanto das grandes mídias, como das pequenas.

 

Durante muito tempo, o jornal impresso fazia parte da vida cotidiana dos brasileiros, mas com a chegada da internet, a maneira com que as pessoas se informam foi se modificando. Para acompanhar as mudanças constantes que acontecem no jornalismo, e para resgatar esse serviço financeiramente, os veículos de comunicação foram se adaptando e implementando o sistema do paywall. “Acredito que [o paywall] seja um método de salvar o jornalismo de uma decadência financeira, mas não concordo que seja o único” relata a estudante de jornalismo, Julia Rugai. Assinante de alguns jornais, ela declara que a crise pela qual o jornalismo está passando vai muito além da financeira, mas crê que esse sistema de assinaturas de cobrança possa aproximar o leitor das matérias que mais lhe interessam, e consequentemente dos jornais. 

A professora e jornalista, Marlivan de Alencar, também relata que o paywall é uma maneira de manter o jornalismo, mas discorda da privatização total de alguns paywalls de jornais: "Esses modelos são muito radicais, não acredito que seja necessário”. Por outro lado, ela elogia os modelos híbridos desse sistema, e dá o exemplo do jornal El País. O modelo se caracteriza pelo nome de freemium, metade pago e metade grátis. Isso permite com que o público possa ler e checar se gosta das informações que estão atrás do muro, para assim, poderem assinar. 

Interface gráfica do usuário, Aplicativo

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Print do paywall barrando uma matéria no site do jornal Estadão. (Foto: Reprodução/ Internet)

 

            A busca pela notícia verdadeira tem sido cada vez mais urgente e necessária nessa nova era da desinformação. Segundo a pesquisa feita pela Câmara dos Deputados, no final de 2020 revelou que 79% dos brasileiros se informam principalmente pelo WhatsApp,  já através  do  Youtube e Facebook aparecem com 49% e 44% respectivamente, deixando os sites oficiais de notícias com apenas 38% de buscas.   

Queda durante a pandemia 

No ano de 2018, ocorriam as eleições presidenciais e as disseminações de notícias falsas aumentavam regularmente através de correntes, post e tweets. A queda do paywall se deu durante a pandemia, uma decisão necessária e  adepta por diversos veículos, com o intuito de que as notícias sobre a Covid-19 apuradas e embasadas proliferam mais que mentiras e boatos. A necessidade de  informações verídicas sobre o assunto, incluindo os sintomas e as formas de prevenção, passaram a ser urgentes devido ao crescimento das  fake news sobre o vírus,  para assim ser possível combater injúrias sobre a doença ainda pouco conhecida .

Apesar de o jornalismo online ter se transformado em um grande negócio, ainda é possível se informar de graça. “Embora o paywall tenha problemas, eu realmente acredito que é possível estar bem-informado com informações gratuitas, porque hoje, nós temos uma quantidade maior de informações disponíveis que antes, que não estavam disponíveis para o grande público”, afirma Tai Nalon, cofundadora e diretora executiva do Aos Fatos, para o podcast Braincast.

Hoje em dia, com um celular na mão é possível acessar muitas plataformas online e se informar através delas. No ano passado, devido ao aumento de desinformação sobre a pandemia do Covid-19, o Twitter verificou a conta de muitos jornalistas, mostrando que os conteúdos compartilhados por essas pessoas são confiáveis, além disso colocou avisos embaixo de posts que poderiam conter informações falsas, com um redirecionamento para notícias verdadeiras.

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