Cineastas negros conquistam espaço no audiovisual

Após décadas de falhas representações, população negra se reconhece nas telas do cinema nacional
por
João Pedro Lopes Oliveira
Vitória Nascimento
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19/10/2023 - 12h

O protagonismo negro no cinema nacional é mais do que uma tendência, é uma necessidade urgente para construir uma indústria cinematográfica verdadeiramente inclusiva e representativa. Com o apoio de organizações como a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negros (APAN) e eventos como a Mostra OJU, o Brasil está trilhando um caminho positivo em direção a um futuro cinematográfico mais diversificado e vibrante.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 56% da população brasileira se autodeclara negra. No entanto, historicamente, o cinema nacional não refletiu essa diversidade. Nos últimos anos, houve um aumento notável no número de filmes e produções que apresentam protagonistas negros, mas ainda há muito a ser feito. Segundo a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), em 2022, apenas 20% dos filmes nacionais tinham protagonistas negros. Este número, embora crescente, sublinha a carência de mais representatividade.

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Gabriel Knoxx e Gleici Damasceno no filme "Noites Alienígenas" de Sérgio de Carvalho. Foto: Divulgação/Vitrine Filmes

Ignorados pela indústria cinematográfica ao longo da história, os cineastas negros sentiram a necessidade de se unirem em uma única voz para reivindicarem seus direitos, assim em 2016 foi criada a APAN, com o objetivo de desenvolverem políticas públicas. Entre os seus projetos oferecem um laboratório de roteiro, direção e produção para realizadores negros terem a oportunidade de se inserir e se firmar no mercado audiovisual, além de também possuir sua própria plataforma de streaming para garantir uma distribuição mais diversa. “Embora haja progressos, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir diversidade e inclusão em todas as áreas da produção cinematográfica.” declara Kayke Leonel, estudante de cinema. O que começou com apenas 20 profissionais, hoje conta com quase mil associados.

Outro passo importante foi a criação da Mostra OJU em 2022 pelo Sesc São Paulo. Pensada como um meio de difusão, a mostra tem foco através da exibição de desde curtas a longas-metragens, cursos, palestras e oficinas celebrar cineastas negros e aumentar a visibilidade de seus projetos. Para o futuro cineasta, Leonel, é importante que essa difusão não se limite apenas ao cinema independente “É fundamental que a indústria mainstream também abrace e promova histórias diversas, para que a representatividade não seja limitada a um segmento específico do cinema, mas esteja presente em todas as formas de produção cinematográfica.”

A representatividade no cinema nacional não é apenas uma questão de números. Ela tem um impacto profundo na sociedade, desafiando estereótipos e oferecendo modelos positivos para crianças e jovens negros. Ao verem histórias que refletem suas próprias experiências, o público é capacitado e incentivado a sonhar mais alto.

Para a comunidade negra, ver personagens que se parecem com eles nas telas é mais do que uma experiência cinematográfica. É um lembrete poderoso de que suas histórias importam, que suas vozes são ouvidas e que suas vidas são dignas de serem contadas. Esse tipo de representatividade não é apenas uma questão de entretenimento, mas uma fonte de identidade e pertencimento para milhões de brasileiros. O cinema tem o poder de moldar a maneira como se vê o mundo e, por muito tempo, as narrativas negras foram limitadas a estereótipos prejudiciais. No entanto, o protagonismo negro no cinema nacional está desafiando essas narrativas restritivas. Ao apresentar personagens complexos, multifacetados e reais, o cinema está redefinindo como a sociedade enxerga a comunidade negra, promovendo uma compreensão mais profunda e compassiva.