A cidade do rock sob os holofotes novamente

Primeiro final de semana do Rock in Rio 2024 comoveu o público em meio a velhas e novas memórias
por
Victória da Silva
Vítor Nhoatto
|
18/09/2024 - 12h

Um dos maiores eventos da música mundial retornou à zona oeste da capital carioca na última sexta-feira (13). A edição comemorativa de 40 anos do festival contou com nomes como Travis Scott, Paralamas do Sucesso, Imagine Dragons, Evanescence e Lulu Santos. 

Realizado tradicionalmente na Barra da Tijuca, sua última aparição havia sido em 2022, e as expectativas para este ano eram altas. Não bastasse o sarrafo da edição passada, com Iron Maiden, Justin Bieber e Dua Lipa, por exemplo, o peso de esta ser uma espécie de aniversário do mais longevo e exitoso festival do Brasil agitavam as redes e o público. 

São ao todo 24 realizações com a edição deste ano. Dessas, 10 no Rio de Janeiro, 10 em Lisboa, 3 em Madrid e 1 em Las Vegas. No caso do Brasil, fez com que o rock se popularizasse e recebesse mais atenção das gravadoras e imprensa. Em 1985 tocaram, por exemplo, Iron Maiden, AC/DC e Queen. Foi assim que o RiR, como é abreviado, fez do Brasil um destino relevante para artistas internacionais, abrindo as portas para tantos outros festivais que surgiram. 

Gabriel Medina foi o criador do evento, hoje administrado pela filha do publicitário, Roberta Medina. A marca é responsável ainda pelo novato The Town, que realizou sua primeira edição em 2023, e é tido como a versão paulista do quarentão rockeiro. A ideia inclusive é de que os festivais ocorram de maneira intercalada agora. 

De volta ao Rock in Rio, ao longo de sua história, mudanças e percalços também sempre estiveram presentes. O local da Cidade do Rock já mudou quatro vezes e artistas boicotaram o evento em 2001 pela diferença de tratamento entre as atrações nacionais e internacionais. A alocação dos artistas também foi tema polêmico em 2022, com palcos secundários recebendo grandes artistas brasileiros como Ludmilla, ao passo que o Palco Mundo recebia gringos sem uma base tão ampla de fãs no país, como Rita Ora.   

Para 2024, a família Medina prometia melhorias nessas questões. Houve uma reconfiguração espacial para facilitar o fluxo de pessoas e expandir a capacidade do Palco Sunset, atrás apenas do Mundo em relevância. Além disso, pela primeira vez haverá o Dia Brasil, o penúltimo dia do RiR (21), no qual apenas artistas nacionais se apresentarão. 

Destaques do primeiro dia

Os portões da Cidade do Rock foram abertos às 14h, com uma fila considerável já formada. O trânsito na região ficou intenso aos arredores por volta das 16h segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, mas não foram registrados incidentes. A distribuição gratuita de água também ocorreu normalmente e de forma acessível. A primeira apresentação foi logo às 15h com Mc Maneirinho no Palco Supernova. 

Após alguns minutos de atraso devido a problemas técnicos e quase um cancelamento, Ludmilla foi a primeira a performar no Palco Mundo. Agora no palco adequado, após tumultos em 2022 no Palco Sunset, ela apresentou as faixas “Rainha da Favela", “Onda Diferente” e muitos outros de seus sucessos.

A artista surpreendeu na setlist com o cover de “snooze” da estadunidense SZA, na qual ao lado de dois guitarristas mostrou a potência de sua voz. O show foi encerrado com "Favela Chegou" em um clima ainda meio tenso pelos problemas iniciais. A cantora se apresentaria novamente no RiR 2024, no Dia Brasil, mas cancelou um mês atrás por problemas logísticos.

Ludmilla no meio do palco
Ludmilla agitou o público com corpo de baile e voz impecável.-  Foto: Ariel Martini / Divulgação

Às 21h foi a vez de 21 Savage trazer o rap internacional à Barra da Tijuca, em um show com menos de uma hora e pouca interação com a plateia. Essa já ansiosa pelo principal nome do dia, o estadunidense Travis Scott.

Depois de um show solo no dia 11 de setembro em São Paulo, o rapper se apresentou na cidade do rock, no Rio de Janeiro, com muitos gritos e pulos. Conhecido pelas rodas punks que se criam durante a apresentação e pela animação provocada pelo artista, o show caloroso que também aconteceu no Palco Mundo superou as expectativas dos fãs. 

Além das cinco vezes que cantou o sucesso "FE!N", agitou a plateia principalmente com hits do seu último álbum "UTOPIA" de 2023. Apesar de reclamações no palco sobre os telões, Travis honrou sua posição no RiR 2024.

Plateia com sinalizadores
Vista de cima do show de Travis com uma multidão de pessoas. Foto: Sebastien Nagy / Reprodução Instagram

Não só o trap internacional foi o ponto alto do evento, já que Veigh e Kayblack causaram euforia no público do Palco Sunset. Os artistas fizeram do show um ringue de luta, e a batalha conteve hits dos dois que se apresentaram em um ritmo frenético, Veigh com um roupão azul e KayBlack com um vermelho (imitando lutadores de boxe). 

A rapper Slipmami, que acumula mais de 5 milhões de visualizações em seus clipes no YouTube, fez sua apresentação com seus versos irônicos e afiados. A cantora abriu o Espaço Favela nesta edição e cantou sucessos como “Malvatrem”, “8x5” e “Rap Cerva e Swapeeka”.

O rap foi um gênero muito presente no primeiro dia de Rock in Rio, em vários palcos diferentes, até mesmo artistas não muito conhecidos na indústria musical tiveram a oportunidade de se apresentar em um dos maiores festivais do Brasil. Fizeram seus shows no palco Global Village, a rapper Katú Mirim, que além de compositora é ativista indígena, e Victor Xamã, que trata em suas canções a cultura da Amazônia.

Destaques do segundo dia

O início dos trabalhos do segundo dia do Rock in Rio 2024 ficou ao cargo mais uma vez do Palco Supernova, desta vez com a dupla de rappers nerds 7 Minutoz. Já às 16:40, de volta ao evento pela quarta vez, Lulu Santos abriu o Palco Mundo e emocionou o público mesmo apesar do horário, um tanto cedo para os padrões dos festivais.   

Ele, que se apresentou na primeira edição do festival em 1985, fez história novamente em  sucessos como "Toda Forma de Amor", "Tempos Modernos", "A Cura" e "Um Certo Alguém". Atualmente na turnê “Barítono”, nome em referência a uma interpretação em tom mais grave de suas canções, Lulu levantou a plateia com amor e propriedade. O cantor ainda retorna ao evento no Dia Brasil.

A dona dos sucessos "Lush Life" e "Never Forget You", além da voz da recentemente viralizada "Symphony", Zara Larsson levou muito pop à cidade do rock. Além de seus hits que animaram o público no começo da noite, incluindo o meme do golfinho nos telões, a participação especial de DENNIS marcou a segunda vinda da cantora ao país.  

O brasileiro que na última quinta lançou um remix da faixa "Ammunition" de Zara, levou funk a performance dançante e carismática da sueca. No palco, ela recebeu ainda uma camiseta personalizada do Flamengo e agradeceu o calor do público brasileiro e a parceria com o DJ.

Zara dançando no palco do RiR 2024
Com shorts verde e amarelo e muita disposição, Zara se entregou no Palco Mundo. Foto: Wesley Allen 

Embora uma pessoa na tirolesa tenha se enroscado no material cenográfico, o show da banda OneRepublic impressionou. Por volta das 21h20 eles iniciaram a apresentação que foi repleta de hits de outros artistas (aqueles que o vocalista, Ryan Tedder, ajudou a produzir), com direito a violino e pandeiro no palco.

Com o público imerso na simpatia e carisma de Tedder, um coral harmônico foi ecoado na cidade do rock quando tocada a canção “Counting Stars”. Além disso, o cantor vestiu uma camisa do Brasil, tocou piano e toda a banda demonstrou uma grande presença no palco.

Em seguida, a banda que lota estádios e já produziu músicas que estouraram nas plataformas digitais, Imagine Dragons, conquistou mais uma vez a plateia do RiR. Os headliners da noite apresentaram os sucessos “Thunder”, “Believer”, “Radioactive” e “Demons”, além de promoverem um discurso sobre saúde mental em um momento tão importante como o setembro amarelo.

Vocalista do Imagine Dragons cantando
Dan Reynolds cantando no segundo dia de Rock in Rio - Foto: Samuel Pereira / Portal dos Famosos

O dia ainda contou com NX Zero fechando o Palco Sunset em uma atmosfera de nostalgia e emoção. A banda de rock criada em 2001 está em sua turnê de reencontro "Cedo Ou Tarde", iniciada em 2023 após 6 anos de hiato. "Pela Última Vez", "Bem ou Mal" e "Razões e Emoções" foram apenas alguns dos sucessos que embalaram as paradas nos anos 2000 e 2010. 

Di Ferrero levantou mais ainda a plateia na hora de "Cedo ou Tarde", parceria com o rapper Chorão, morto em 2013. Algumas partes dos versos, não cantadas de propósito pelo vocalista, emanaram das bocas dos telespectadores, como se esses fossem o hit do momento. A banda encerrou com o anúncio do fim da turnê e o lançamento em 4 de outubro de um DVD com imagens exclusivas das apresentações realizadas.

NX Zero se apresentando no Palco Sunset
NX Zero fez uma performance emocionante de despedida. Foto: Francisco Izquierdo / Tracklist

No Espaço Favela, além da apresentação solo de DENNIS após a aparição mais cedo com Zara, o carioca Thiago Pantaleão levou uma mistura de pop e funk mais cedo. E em plena madrugada, DJ Snake encerrou o segundo dia remontando a uma balada com seus hits "Let Me Love You" e "Lean On". 

Destaques do terceiro dia

Único dos três primeiros dias que ainda contava com ingressos disponíveis, foi o dia do puro rock, nacional e internacional. O Palco Mundo teve seus trabalhos iniciados pela banda Paralamas do Sucesso, de volta ao festival para recriar a apresentação icônica de 1985.

Às 19h, foi a vez da banda estadunidense Journey representar o rock dos anos 70 e 80. De início o som estava muito baixo, o vocalista Arnel Pineda, na banda desde 2007, chegou a interromper a apresentação. Sem muitos elementos tecnológicos, a segunda performance no Brasil da banda foi moderada, com os pontos altos no final. Os hits inesquecíveis "Don't Stop Believin" e "Anyway You Want It" fizeram a plateia cantar junto.

Em seguida, Evanescence fez um show memorável. Nas mídias sociais, muitos falavam sobre “os emos dos anos 2000 estarem sendo representados”, além de vários comentários elogiando a poderosa apresentação. “Bring Me To Life”, “Going Under” e “My Immortal” foram canções que levaram o público à loucura.

 No dia mais rockeiro do RiR 2024, nada como uma banda de rock raiz, Avenged Sevenfold. Em sua sexta vinda ao país, segunda na Cidade do Rock após 10 anos, encerrou o Palco Mundo com hits, muita guitarra e gritos do público. A performance começou no passado recente com "Game Over", do álbum de 2023 "Life Is But a Dream…"

Vieram então faixas dos outros 6 discos do grupo, com destaque para "Hail to the King", um dos seus maiores sucessos, e muita emoção do vocalista M. Shadows em "Nightmare". Esse inclusive recebeu do público uma bandeira do Corinthians, e após o equívoco inocente, abriu uma bandeira verde e amarela. A volta no tempo com os riffs de guitarras e vocais afiados acabou com "A Little Piece of Heaven" de 2007, além da satisfação dos metaleiros. 

Vocalista da banda Avenged Sevenfold emocionado no palco
Vocalista do Avenged Sevenfold durante performance no RiR 2024. Foto: Padilha / Rock in Rio

No entanto, nem só de rock foi o dia 15 de setembro. Ironizando o fato de o funk ser subjugado e estar dividindo a atenção entre os palcos do evento - em um dia com atrações majoritariamente de punk e metal - Mc Hariel se apresentou antes do headliner do Espaço Favela e cantou faixas como “Até o Sol Raiar”, “Vida Louca Bela e Curta” e “Ilusão (Cracolândia)”. Logo após, Mc Poze do Rodo também agitou o lugar com várias de suas músicas, além de surpreender a audiência ao pedir sua namorada em casamento em cima do palco. 

Barão Vermelho também tocou na 1° edição em 1985, e no ano de 2024 foi destaque do Palco Sunset, com faixas históricas que marcam a trajetória da banda. Os fãs foram acalentados com  “Por Você”, “Pro dia Nascer Feliz”, “Puro Êxtase” e muitas outras que a banda brasileira produziu, deixando uma herança para o rock nacional.

Às 17h50 Planet Hemp transformou o Palco Sunset em uma manifestação pelo verde, com direito a Pitty como convidada. A banda de rap rock que revelou Marcelo D2 e BNegão sempre foi defensora da legalização da maconha no Brasil, tanto que um baseado inflável flutuava pela plateia empolgada pela reparação histórica do Rock in Rio. Na edição de 2001, o grupo carioca fez parte do boicote em resposta à diferença de tratamento entre artistas nacionais e internacionais, e até então, não havia retornado na Cidade do Rock.

Tocaram faixas dos anos 90 e 2000 como "Teto de Vidro" e "Fazendo a Cabeça", além de canções do último trabalho "Jardineiros", de 2022. As rimas, marcadas por questões sociais, como desigualdade, racismo e a vida na periferia, foram ainda acompanhadas por críticas em relação às queimadas pelo Brasil e aos discursos da extrema direita. 

O headliner do palco, Incubus, trouxe nostalgia para os apreciadores de suas canções alternativas. Depois de sete anos sem participar do festival, a banda norte-americana deixou um “gostinho de quero mais”, já que terá show solo no Brasil em abril de 2025, prometendo entregar ainda mais do que aconteceu no RiR ao cantar as faixas “Circus”, “Anna Molly” e “Wish You Were Here”.

Banda Incubus performando no RiR 2024
Banda californiana, Incubus, no Palco Sunset. Foto: Francisco Izquierdo / Tracklist

Próximo final de semana

A Cidade do Rock volta com seus trabalhos na próxima quinta (19), se encerrando no domingo seguinte. Dentre as principais atrações para o segundo final de semana estão Katy Perry, Ed Sheeran e Mariah Carey. Lembrando que sábado será o Dia Brasil, com nomes como IZA, Chitãozinho & Xororó, Luiza Sonza, Ney Matogrosso e Alcione.

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