Com cinquenta anos de carreira, o chargista Renato Aroeira (57) começou aos dezessete anos como ilustrador nos livros de pedagogia da mãe. Nascido em uma família de artistas, com pai e avô pintores, se aproximou da arte desde cedo, o que o levou a virar chargista político.
Após ilustrar os livros de sua mãe, foi trabalhar no Jornal de Minas, onde se tornou ilustrador da coluna de esportes que seu pai escrevia. Depois de um tempo ilustrando a coluna de esportes, foi convidado pelo editor do jornal para fazer charges políticas.
Quando começou como chargista, ainda jovem e durante a ditadura militar, achava que o humor vinha da simplificação. Com o tempo percebeu que a simplificação acaba sendo injusta, e da origem para diferentes interpretações. “O humor simplificado costuma ser homofóbico, racista, sexista. Tem muitos preconceitos da sociedade embutidos, por que costuma trazer o riso mais fácil. O chargista tem que tomar cuidado com isso.”
Houve muitas mudanças ao longo de sua carreira, e hoje não vê graça nas mesmas coisas de antigamente. Para aperfeiçoar suas críticas foi necessário muito estudo. “O meu aprendizado de política ocorre no movimento estudantil e na reconstrução da imprensa sindical. A partir dai, eu parei de simplesmente fazer uma charge política que os jornais tinham e comecei a entender realmente o que era política.”
Hoje em dia não gosta de usar o seu espaço para fazer piadas com minorias, e segue a linha do “politicamente correto” na criação de suas charges. “Não só incorporei o politicamente correto, como o lugar de fala dentro de uma maneira mais ampla de ver o mundo: eu sou um crítico social, e o crítico social tem a função de criticar o sujeito que engana a população”.
Com cerca de quinze a vinte charges feitas semanalmente, Aroeira deseja que as pessoas reflitam em cima das suas críticas, mas não espera que as charges resolvam algum problema social ou provoquem alguma revolução.