Chappell Roan, dona do hit Good Luck, Babe!, que debutou em 77 lugar no Billboard Hot 100 nos Estados Unidos, é cantora e compositora norte americana do interior do Mississipi, Com suas músicas festivas e com referências drags, vem dominando as redes sociais como Tiktok e X (antigo Twitter), tornando-se umas das ícones Queer da atualidade.
A artista, que se identifica como uma mulher queer, vivencia em suas músicas temas recorrentes da comunidade LGBT+.
Ser do interior também impacta em sua carreira e estética musical. Em entrevista para revista americana Paper, Chappel fala sobre a importância de referenciar o lugar onde nasceu, usando chapéus de cowboys nos shows para lembrar a todos que existem pessoas LGBT+ em todos os lugares, só não possuem espaços como aquelas que moram em grandes cidades.
Seu álbum de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, que chegou ao Top 2 no chart de álbuns pop no Apple Music, atrás apenas do novo disco da Taylor Swift, The Tortured Poets Department, conta com 14 faixas, entre elas Femininomenon, Red White Supernova, Hot To Go! e Casual. Com sua maquiagem no estilo drag e seus cachos ruivos à solta, Chappell Roan traz o gênero Pop cada vez mais extravagante, recorrendo a letras que remetem ao relacionamento sáfico - relacionamento entre duas mulheres.
Good Luck, Babe!, lançado em abril de 2024, impressionou o público e a comunidade LGBT+ ao explicitar a heterossexualidade compulsória — a pressão social que levam pessoas da comunidade LGBT, especialmente mulheres lésbicas, a negarem sua orientação sexual e viverem à custa do que é esperado conforme as normas sociais.
Na letra, a americana canta “Você pode beijar cem homens nos bares / bebidas atrás de bebida, só para parar o sentimento”, explicitando uma ação comum entre mulheres sáficas, que, assim como a personagem narrada na música, forçam um relacionamento heteronormativo a fim de serem “nada além de suas esposas”, como canta Chappell Roan durante bridge de Good Luck, Babe.
A heterossexualidade compulsória é, antes de tudo, uma opressão política, como explica a intelectual norte-americana Adrienne Rich, no artigo “A heterosexualidade compulsória e a experiência lésbica”. Segundo ela, o “compulsória” é mostrado como uma “obrigação” para que as mulheres desejem ser héteros ou então para que pensem que só serão alguém quando estiverem ao lado de um homem. Rich afirma que essa é uma questão de controles dos corpos femininos.
Em entrevista à AGEMT, Fernanda Almeida, 27 anos, lésbica e formada em psicologia, relata como a pressão de estar em relacionamento heterossexual ainda impacta o seu cotidiano, apesar de já ter bem trabalhado consigo sua autoaceitação lésbica. “Sou lembrada diariamente das coisas que eu não posso ter e não vou ter, ou das coisas que eu deveria ser e fazer.” diz ela
Fernanda comenta que, antes de se entender como uma mulher lésbica, agia da forma como Chappell Roan descreve em suas músicas. “Inventar uma nova desculpa, outro motivo idiota", relembra de uma parte do hit Good Luck, Babe!, “é o que acontecia comigo: eu tentava dar chances a garotos, e também inventava desculpas para mim mesma, com motivos idiotas para explicar as situações dentro da minha cabeça.”, explica.
Na opinião da estudante, que se assemelha com o público em geral das redes sociais, Chappell Roan faz um trabalho representativo para a comunidade sáfica e lésbica do mundo. Chappell trouxe, com toda sua qualidade performática e uma voz viciante, um novo olhar para a arte. “Quando eu tinha uns 16 anos, nunca imaginaria uma música assim existindo; e, hoje, quem tem seus 16, 17 ou 20 anos pode acabar achando identificação e compreensão nesse tipo de arte!”, comenta a jovem.
Pensar em sexualidade como um fator não incluso das questões feministas é um dos erros do movimento. Dar menos espaço para que mulheres lésbicas mostrem suas experiências revela uma visão mais explícita da influência do patriarcado na vida das mulheres em geral, sejam elas héteros ou parte da comunidade LGBT+. O trabalho da Chappell Roan, e de outras artistas queers na indústria, é abraçar um público diverso e, como canta em suas músicas, estar cara a cara com um “Eu te avisei”.