Cerimônia de abertura das Olímpiadas tem cenário inédito

O evento contou com o desfile dos atletas e apresentações que encenaram o encontro entre a modernidade e a antiguidade.
por
Luciana Zerati
Maria Fernanda Müller
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27/07/2024 - 12h

 

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, a cerimônia de abertura realizada nesta sexta-feira (26), não foi realizada em um estádio. Em vez disso, o grande Rio Sena foi palco de um desfile fluvial com quase 100 barcos. As margens  foram transformadas em arquibancadas para os espectadores, o que proporcionou um passeio mágico pelo coração de Paris ao longo de seis quilômetros do trajeto, repleto de diversas atrações.

A rota passou por alguns dos maiores cartões-postais do país. Começando na Ponte Austerlitz, o desfile seguiu pela Catedral de Notre-Dame, pelo Museu do Louvre e por praças esportivas dos Jogos, como a Esplanade des Invalides e o Grand Palais. O desfile terminou no Trocadéro, próximo à Torre Eiffel, onde ocorreram os protocolos oficiais e a pira olímpica foi acesa.

A primeira cerimônia de abertura da história realizada fora de um estádio teve chuva constante, mas a água não foi suficiente para tirar o brilho.

O Comitê Internacional Olímpico (COI), em colaboração com o Comitê Olímpico Nacional Francês de Esportes (CNOSF), se empenhou em fazer desta uma cerimônia revolucionária e acessível. A maioria dos espectadores pôde assistir gratuitamente nas margens superiores do rio, enquanto o acesso aos locais inferiores foi pago. Telões e alto-falantes posicionados ao longo do percurso garantiram que todos tivessem acesso à cerimônia e pudessem apreciar o evento.

bandeira frança
Ponte de Austerlitz explode em fumaça colorida nas cores da bandeira da frança — Foto: REUTERS/Ann Wan

 

Os atletas foram o centro da abertura, sendo apresentados no início e ao longo do desfile, para refletir o compromisso de Paris 2024 em criar os Jogos Olímpicos focados nos competidores. 

O PERCURSO DA TOCHA

A cerimônia seguiu um roteiro dividido em 12 partes, cada uma representando uma palavra que captura tanto o espírito olímpico, quanto a essência francesa. A abertura começou com um vídeo do ator franco-marroquino Jamel Debbouze chegando ao Stade de France com a tocha olímpica. O estádio vazio, simbolizava poeticamente que, neste ano, o cenário era diferente. Zinédine Zidane, ex-jogador francês, apareceu de surpresa e assumiu a tocha, correndo para o local correto. Passando por vários pontos, o ídolo do Real Madrid chegou ao metrô, onde encontrou um trio de crianças que deram continuidade à corrida.

Ao chegar nas catacumbas, os jovens encontram um homem mascarado em um barco. Eles saem diretamente para o Rio Sena, dando início ao desfile das delegações. O mascarado continuou ao longo do percurso, aparecendo intercaladamente com as apresentações. Uma combinação de vídeos gravados e imagens ao vivo iluminou os telões, despertando a curiosidade dos espectadores sobre onde a figura misteriosa iria aparecer a seguir.

Sua identidade gerou um debate nas redes sociais. Para o público geek, o homem mascarado foi visto como uma clara referência ao protagonista do jogo de videogame, Assassin 's Creed, cuja história inclui ambientações na França. Já para o público francês, surgiram várias teorias relacionadas a cultura do país, incluindo associações com o ‘Fantasma da Ópera’, ‘Arsène Lupin’ e o ‘Homem da Máscara de Ferro’.

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Mascarado misterioso que levou a tocha. Foto: Reprodução / Globo.

Ainda com a tocha, o encapuzado levou os telespectadores a explorar diversos locais. Em uma sala, são mostradas caixas da Louis Vuitton, usadas para guardar as medalhas, que foram confeccionadas com pedaços da Torre Eiffel. Em outra, é possível ver uma representação da Revolução Francesa. A próxima parada é um museu, onde as obras saem de seus quadros, em um momento que faz referência ao roubo da Mona Lisa. Eventualmente, é revelado que os Minions foram os responsáveis pelo roubo, proporcionando uma interação surpresa e divertida.

Ao chegar na Torre Eiffel, a figura misteriosa encontra Zidane e devolve a tocha ao jogador. O revezamento continua com o tenista espanhol Rafael Nadal, que segue em um barco pelo Rio Sena, acompanhado por Serena Williams, Nadia Comaneci e Carl Lewis, todos grandes medalhistas olímpicos. Nas margens do rio, Amélie Mauresmo aguardava para levar a tocha ao Louvre. Em um momento marcante de diversidade, atletas paralímpicos se juntaram à jornada ao chegar no museu, dando continuidade ao revezamento.

A tocha foi passada por vários campeões olímpicos franceses até chegar a Marie-José Pérec e Teddy Riner, ex-atleta do atletismo e medalhista do judô, respectivamente. Juntos, eles acenderam a pira olímpica com o fogo sagrado, simbolizando a igualdade de gênero que acontece pela primeira vez em uma edição de Jogos Olímpicos. O formato da pira era de um balão, em homenagem ao primeiro voo realizado na França em 1783.

pira olímpica
Teddy Rinner e Marie-José Perec acendem juntos pira olímpica em Paris 2024 - Foto: Divulgação

BRASIL NO RIO SENA

Logo após a apresentação de Lady Gaga, cantando "Mon Truc en Plumes", os atletas brasileiros passaram e demonstraram a alegria de estar vivendo o sonho olímpico. O momento de comoção ocorreu durante a passagem do barco Le Bel Ami, que levava a delegação verde e amarela. O campeão e multimedalhista olímpico Isaquias Queiroz, da canoagem de velocidade, e a capitã da equipe de rugby sevens, Raquel Kochhann, que superou um câncer de mama e voltou ao esporte, foram os porta-bandeiras do Brasil.

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Isaquias Queiroz e Raquel Kochhann foram os porta-bandeira do Brasil – Foto: Helena Petry/COB

Os dois lideraram um grupo de 50 atletas de 13 diferentes modalidades, representando os 277 brasileiros classificados, navegando na primeira parte do percurso, próximo à Île Saint-Louis, perto da Catedral de Notre Dame. Além de Isaquias, o barco contava com mais dois medalhistas: o cavaleiro Rodrigo Pessoa e a judoca Ketleyn Quadros. Também estavam presentes no barco os atletas de atletismo Hygor Gabriel, Max Batista e Lívia Avancini, que receberam aprovação da Corte Arbitral do Esporte (CAS) para disputar as Olimpíadas de Paris na manhã desta quinta-feira.

ATRAÇÕES 

Entre os desfiles dos barcos, Lady Gaga brilhou na escadaria do Grand Palais, acompanhada por dançarinos com grandes leques de plumas cor-de-rosa. A performance foi uma homenagem aos icônicos cabarés de Paris, com destaque especial para o Moulin Rouge, celebrando a tradição e o glamour desses estabelecimentos. Logo após, no ponto alto da cerimônia, a banda de metal Gojira e a cantora de ópera Marina Viotti uniram suas forças para uma apresentação única em um palácio às margens do Sena. Aya Nakamura, cantora franco-maliana e alvo de ataques da extrema-direita francesa nas últimas semanas, também se apresentou.

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Lady Gaga foi a primeira atração da cerimônia de abertura. – Foto: Kevin C. Cox/Getty Images

A celebração também incluiu uma simulação da Paris Fashion Week, organizada por jovens franceses em homenagem à importância da moda no país. Entre as várias atrações, a mezzo-soprano Axelle Saint-Cirel se destacou com sua emocionante interpretação de "A Marselhesa" do topo do Grand Palais, preenchendo o ar com o hino francês.

No fim da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, no alto da Torre Eiffel, a voz da cantora canadense Céline Dion se elevou, tomando conta de Paris e enchendo o ar da Cidade Luz de emoção.