As eleições municipais deste ano foram encerradas após os dois turnos realizados nos dias 6 de outubro e 27 de outubro. Depois da longa disputa entre os candidatos nas principais cidades de São Paulo e Minas Gerais, houve a confirmação de quem vai assumir a prefeitura a partir de 2025.
No segundo turno, Ricardo Nunes (MDB) venceu Guilherme Boulos (PSOL), com 59,35% contra 40,65% de seu concorrente. O atual prefeito de São Paulo obteve 3.393.110 dos votos válidos contra 2.323.901 do deputado federal. O total de votos foi de 6.382.084.
No seu discurso após a vitória, no Clube Banespa, na Zona Sul de São Paulo, Nunes falou do apoio essencial do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos). “Agradeço ao líder maior sem o qual nós não teríamos essa vitória”.
O candidato do MDB cita Jair Bolsonaro, pela indicação do vice de sua chapa, o Coronel Ricardo de Mello Araújo. O coronel aposentado pela Polícia Militar, é conhecido por afirmar ser os “olhos, ouvidos e braços” do ex-presidente na capital paulista.
O prefeito reeleito ainda falou sobre a importância da presença do governador durante a campanha: “Meu amigo que me deu a mão na hora mais difícil”. Nunes estava acompanhado de seus apoiadores, sua esposa, Regina Carnovale Nunes, seu vice, o deputado federal, Baleia Rossi (MDB) e Tarcísio na comemoração.
Nunes também ressaltou a importância da coligação de doze partidos em sua chapa, e criticou as políticas radicais. “Política só com ideologia é ilusão” e reforçou a posição de Tarcisio como alicerce para a aliança ser feita nestas eleições.
Ainda reforçando a parceria entre Prefeitura e Governo, e destacando a “lealdade” do governador no momento mais difícil da campanha, Nunes diz: “Conte comigo meu irmão para todas as construções do seu destino. [...] Você, Tarcísio, vai poder contar sempre comigo 24 horas por dia”.
O número de abstenções em São Paulo chamou a atenção: mais de 2.940.360 de eleitores que não compareceram às urnas, sendo a maior da história da cidade. Votos nulos foram 430.756 (3.67% dos votos válidos totais) e brancos, 234.317(6.75 % dos votos válidos totais)
Somados com votos nulos e brancos chega-se a 3.605.433. Superior ao número de votos do atual prefeito e representando 57% em comparativo com o total dos 6.382.084 votos válidos totais do segundo turno.
Em Belo Horizonte, Fuad Noman venceu Bruno Engler (PL), com 53,73% contra 46,27%. Noman recebeu 670.574 dos votos válidos contra 577.537 votos do deputado estadual. O total de votos válidos foi o de 1.356.232.
Em seu discurso na sede do PSD, Fuad agradeceu ao eleitorado de Belo Horizonte. “Muito obrigado a todos, os milhares de eleitores que votaram em mim neste segundo turno, proporcionando essa virada histórica. Muito obrigado também a todos que não votaram em mim, por respeitarem a beleza da democracia. O respeito e as eleições livres é algo que carrego em toda a minha vida e que me guiou em toda essa campanha. Continuarei a ser prefeito de todos os belo-horizontinos, daqueles que votaram em mim e dos que preferiram o outro candidato, e os que não votaram”.
O prefeito da capital mineira não citou o adversário em seu discurso, e relembrou de como a campanha do parlamentar do PL foi marcada por radicalismo e delinquência. “Jamais pensei em me vingar dos ataques e nem dividir a nossa cidade. Sou o prefeito de todos, principalmente dos que mais precisam da prefeitura. E assim continuarei sendo, agora, referenciado pela legitimidade dos votos da maioria dos eleitores da nossa cidade”.
O período foi marcado pela disputa severa entre as candidaturas nas capitais, desde o uso de fake news em campanhas e acusações graves nos debates do segundo turno, tanto na capital paulista quanto na capital mineira.
Ao final, Noman citou sua experiência no serviço público em prol da cidade. “Como afirmei e reafirmei em minha campanha, Belo Horizonte com amor é muito melhor. Foi a vitória do trabalho, do amor, da verdade e do bom senso. A vitória de quem se dedica 55 anos ao serviço público e que se dedica até hoje a servir as pessoas. A vitória de quem trabalhou incansavelmente nos últimos dois anos e meio e que tive sentado na cadeira de prefeito. Mesmo passando por um longo e doloroso tratamento de saúde, não faltei a um único dia de trabalho”.
O número de abstenções na capital mineira chegou em 636.752, também sendo a maior da história da cidade. A abstenção, em comparação com o total de votos, corresponde a 31,95 %. Votos nulos foram de 61.885 e brancos em 46.236.
Partidos vencedores visam o cenário eleitoral de 2026
Os partidos de centro-direita como o MDB, e PSD do chamado “centrão”, se destacam com a dominância do cenário político nacional e buscam alianças fortes da esquerda e direita para a próxima eleição.
Em entrevista exclusiva para a Agemt, a vereadora reeleita na capital paulista, Luna Zarattini (PT), comenta sobre a influência do resultado em São Paulo para 2026: “O impacto mostra que o campo da extrema direita sai mais fortalecido, porque existe uma aliança do prefeito Ricardo Nunes com o governador Tarcísio e com o próprio Bolsonaro. Essa aliança fortalece o governo, e Tarcísio vira um nome para se reeleger como governador do Estado ou até para a presidência da República, fortalecendo esse campo bolsonarista.”
Nomes indicados pelo presidente Lula, como Guilherme Boulos (PSOL), foram derrotados, exceto em Belo Horizonte, onde Fuad Noman recebeu apoio do atual líder nacional. Houve vitória também em cima dos nomes indicados por Jair Bolsonaro (Bruno Engler/PL), com exceção em São Paulo, já que Nunes se aliou ao ex-presidente.
Luna aponta que apesar da derrota, há otimismo nos partidos de oposição ao atual prefeito e a presença da esquerda permanece na cidade. “[..] O PT continuou com oito vereadores na Câmara, mostrando que ainda há um grande enraizamento nas periferias e comunidades. A perspectiva é reorganizar essa base petista que ainda existe na cidade para as disputas que virão, sejam elas eleitorais, sejam elas disputas políticas que a gente vai ter que enfrentar. Então, a perspectiva é de organização, aproveitar que o PT vai ter um processo de eleições diretas, organizar essas lutas políticas e também organizar a cidade de São Paulo para que a gente tenha um bom resultado em 2026.”
Sobre a vitória de Fuad, Luna citou o que significa a derrota de Bruno Engler, para a próxima votação. “Em Belo Horizonte, o Fuad do PSD derrota o candidato da extrema direita do PL ligado ao bolsonarismo, e demonstra a existência de “uma força” da base do governo Lula nas disputas também municipais. Belo Horizonte está num estado muito importante para a disputa eleitoral de 2026”, ressalta a vereadora.
Principais propostas de Ricardo Nunes
O atual prefeito de São Paulo, durante sua campanha, elaborou seu Plano de Governo detalhado em 68 páginas. O plano prevê mudanças significativas em todas as áreas essenciais da cidade e reformulações novas de planejamentos nas áreas da saúde, educação, segurança, cultura, transporte, moradia e enfrentamento às mudanças climáticas.
O plano contém propostas como:
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Paulistão da Saúde: que irá disponibilizar seis serviços num único espaço que vai funcionar no antigo prédio do Instituto de Previdência Municipal São Paulo (Iprem);
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Criação do 1° Centro da Pessoa com TEA da América Latina;
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Expandir mais a Faixa Azul para motociclistas, com o objetivo de superarmos 400 km, priorizando a segurança viária, e veicular campanhas educativas para pedestres, ciclistas e motociclistas;
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Concluir 8 novos corredores de Ônibus e BRTs, tal como o BRT Radial Leste e iniciar obras em mais 6 novos corredores de BRTs;
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Prosseguir a construção de novos Terminais de Integração de Ônibus e fazer a Concessão dos Terminais do Bloco Leste;
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Assegurar o Direito à Moradia digna e segura, escalando a produção habitacional, por meio do Pode Entrar;
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Definir ações preventivas e de mitigação dos impactos causados pelas mudanças climáticas;
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Expandir o Programa Local de Adaptação e Resiliência Climática (PLARC) com a criação de áreas verdes estratégicas para melhorar a qualidade de vida;
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Fortalecer a Guarda Civil Metropolitana (GCM) com aumento do efetivo, modernização de equipamentos e treinamento contínuo, reorganizando a estrutura territorial do centro e garantindo mais guardas na periferia
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A expansão do programa de videomonitoramento Smart Sampa buscará integrar sistemas de informações e aprimorar a segurança da cidade.
Principais propostas de Fuad Noman
Fuad Noman construiu seu Plano de Governo, com base nas visitas às 9 regiões da capital mineira em seus 72 dias de campanha. A prioridade do prefeito reeleito parece com a do prefeito paulista, com exceção na construção de suas propostas, mas continua a focar-se em áreas essenciais como transporte, saúde, educação, segurança, meio ambiente, economia e cultura.
As propostas envolvem:
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Substituir 40% da frota de ônibus por veículos de energia limpa até 2030.
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Continuar subsidiando as passagens para manter os preços acessíveis, mas espera que o volume de subsídios diminua.
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Expandir centros de saúde e concluir a Maternidade do Hospital Odilon Behrens.
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Construir novas escolas e ampliar as vagas em tempo integral.
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Propõe implementar um programa de avaliação contínua dos estudantes para identificar falhas no sistema educacional.
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Defende programas para melhorar a qualificação dos professores.
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Pretende ampliar os serviços de acolhimento e ressocialização para pessoas em situação de rua, oferecendo qualificação e reinserção dessas pessoas no mercado de trabalho.
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Fortalecer as políticas sociais para prevenção de crimes.
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Aumentar a cobertura vegetal com o plantio de 500 mil árvores até 2050.
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Promete aumentar o investimento em programas de apoio à moradia para a população mais vulnerável.
Mapa eleitoral de São Paulo
Ricardo Nunes foi o mais votado em 54 das 57 zonas eleitorais da cidade, dominando mais de 94,73% da capital paulista. Em comparação com o primeiro turno, o candidato do MDB possuía apenas 17 das 57 zonas, cerca de 29,82% do total, segundo dados do TSE. O crescimento foi de mais de 64,91%, em relação ao primeiro turno.
Um fator determinante para a reeleição de Nunes, foi a mudança de votos migrados das zonas dominadas por Pablo Marçal (PRTB) e o número de eleitores indecisos nas zonas que mais votaram em Boulos. Todas as regiões que Marçal venceu, se tornaram as regiões que mais votaram no prefeito, e as 20 zonas onde o deputado federal do PSOL dominou no primeiro turno, permaneceram em 3. Às 17 zonas eleitorais restantes, viraram outros lugares onde a maioria votou em Ricardo Nunes.
“Olhando o mapa eleitoral do segundo turno, vemos como Ricardo Nunes avançou nos votos de outros candidatos e também em votos indecisos. Ele ganhou em todas as zonas eleitorais exceto em Valo Velho, Piraporinha e Bela Vista, porém a quantidade de votos do Boulos também aumentou do primeiro para o segundo turno. Então, entendemos que Ricardo Nunes ganhou entre os eleitores indecisos e também nos votos em outros candidatos”, explica Luna.
A maioria dos votos que foram originalmente para Pablo Marçal, migraram para o candidato do MDB. O alto nível de rejeição em 52% de Guilherme Boulos, de acordo com a última pesquisa Datafolha do dia 26 de outubro, também explica como grande parte do eleitorado indeciso da cidade apoiou o atual prefeito.
Mapa eleitoral de Belo Horizonte
O cenário do mapa eleitoral de BH passou por uma reviravolta. No primeiro turno, o deputado estadual Bruno Engler do PL foi o mais votado de todas as 18 zonas eleitorais da cidade, sendo 100% de todas as regiões com apoio ao candidato bolsonarista.
No segundo turno, o atual prefeito do PSD, reverteu estes lugares e conseguiu sua reeleição. Dos 18 territórios eleitorais, Noman saiu como o mais votado de todos eles, de acordo com levantamento do TSE. No primeiro turno, Engler liderou com 34,38 % contra 26,54 % de Noman.
A coligação do prefeito, que reuniu PSD, Solidariedade, União Brasil, PRD, Agir, Avante e a federação PSDB-Cidadania, foi crucial para a virada de votos nas bases eleitorais. No segundo turno, partidos de esquerda também aderiram à campanha: PT, PSB, PSOL e PV.