Por Gabriel Alberto
O barril de petróleo chega ao seu maior preço já registrado desde 2008. Não é nenhuma novidade o combustível atingir valores tão altos, é o produto com o valor que mais flutua no mercado. Até que não pode ficar pior, a gasolina custando R$ 8,00 o litro, sem contar que nem o álcool está barato, e olha que ele já foi a salvação em um passado não tão distante. Por outro lado, a tendência do futuro não é ficar tão dependente deste valor dos combustíveis fosseis.
Segundo o jornalista automotivo, João Anacleto, é mais fácil ser historiador do que ser profeta. Isso projetando o futuro dos meios de transporte. Ele diz pensando que a nova era energética será diferente em todo mundo, cada um vai se adaptar de um jeito. O Brasil por exemplo, será um misto de eletricidade e etanol.
O velho continente terá a maioria dos seus carros elétricos, a China e os EUA também. É possível viajar de Portugal até a França com um carro elétrico tranquilamente, parando para carregar as baterias do carrinho ou não, e durante a jornada, carros a combustão serão praticamente raridades nas estradas. Até 2035, os motores que usam derivados de petróleo ou biocombustíveis não serão mais produzidos. Andar de carros na América do Norte e na Ásia se tornará uma experiência de mobilidade sem carbono.
No Brasil, a situação ainda não é 100% elétrica. Meio difícil também ser completamente assim aqui, pensando que ainda há carros e caminhões dos anos 70 que as pessoas usam no dia a dia.
Agora ao falar de algo mais concreto como o passado, a diferença dos dias de hoje é que nos anos 70, o fim do petróleo significava praticamente a extinção dos meios de transporte. Essa época criou basicamente os carros como conhecemos hoje, o início dos automóveis que dependia exatamente do preço da gasolina. Marcada por duas vertentes, os supercarros, que surgiram apenas para vencer corridas, com linhas fortes, arestas intensas e perfis cortantes. E os minis carros, que vinham como uma solução para as duas crises do petróleo da época.
Durante a década de 50 e 60, principalmente nos Estados Unidos, quanto maior, melhor. Esse foi o lema que definiu esse tempo. Daí surgem carros praticamente mitológicos, enormes, cheios de cromado, com "rabo de peixe", cores vibrantes e claro, motores gigantes. Sem contar que os americanos apostaram no alto desempenho. Sacrificar a eficiência pela força bruta dos potentes motores V8 em cupês, e, com isso, fazer surgir grandes nomes do mundo automotivo como o Mustang e o Camaro.
Com a chegada da crise, a EPA (Environmental Protection Agency) regularizou o consumo na indústria automotiva de 11,7 KM/L até 1985, e naquele tempo, o consumo estava na casa dos 6 KM/L. A medida atotada pelos americanos foi sacrificar a cavalaria dos gigantes de metal, e com isso, os motores de 5.3 L, se transformaram em menores 2.4 L com apenas 100 cv. Com isso os carros orientais começaram a tomar conta do mercado, Toyota, Honda e Datsun.
Por sua vez, o País tropical não se livrou da crise que abalou o planeta inteiro. Porém, a medida adotada aqui foi o PróAlcool. O programa foi criado como forma de tentar substituir em larga escala os derivados de petróleo. Deixando suas marcas até hoje, nos anos 90 foram criados os primeiros carros com os motores Flex, sem contar que todo a gasolina produzida e vendida aqui conta com 25% de etanol em sua mistura.
E outro fruto do programa aconteceu em julho de 1979. O Fiat 147, famoso carro que caiu no gosto dos brasileiros pela sua economia e conforto, lembrado até pelo comercial onde o pequeno italiano não para no posto de gasolina no meio do nada, enfatizando a qualidade do consumo. Mas esse 147 de 1979 tem uma pequena diferença, era o primeiro carro produzido em série no mundo movido a álcool.
O 147 ainda foi apelidado de ‘Cachacinha’, por conta que o álcool fazia o escapamento soltar um cheiro que lembrava a bebida. Ele foi vendido para o Mistério da Fazenda e hoje faz parte da coleção de clássicos da Fiat, praticamente intacto, com mais de 80 mil quilômetros rodados, soltando o mesmo cheiro de cachaça, na sua cor preta com listras prateadas nas laterais e ainda escrito ‘Movido a Álcool” na tampa do porta-malas.
Ao voltar um pouco mais na história, o surgimento das baterias móveis se deu bem antes do que se imagina. Em meados de 1800 já havia cientistas brincando de colocar pequenos motores elétricos em alguns carros, tanto que os primeiros recordes de velocidade foram feitos com elétricos. Em 1898 o carrinho francês Jeantaud Duc bateu a marca de 63,15 km/h. Os principais choques ficam com o primeiro carro da Porsche, o Porsche P1, com meros 3 cavalos de potência e uma autonomia de 80 km. E o La Jamais Contente, o primeiro carro a superar 100 quilômetros por hora em 1899.
Avançando quase 100 anos no tempo, em 1996 a General Motors lança o EV1, que possui o posto de primeiro elétrico contemporâneo produzido em massa para o público. Mas acabou não dando muito certo e hoje é apenas mostrado em museus e universidades. Então o marco de sucesso para um carro elétrico de produção em massa fica para o Nissan Leaf.
Entretanto, a fama dos carros elétricos pertence atualmente a Tesla Motors, a montadora com valor maior de US$1 trilhão, sendo a única do ramo nessa casa e valendo quatro vezes mais que a Toyota.
Famoso, mas nem tão popular assim. Aquele acessível ainda está bem longe de surgir. Para se ter ideia, o carro elétrico mais barato do Brasil é o Renault Kwid, custando R$ 149 mil. Segundo Anacleto, essa questão de barateamento é um ponto complicado, pois se torna uma questão de dominação e de tentativa de migração da geopolítica automotiva mundial, do Ocidente para o Oriente. É a China assumindo a ponta do mercado elétrico, tanto que 85% das fábricas de bateria do mundo são chinesas. Eles saíram muito na frente com isso e nos torna, não produtores, reféns disso.
João ainda complementa que o incentivo federal é fundamental para que uma matriz energética se consolide, mas acha não vai acontecer, diferente do que aconteceu com o álcool. No Congresso, 30% ou 35% da bancada é composta por ruralistas, e eles vão defender os interesses deles, é bem isso. Agora sobre eletrificar o Brasil com posto de carregamento ele comenta que sem nenhuma novidade, também é complicado, mas está melhorando.
Sem levar em conta que é muito difícil criar pontos de carregamento em um País de extensão continental. O jornalista diz que não é possível abastecer uma frota de 3 mil carros elétricos atualmente de uma maneira perfeita, mas não por falta de energia e sim por falta de pontos de recarga. São Paulo por exemplo, uma cidade com constantes roubos de fios de cobres, vai ser pior ainda com essas estações que devem se tornarem publicas e no Brasil, só quem pode vender a energia é a concessionaria, a empresa que comprou a concessão de energia, então não é possível abrir um posto 100% elétrico, sem contar das várias tomadas, adaptadores, e dos carregadores em prédios, briga de condomínio para ver quem vai pagar a conta. Um jabuti na árvore, isso que é o carro elétrico no Brasil.