Carlo Ancelotti: Liderança Tranquila

Conheça o método e a trajetória de um dos mais vitoriosos da geração
por
Gabriel Cordeiro
Lucas Tomaz Lopes
|
13/11/2023 - 12h

Nascido em Reggiolo no Norte da Itália em 1959, Carlo Michelangelo Ancelotti, apelidado como o “Don Carlo” é um dos técnicos de futebol mais conhecidos do mundo. Atualmente treinador do Real Madrid, Ancelotti é um dos mais vitoriosos da história do esporte.

Carlo Ancelotti Champions

Carlo Ancelotti ao conquistar a UEFA Champions League em 2014 (Foto: Real Madrid CF)

Antes de treinar grandes jogadores, Carlo se acostumou a conviver com eles desde seu período como jogador, onde foi treinado por Arrigo Sacchi em um AC Milan muito vitorioso, e desde esta época o italiano se mostrava um grande tranquilizador de vestiário. Após sua aposentadoria dos gramados, o mesmo Sacchi lhe daria uma nova oportunidade na área técnica, onde começaria como seu auxiliar na seleção italiana na Copa de 1994.  

https://www.youtube.com/watch?v=6OqBwJrzLis

Pós-mundial, iniciaria de fato sua carreira como treinador no pequeno time italiano Reggiana, equipe da região onde foi criado e havia acabado de ser rebaixado para a segunda divisão do campeonato italiano. Era seu primeiro desafio como treinador e ali começou a moldar sua maneira de liderar, valorizando sempre um bom relacionamento com seus atletas, balanceando com sua figura de autoridade. Sua primeira temporada como treinador se iniciou conturbada (com sete derrotas nos sete primeiros jogos), mas após se encontrar em sintonia com o elenco, foi possível uma volta por cima e o acesso a primeira divisão.

Após o sucesso em sua primeira temporada na Reggiana, Carlo passaria pelas equipes Parma e Juventus sem muito destaque, mas onde obteve importantes aprendizados que moldaram seu estilo de jogo e de tratamento com os atletas, começando a valorizar as individualidades e que deveria se adaptar ao material que tem para se chegar as conquistas.

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E é após essas passagens que Ancelotti retorna a sua “família”, chegaria para ser treinador do AC Milan, onde foi multicampeão como jogador e chegaria para comandar a equipe por oito temporadas. Dentre seus primeiros anos, se deparou com “problemas”, lidando com os egos inflados das estrelas e com as competições internas pelas vagas de titular, mas de acordo com o mesmo, era fácil comandar aqueles excelentes jogadores, pois todos eram excelentes. Em seu terceiro ano comandando a equipe, foi vencedor de sua primeira Champions League como treinador, administrando as emoções e sendo muito querido dentre seu elenco.

Dois anos depois, Don Carlo chegaria a sua segunda final da competição europeia, a segunda com sua família. Tudo parecia um sonho quando sua equipe abriu vantagem de 3 gols frente ao time o Liverpool ainda na primeira etapa, porém tudo desmoronou após o intervalo. O adversário empatou a partida e venceu o campeonato nas penalidades máximas, Carlo amargaria um dos vices mais doloridos da história.

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Em sua longa passagem pelo Milan, o treinador conquistou 8 títulos. Duas temporadas após o famoso milagre em Istambul, Ancelotti conquistaria seu segundo troféu da liga dos campeões em cima do mesmo indigesto time inglês que ganhara a competição em 2004-05. Após todos esses anos de conquistas e boa relação com o clube, sua passagem pelos Rossoneri chega ao fim com um saldo mais do que positivo para Carlo que era extremamente querido pelos jogadores e pela direção do Milan, sua saída foi tratada como um novo desafio para ambas as partes. Ao todo, Ancelotti comandou a equipe italiana em 417 jogos, com 237 vitórias, 99 empates, e 81 derrotas.

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Na temporada de 2009/10, Ancelotti deixa o Milan e chega ao Chelsea. Logo em sua primeira temporada na Inglaterra, o treinador conquistou três títulos: a Premier League, a Copa da Inglaterra, e a Supercopa da Inglaterra. Além de toda sua capacidade técnica indiscutível, o fato do técnico ser fluente em inglês ajudou muito em sua contratação.

‘’Uma vez, antes do jogo, Ancelotti chegou em frente a uma mesa tática e perguntou aos jogadores como deveria ser o modelo de jogo. Treinadores muitas vezes têm medo de dar tanta responsabilidade aos jogadores, mas quando o jogo começa, a influência do técnico num estádio cheio é pequena. Não dá para passar informação. Os jogadores precisam tomar decisões em frações de segundos’’ — Paul Clement, auxiliar de Ancelotti no Chelsea

Mesmo com o ótimo ano do Chelsea, a perda da Liga dos Campeões para Mourinho não foi bem digerida por Abramovich, que começava a tecer críticas internas a Ancelotti, o presidente e o treinador não possuíam boa relação e contrastavam bastante. Após a eliminação da liga dos campeões para o United, já estava dada como certa a demissão do técnico italiano no clube inglês.

‘’No último jogo do ano, fomos superados pelo Everton por 1 a 0. Ouvi dizer que o CEO do clube estava indo para casa quando recebeu um telefonema dizendo: 'Dê meia-volta e diga a Carlo que ele está demitido'. Ao menos pude despedir-me dos jogadores. Naquela noite, os jogadores mais experientes — Didier Drogba, John Terry, Frank Lampard e os demais — levaram-me para jantar e beber alguma coisa. Nunca havia presenciado aquilo em minha carreira. Acho que gostavam de mim.’’

— Carlo Ancelotti, no livro Liderança Tranquila

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Carlo Ancelotti se tornou o único treinador a conquistar, ao menos uma vez, os títulos nacionais das cinco principais ligas da Europa. Um deles veio com o Paris Saint-Germain na temporada 2012-13. No entanto, o clima na França nem sempre foi tranquilo. O treinador se entusiasmou com o projeto do poderoso time frances, cujo principal objetivo até hoje é a conquista da Liga dos Campeões, porém no seu segundo ano de PSG, os dirigentes não pareciam estar muito contentes com o italiano, que chegou a sofrer ameaças de demissão ao longo da temporada. Ancelotti se sentiu pressionado demais por resultados o que impossibilitava o crescimento do time a médio longo prazo, foi ai que se deu conta que a direção não confiava em seu projeto e decidiu que sairia do clube em março de 2013, sempre deixando boas relações com seus jogadores.

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Agora em 2014, Carlo aceitaria a proposta de um novo e empolgante desafio: o Real Madrid. Logo em sua primeira temporada, atingiria o Santo Graal com a equipe, a Champions League pela terceira vez, quebrando um jejum de mais de dez anos do time espanhol.

Mas a primeira passagem de Carlo com o Madrid chegaria ao fim pouco após a conquista, logo em sua segunda temporada após sofrer com lesões foi demitido. Como o mesmo define “Não é nada pessoal, são só negócios”, e foi inspirado em “O poderoso chefão” que Carlo define sua relação com o presidente histórico do clube espanhol Florentino Perez, que desde o começo se mostrou admirado por seu estilo apaziguador, mas também sabia que o mesmo Florentino havia conduzido a contratação (e em especial, a demissão) dos últimos nove treinadores, com Ancelotti a história não foi diferente, dada as declarações do presidente, o Real Madrid não era um lugar para fincar raízes

Apesar do excentrico presidente, a relação de Carlo com os jogadores como sempre foi muito boa, sendo a equipe com mais qualidade que já treinou. Se adaptando aos jogadores em mãos, acomodou a maioria em um esquema e como o próprio disse “Com esse time não preciso de muita tatica. Quero marcar gols com estes jogadores”.

https://youtu.be/P5Plct1xzZs?si=UhYLiOCylMjbwd5P

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Carlo Ancelotti foi um dos técnicos mais vitoriosos de seu tempo e ainda assim não criou rivalidades notórias, pelo contrario, gerava e gera até hoje a admiração de seus adversários. Sir Alex Ferguson, lendário ex-técnico do Manchester United, lamenta que o italiano nunca tenha treinado seu ex-time.

Carlo costumava sair para jantar e tomar um bom vinho contra seus adversários em noites que antecediam jogos de Champions League, fazendo assim bons “amigos”.

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Com um jeito peculiar de liderar, entendendo e buscando humanamente chegar a um acordo com seus comandados, Carlo ensina lições de humildade, confiança, lealdade, conciliação e acima de tudo: liderança. O italiano mostra com resultados e desempenho que é mais do que possível ser um bom treinador abdicando da posição de general.

Resultados da “Liderança Tranquila”

Liga dos Campeões: 2003 e 2007 (Milan), 2014 e 2022 (Real Madrid)

Mundial de Clubes: 2007 (Milan), 2014 e 2022 (Real Madrid)

Premier League: 2009/2010 (Chelsea)

Campeonato Espanhol: 2021/2022 (Real Madrid)

Bundesliga: 2016/2017 (Bayern de Munique)

Campeonato Italiano: 2003/2004 (Milan)

Campeonato Francês: 2012/2013 (PSG)

Supercopa da Uefa: 2003 e 2007 (Milan), 2014 e 2022 (Real Madrid)

Copa da Inglaterra: 2009/2010 (Chelsea)

Copa da Itália: 2002/2003 (Milan)

Copa do Rei: 2013/2014 e 2022/2023 (Real Madrid)

Supercopa da Inglaterra: 2009 (Chelsea)

Supercopa da Itália: 2004 (Milan)

Supercopa da Espanha: 2021/2022 (Real Madrid)

Supercopa da Alemanha: 2016 e 2017 (Bayern de Munique)