Candidatos LGBTs sofrem com sabotagem dos partidos

“Tem partidos que de sete candidaturas LGBTs em 2020, cinco deles não receberam investimentos, nenhum tostão”, aponta Gui Mohallem em entrevista para a AGEMT
por
Felipe Oliveira
Guilherme Nazareth
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31/08/2022 - 12h

“A maior dificuldade para a candidatura LGBTQIA+ é o partido”, afirma Gui Mohallem; fotógrafo, artista plástico e executivo da organização VoteLGBT. Em contato via WhatsApp, ele diz que o investimento é quase nulo, além da existência de violência, sabotagem, homofobia e negligência nos partidos com os candidatos LGBTs.

O #VoteLGBT surgiu em 2014 como uma campanha para viabilizar candidaturas pró LGBTs, sendo uma das organizações pioneiras na luta pela causa. A entidade entende que só existe democracia quando há diversidade.

Em 2016 a instituição começou a realizar pesquisas de perfil político nas paradas LGBT, e assim produziram dados sobre a comunidade na população, já que essas informações estatisticamente não existiam na época.

Mohallem fala sobre as dificuldades e LGBTfobias que os candidatos sofrem ao tentarem se filiar a um partido político: “LGBTs não escolhem o partido, vão no que aceitam”. Ele alega que é um “luxo” um LGBT escolher o partido que deseja pela posição política, e também diz que muitos partidos abandonam seus eleitorados, sem investir devidamente neles.

O artista diz ser comum os partidos investirem pouco ou até mesmo nada nas candidaturas: “Tem partido, que de sete candidaturas LGBTs em 2020, cinco deles não receberam investimento, nenhum tostão”, declara o fotógrafo.

Logo após, Mohallem fala sobre o confinamento que os grupos políticos impõem para os candidatos: “Os partidos tendem a confinar os LGBTs a pautarem apenas nas questões identitárias, e ao contrário disso, vemos muitos mandatos LGBTQIA+ com propostas interessantes para toda população”.

De acordo com as pesquisas do VoteLBGT, representantes LGBTs eleitos, somando todos os cargos, ocupam apenas 0,16% na política. Ainda assim, as denúncias de violência política e ameaças de morte, atendidas pelo Ministério Público, mostram que 50% são contra mulheres trans.

Expectativas nas eleições de 2022

Nas eleições de 2018, segundo a Associação Brasileira LGBT(ABLGBT), houve 180 candidaturas LGBTQIA+. Até o momento, chegou-se ao número de 242 nesse período eleitoral, divulgado abertamente no site do VoteLGBT+. Candidaturas não pertencentes à sigla em questão, mas que apoiam abertamente a causa, também ecoam cada vez mais nos espaços políticos.

O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, também projetou um alcance em torno de 250 do dado exposto acima. Disse também sobre a expectativa de ter, no mínimo, 8 candidaturas da comunidade eleitas no Congresso Nacional, o que seria o dobro das pessoas assumidamente LGBTQIA+ entre deputados e senadores.

 Para chegar a essa conquista o envolvimento da organização na política não é pequeno. Conta com um programa chamado Voto Com Orgulho, trazendo apoio no âmbito jurídico e na questão da publicidade nas campanhas políticas. Atualmente são 34 candidaturas espalhadas pelas 5 regiões do Brasil e todos para os três cargos do Poder Legislativo.

 Ao contar com essa assistência, é necessário assinar um termo de comprometimento com propostas específicas de cada setor que vai concorrer, almejando o combate a LGBTfobia e promoção dos direitos da sigla. Há três eleições em funcionamento, Toni declarou que a plataforma “tem o intuito de incentivar as pessoas a se orgulharem de serem o que são e também votarem com orgulho, ter dignidade para isso.’’

Toni deseja com essas eleições atingir uma bancada forte LGBTQIA+, e assim, lutar para positivar no congresso nacional todas as ações a favor conquistadas no Poder Judiciário brasileiro, como a criminalização da LGBTfobia, casamento homoafetivo, nome social e mudança de gênero.