Cacau ou gordura hidrogenada

Entenda o motivo da mudança de ingredientes na indústria do chocolate
por
Liz Ortiz Fratucci
Julia Naspolini
|
06/05/2025 - 12h

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, as vendas da páscoa de 2025,  somaram mais de 3 bilhões de reais. Hoje em dia, existe uma ampla variedade de sabores, marcas e preços. Recentemente, viralizou nas redes sociais postagens sobre a mudança de ingredientes do Choco Biscuit da Bauducco. A nova receita promovida pela empresa substitui a barra de chocolate que tinha em cima do biscoito por uma barra de gordura hidrogenada sabor chocolate. Essa polêmica, junto com a passagem da Páscoa, fez muitos internautas questionarem: qual a qualidade do chocolate que comemos? E como isso influencia na nossa saúde? 

Biscoito e Barra de Chocolate ao Leite Bauducco Choco Biscuit Pacote 36g
Biscoito Bauducco "Choco Biscuit" 
 

Apesar da Bauducco e empresas que tiveram processos similares não terem se pronunciado, existem alguns possíveis motivos para as novas receitas. Diante do grande aumento no preço do cacau nos últimos dois anos -- resultado da escassez do cacau em áreas produtoras por mudanças climáticas, muitas empresas reduziram o percentual do fruto em seus produtos. Além disso, as flexíveis leis do Brasil dificultam a manter um padrão maior de qualidade. Por lei, é exigido apenas 25% de cacau em um produto para que possa chamá-lo  de chocolate. Já na União Europeia, por exemplo, a porcentagem mínima é de 30% para o sabor ao leite. 

A engenheira de alimentos Larissa Albino, em entrevista à AGEMT, diz que a mudança pode ter diversos motivos. Um deles seria a questão da estabilidade, já que o chocolate tem uma propriedade sensível a temperatura e umidade, pode ser que o pacote tenha ocasionado o derretimento do produto, gerando reclamação de consumidores. Outro motivo pode ter sido a falta de disponibilidade de matéria prima de cacau no mercado.

Por questões climáticas, no ano passado, ocorreu uma crise na produção de cacau no país. Com isso, as empresas passaram a ver a necessidade de priorizar alguns produtos em detrimento de outros. Provavelmente, para não serem obrigados a descontinuar a linha “Choco Biscuit”, eles adotaram a estratégia de aderir ao chocolate saborizado, uma matéria prima menos nobre. Albino esclarece que o chocolate hidrogenado não deixa de utilizar o cacau, ele apenas é utilizado em menor quantidade. Para completar a ausência do volume do cacau na formulação, é utilizada a gordura hidrogenada, já que ela possui melhor estabilidade, levando-a a suportar maiores temperaturas, como as do Brasil, durante a comercialização.

“A manteiga de cacau, substituindo a gordura hidrogenada, teoricamente seria mais saudável. Mas hoje em dia há tecnologia para a produção de gordura hidrogenada, que já está bem mais avançada do que antigamente. Então hoje você pode até observar que, na tabela nutricional do produto, você não vê um impacto tão grande em relação à quantidade total de gorduras saturadas", afirma Albino. 

A engenheira também explica que o avanço na tecnologia de produção e de matéria-prima faz com que hoje o produto seja nutricionalmente mais equilibrado do que no passado. Não tendo uma tabela nutricional muito mais gordurosa do que teria utilizando a manteiga de cacau. Escute a matéria completa no SoundCloud