Cabos eleitorais da Bancada do Cocar sofrem xingamentos em panfletagem

Militantes da causa indígena sofrem preconceito durante campanha na cidade de São Paulo
por
Artur dos Santos
Lucas Allabi
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06/10/2022 - 12h

Cabos eleitorais da candidatura de Sonia Guajajara afirmam sofrer xingamentos durante panfletagem na cidade de São Paulo em cenário violento de pré-eleição. Rodrigo Gabriel, indígena do Pico do Jaraguá, ainda contou de uma colega que, enquanto panfletava, levou um tapa na cara. 

Encabeçada por Sônia Guajajara, Celia Xakriabá e Shirlei Pankará (candidatas a deputadas pelo PSOL), a “Bancada do Cocar” se dispõe a tratar de pautas relevantes aos povos indígenas, que vêm sofrendo cada vez mais ataques e mortes nos últimos anos .

Quanto às condutas da candidata a deputada federal por São Paulo, Rodrigo afirma estar otimista: “as candidatas tão sempre com a gente, não só mandando a gente trabalhar, mas vindo, dançando”.

Para ele, as representantes da Bancada “lutam pela garantia de direitos que deveriam ser respeitados. O povo indígena tá sofrendo por causa dos políticos e tendo que lutar por coisas que são direito dele. A gente não deveria nem tá passando por isso”.

Rodrigo revela a situação de precariedade na qual os indígenas do Pico do Jaraguá se encontram. “Muitas pessoas abandonam seus animais e cachorros pra gente cuidar, eles abandonam e a gente cuida por obrigação; tem mais cachorro do que indígena”.

A realidade das pessoas que panfletam para a Bancada do Cocar também não é tranquila. O aumento de casos de violência a pessoas que votam em candidaturas alinhadas mais à esquerda, como é o caso da de Sonia Guajajara, não exclui os indígenas que panfletam para elas. Rodrigo afirmou ter sido xingado em vários momentos durante suas atividades.

Osmar da Silva, colega de Rodrigo, disse que acreditava São Paulo não ser tão violento quanto outros estados: “Mato Grosso é mais violento”. Osmar afirmou ter vontade de fazer uma viagem para ver a situação dos indígenas de lá.

Durante o lançamento da pré candidatura de Sônia Guajajara realizado no dia 14/06 deste ano no Teatro da Rotina em São Paulo e cobrido pela AGEMT, Guajajara revelou que os povos indígenas correspondem a 5% da população mundial e que 82% da biodiversidade do planeta se encontra em terras indígenas. Disse que “as empresas que poluem os rios, que poluíram Mariana e Brumadinho, seguem impunes”, mas que quando esses são poluídos: ”não é só o rio que se perde,  a nossa cultura vai junto. Todo mundo vai sentir sede, vai ver a água correr, mas a água estará contaminada”.

Sonia também esteve presente na conclusão do julgamento realizado pelo Tribunal Permanente dos Povos - entidade internacional que julga crimes e violações de Direitos Humanos sem a aplicação de pena - que julgou e condenou Jair Bolsonaro por crimes contra a humanidade em sua gestão durante a pandemia no último dia 1.

Antes da decisão, o Tribunal passou por duas sessões nas quais foram ouvidas testemunhas representando os povos indígenas, negros e profissionais de enfermagem. Auricélia da Fonseca, representante dos povos indígenas, enfatizou o “projeto de morte” efetivado pelo atual governo.

Além de Auricélia, Maurício Terena, advogado indígena representante dos Terena, foi uma das testemunhas do julgamento, e, no dia da decisão, reafirmou a importância de, em ano de celebração da Independência no Brasil, o TPP denunciar o presidente da República.

Bolsonaro, embora condenado por crimes contra a humanidade, não foi condenado pelo crime de Genocídio em uma tentativa do Júri de “não banalizar o conceito de”. Sonia rejeitou fortemente a decisão: "O que mais precisa acontecer para que esse governo seja considerado Genocida? O TPP [Tribunal Permanente dos Povos] nega a condenação. Não posso sair daqui feliz com essa sentença parcial”, exclamou.