Brasil recebe professores estrangeiros

O incremento de profissionais da educação foi registrado pelo MInistério da Justiça
por
Thomaz G. Cintra
|
17/06/2022 - 12h

Por Thomaz Guarrizo

No início da última década, houve um aumento no número de estrangeiros que vinham ao Brasil à trabalho, conforme estatísticas do Ministério da Justiça, o número de trabalhadores que não são brasileiros, aumentou em 57% em 2011, chegando a mais de 1,5 milhão de empregados. No meio desses números, destaca-se o aumento no fluxo de peruanos, bolivianos e paraguaios, que mesmo sem formação superior, vieram ao Brasil por conta da oportunidade de melhorar suas condições de vida. E, assim como os brasileiros, esses imigrantes também têm os mesmos direitos trabalhistas, como 13º salário, FGTS e férias de 30 dias, por exemplo.

Em 1980, foi criada uma lei, regulamentada no ano seguinte, que definia a situação jurídica desses trabalhadores no Brasil, e junto dela, foi criado o Cnig (Conselho Nacional de Imigração), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego responsável pela formulação da política de imigração e coordenação de suas atividades no país. E é o Cnig que concede a autorização para os estrangeiros poderem trabalhar aqui. Desde 2006, o número de autorizações para essas pessoas aumentou, e segundo Paulo Sérgio Almeida, coordenador geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, isso se deu por conta dos investimentos feitos nos setores da indústria, óleo, gás e energia.

Focando agora na área da educação, é interessante dizer que muitas escolas contratam apenas funcionários estrangeiros para lecionar um idioma, e uma dessas escolas, por exemplo, é o Proficiency. Leandro, o diretor e fundador da escola, contou que, para contratar os professores estrangeiros, ele sempre conversa com os contatos que fez no Departamento de Inglês da Universidade de Michigan, quando estudou lá. Segundo ele, a universidade normalmente consegue recomendar alguém para a escola que tenha interesse em vir morar no Brasil, e também disse que toda a parte de documentação, já fica acertada desde antes de chegarem aqui.  Outra fonte que a instituição utiliza, são estrangeiros naturalizados que já residem no Brasil, na maioria das vezes, já casados com alguma pessoa daqui, por isso eles conseguem ser contratados em condições normais da CLT.

O Proficiency sempre foca em contratar esses tipos de professores, e um deles é Mathew Moore, um americano, que mora no Brasil e já dava aulas de inglês antes mesmo de sair de seu país natal, segundo ele. Mathew, embora não tenha facilidade para falar português, não encontrou muita dificuldade em ser contratado pela instituição, e para ele, algo que o ajudou bastante foi o fato de a escola não cobrar bom nível de língua portuguesa. Ele veio ao Brasil, em um primeiro momento para viajar e conhecer o país, mas depois que encontrou algumas pessoas aqui e começou a namorar, resolveu ficar, e foi nesse momento que ele começou a procurar um emprego. Sua rotina não mudou muito quando se mudou para o Brasil, mas, segundo ele, a cultura brasileira é definitivamente diferente da cultura dos Estados Unidos, e esse foi um dos fatores que ele teve que dar mais atenção e ser mais cuidadoso, ele tinha que entender que estava em um país estrangeiro e algumas coisas seriam diferentes de onde ele veio. E outra coisa que o ajudou bastante foi que sua namorada brasileira, era fluente nas duas línguas, então até ele aprender português suficiente para conseguir “se virar”, ela era, com as palavras de Mathew, “Meu google tradutor pessoal”. Ele disse ainda que foi questão de meses, quase um ano, para aprender a falar o básico do português bem, por isso as pessoas que conheceu foram essenciais para que ele conseguisse ficar no Brasil e conseguir uma vida estável aqui.

O Proficiency, pelo fato de “acolher” muitos empregados estrangeiros, apresenta um espaço muito agradável a eles, onde, pelo menos antes da pandemia, os professores poderiam ficar e conversar em sua língua natal sem problema algum. A escola também sempre fez festas em datas comemorativas e convidava, além dos professores, seus alunos, e criava um local onde todos poderiam conversar (em inglês) sem precisar de seus “Google tradutores pessoais” ou coisas do gênero. É um lugar, um espaço de trabalho, onde todos os empregados conseguem se sentir em casa.

Existe também uma escola de música chamada Eita! (Espaço Interativo de Tecnologia e Artes), mas ela não costuma contratar professores estrangeiros de modo geral, como o Proficiency. Porém tem um caso muito interessante, o professor Renzo Peralez, que não é brasileiro, leciona música, na área dos instrumentos de cordas, nessa instituição. Ele é nascido na capital do Peru, Lima, e veio para o Brasil em 2010 e disse que foi realmente difícil de se adaptar no novo país, muito por conta da língua, conta ele que até chegou a fazer algumas aulas de português, por uns 2 meses, mas não foi suficiente para conseguir entender a língua portuguesa, e por isso teve muita dificuldade de se comunicar no início. Renzo veio para o Brasil por conta dos estudos, ele ganhou uma bolsa na faculdade de música Souza Lima, e por isso veio para cá, porém, fez toda essa mudança sozinho, o que gerou ainda mais dificuldades na adaptação dessa nova fase de sua vida. Ele iria cursar dois anos dessa faculdade e depois emendar com um curso em uma outra instituição, que seria nos Estados Unidos, porém, esse segundo curso, ele acabou nunca levando adiante, e decidiu continuar vivendo aqui no Brasil, mesmo com todos os obstáculos de mudança de idioma e cultural que foram muito radicais, ele sentiu que tinha conseguido se adaptar ao final do curso na Faculdade Souza Lima, e então viajou aos Estados Unidos.

O professor se formou como músico em 2015, e está trabalhando no Eita! desde a metade de 2018, foi contratado através de uma indicação de um ex-professor seu da faculdade. Segundo ele, a escola sempre foi muito honesta com os professores e com os alunos, por isso, decidiu aceitar o emprego e está lá até hoje, a visão que ele teve logo no início dessa empresa foi crucial para sua decisão, até porque, mesmo depois de passados 9 anos vivendo no Brasil, ele mesmo assim não estava no país que sempre conheceu e realmente deveria ficar desconfiado com qualquer coisa. Desde que ele chegou ao Brasil, ele já pensava em lecionar música, ele tinha noção de que uma das melhores e mais estáveis formas de se trabalhar com música, é sendo professor. Porém, das essas aulas não é sua única fonte de renda, ele também trabalha à noite tocando com outros artistas em bares e restaurantes por exemplo.

É interessante ver como nesses casos os trabalhadores tiveram suas dificuldades para conseguir se estabelecer em um local totalmente novo, com uma cultura nova, e um idioma também. Porém, um dos fatores que mais pesou para que continuassem aqui e os ajudassem a se manter bem no Brasil, foi o local de trabalho deles, as duas escolas em que eles trabalham os ajudaram a se fixar aqui, mas acima de tudo, as empresas, os acolheram.

Tags: