Brasil ganha primeiro centro de pesquisa do "combustível do futuro”

Investimento milionário da Alemanha gera visibilidade e possibilita o pioneirismo brasileiro na mitigação dos gases de efeito estufa
por
Malu Araujo
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10/10/2023 - 12h

Na última semana de setembro, dia 28, foi inaugurado o primeiro Centro de Hidrogênio Verde do Brasil, na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), em Minas Gerais. 

As expectativas são de que o novo centro ajude na pesquisa do uso de hidrogênio verde como uma energia limpa alternativa para reduzir a poluição.

Combustível do futuro: Centro de Hidrogênio Verde é inaugurado em Itajubá, MG — Foto: Divulgação / GIZ
Combustível do futuro: Centro de Hidrogênio Verde é inaugurado em Itajubá, MG — Foto: Divulgação / GIZ

O investimento de quase R$ 25 milhões do governo alemão no projeto promove a análise do uso de hidrogênio em processos industriais, na produção de energia elétrica e como uma fonte alternativa sustentável para a mobilidade urbana. O Centro de Hidrogênio Verde (CH2V) será gerado exclusivamente por energia renovável (painéis fotovoltaicos) e abrigará laboratórios destinados a diferentes frentes de pesquisa focadas no uso do hidrogênio para reduzir a emissão de carbono.

Além disso, a CH2V também contará com a inserção de disciplinas ligadas à UNIFEI com foco no hidrogênio verde, com o objetivo de promover mais conhecimento, troca de experiências e qualificação profissional na área.

O professor de Engenharia Elétrica e de Controle e Automação da UNIFEI, Rondineli Rodrigues, contou que com o CH2V espera-se não apenas o fomento da pesquisa, mas também novas áreas de estudo.

O docente explica que as pesquisas não se restringem aos laboratórios do centro. Na verdade, o objetivo é ampliar o ensino para alunos da graduação, inicialmente em EAD, contemplando também outros cursos e níveis de formação, com os cursos de pós-graduação e especialização. 

Para além desse leque que se abre, Rodrigues também acredita que o Brasil possa se tornar um dos “grandes players mundiais em relação à produção de hidrogênio verde e, consequentemente, no desenvolvimento da tecnologia no país”, destaca.

Repercussão local e expectativas dos estudantes

Apesar do orgulho em relação ao pioneirismo da universidade, a estudante de Engenharia Ambiental da IUNIFEI, Bárbara Novaes, comenta que o evento de inauguração “poderia ter tido um pouco mais de repercussão local”.

Na visão de Bárbara, o tema ainda se encontra fechado na “bolha da universidade”, já que a informação permanece no “boca a boca”. Para ela, “seria interessante democratizar mais essa informação e fazê-la chegar em todo mundo”, tendo em vista a relevância do assunto em escala nacional.

Como estudante, Bárbara compartilha, com orgulho, a expectativa de que seja possível obter mais oportunidades de pesquisa e parcerias com universidades nacionais e internacionais a partir dessa visibilidade.

Rodrigues, por sua vez, acrescenta que a UNIFEI poderá ser pioneira no desenvolvimento energético sustentável a partir do CH2V. O projeto ajudará na produção do hidrogênio e em seu uso cotidiano, impactando âmbitos como a mobilidade urbana e as grandes indústrias nacionais.

Com a urgência do aquecimento global e a busca por soluções aos efeitos da crise climática, o hidrogênio verde (H2V) pode entrar no mercado como uma peça-chave na descarbonização da indústria. 

Não à toa, ele vem sendo chamado de combustível do futuro.

Mas, afinal, o que é o Hidrogênio Verde?

O hidrogênio verde apresenta vantagens significativas para a economia global e para o meio ambiente, tais como:

  • Uma fonte totalmente sustentável, que não emite gases poluentes durante sua produção ou combustão;

  • Capacidade de armazenamento que possibilita o uso em diversos setores;

  • Sua versatilidade permite  a conversão em eletricidade ou em combustíveis sintéticos, atendendo a demandas comerciais, industriais e de mobilidade.

No Brasil, esse projeto encontra um terreno fértil para prosperar, isso porque, segundo um estudo da Enerdata, o País se encontra em segundo lugar no ranking mundial de produção de energia renovável, com 89,2%, atrás apenas da Noruega, que lidera com 98,5%.

Parceria com a Alemanha e o futuro do Brasil

Atualmente, a Alemanha é um dos países que mais tem investido na produção de H2V, segundo o Portal Hidrogênio Verde, sendo acompanhada por Austrália, Países Baixos, China, Arábia Saudita e Chile.

A aliança Brasil-Alemanha existe desde 2020, com o objetivo de promover oportunidades de negócios entre empresas e instituições brasileiras e alemãs.

Fato é que a vantagem competitiva no setor, alinhada a investimentos de pesquisa, posiciona o País em um ponto estratégico para o cumprimento dos planos de descarbonização e mitigação dos efeitos climáticos no planeta. Conforme retificado no Acordo de Paris, em 2016, a meta brasileira propõe reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) em 37%, comparado aos níveis de 2005, até 2025.

Em paralelo a isso, o professor Rondineli conclui que o Centro de Hidrogênio Verde vem como uma oportunidade para que o Brasil ganhe notoriedade no assunto, tornando-se mais forte no setor e entrando efetivamente no debate ambiental "como um grande protagonista”, finaliza.