A bola que conectou o mundo

Da popularização do rádio à era digital, a mídia esportiva no Brasil se reinventou ao longo das décadas, conectando gerações ao futebol e a eventos como Copa do Mundo
por
Juliana Salomão
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07/10/2024 - 12h

Durante as Olimpíadas de Paris 2024, um dos maiores eventos do mundo, atletas de diversos países se concentram para a conquista da tão sonhada medalha. Jornais, rádios e televisões foram o centro da atenção de toda sociedade por um longo mês. Brasileiros, espanhóis, haitianos, entre outras nações, acompanharam de perto cada detalhe. A cobertura midiática conectou nações inteiras a um mesmo foco: o esporte  

No Brasil, essa conexão foi especialmente forte no futebol. Durante o governo de Getúlio Vargas, o político utilizou o esporte como ferramenta para reforçar a identidade nacional e promover o futebol como símbolo de união e orgulho do povo brasileiro. 

A popularidade do futebol nas décadas de 1930 e 1940 foi aproveitada pelo Estado como ferramenta de propaganda, associando a "identidade verde e amarela" ao esporte. A imprensa da época, alinhada à narrativa oficial, passou a destacar o futebol como um fator com a capacidade de unir a nação. 

O rádio brasileiro, nesta mesma época, estabeleceu uma conexão com o esporte após o presidente Getúlio Vargas autorizar a publicidade no meio. Com essa medida, as emissoras reorganizaram suas programações para alcançar o maior número possível de ouvintes. O futebol, que ganhava popularidade entre as classes trabalhadoras, tornou-se um dos principais atrativos. 

As transmissões de partidas rapidamente conquistaram o público, consolidando o rádio como o principal meio de comunicação esportiva no país. No entanto, esse sucesso começou a ser desafiado nos anos 1960, com o avanço da televisão.  

Com a ascensão da televisão, a primeira transmissão de uma partida de futebol no Brasil ocorreu durante a Copa do Mundo de 1970. Naquela época, as imagens ainda eram exibidas em preto e branco, o que gerava desafios para a visibilidade dos jogos na tela. 

Renata Beltrão, jornalista e museóloga, explica alguns fatores que ajudaram a contornar essa limitação visual durante uma visita ao Museu do Futebol, em São Paulo: “A bola Telstar surgiu em um contexto em que, nos anos 70, a Copa do Mundo foi transmitida ao vivo, pela primeira vez, para o mundo inteiro. A bola tinha uma questão que resolvia um fator da televisão na transmissão. Ela permitia uma visibilidade maior no campo, por conter aqueles hexágonos e pentágonos, branco e preto.” 

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Bola Telstar exposta no Museu de Futebol. Reprodução: Foto/Juliana Salomão 

A inovação da bola Telstar não apenas facilitou a transmissão em preto e branco, mas ganhou milhares de espectadores interessados no esporte. A partir de 1970, as transmissões ao vivo pela televisão transformaram-se no meio mais consumido e um dos mais utilizados para o acompanhamento de eventos esportivos.  

Atualmente, a FIFA continua modernizando na fabricação das bolas de futebol. “As bolas de hoje não têm mais costura e são de outro tipo de material que deixa um pouco mais leve, perfeita, esférica e menos sujeita a deformação durante o jogo.”, comenta Beltrão. 

Das rádios para as mídias sociais 

Apesar da queda de popularidade nos últimos anos, as rádios ainda são muito utilizadas. Com o avanço da televisão e das mídias sociais, o jornalismo e os meios de comunicação passaram a dominar o cenário informativo, devido à interatividade e ao imediatismo de conteúdo das plataformas digitais. 

Muitas emissoras de rádio migraram para o formato digital, investindo em streaming e podcasts. No entanto, plataformas como TikTok e Instagram se destacam por permitir uma troca de informações e comentários durante eventos esportivos, proporcionando uma cobertura mais participativa e em tempo real.  

Esse movimento também reflete no Museu do Futebol, um dos espaços mais importantes da história do esporte, localizado em São Paulo. Ao longo dos anos, a tecnologia e a evolução do próprio futebol transformaram o museu em um ambiente mais dinâmico e interativo. A adaptação às novas formas de comunicação permite que o público explore o acervo de maneira mais imersiva, conectando passado e presente com a mesma instantaneidade e interação que vemos nas redes sociais. 

O rei do futebol brasileiro: Pelé 

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, conhecido como um dos maiores jogadores da história do futebol, marcou a mídia esportiva e internacional desde sua primeira Copa do Mundo, em 1958, quando conquistou seu primeiro título mundial com apenas 17 anos. 

O auge de Pelé coincidiu com o fortalecimento do jornalismo esportivo. Antes de sua estreia na Copa do Mundo de 1958, essa área da comunicação já era relevante, mas ganhou ainda mais força com a ascensão do novo atleta. Pelé passou a ser destaques de reportagens e programas que contavam sobre a sua trajetória e conquistas. 

Na década de 1960, após o sucesso das rádios, a televisão foi o meio que ganhou força e a Copa do Mundo de 1970, transmitida ao vivo, consolidou Pelé como um esportista de alto padrão. Mesmo com imagens em preto e branco, as transmissões aumentaram sua visibilidade, tornando-o um dos primeiros jogadores a se beneficiar desse meio. 

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Camiseta usada na final da Copa do Mundo de 1970. Reprodução: Juliana Salomão/Museu do Futebol 

Apesar de o atacante ter se aposentado sete anos depois, seu legado continua preservado, e o jornalismo esportivo, assim como os meios de comunicação, mantendo a sua memória viva para as novas gerações.